Campo Grande (MS) – A localização geográfica de Mato Grosso do Sul – situado no coração do Continente – sempre foi um fator desfavorável pela distância do litoral Atlântico, a porta de saída dos produtos brasileiros via exportação. Quanto mais longe dos portos, mais caro o frete e menor a margem de ganho dos produtores. Essa realidade muda completamente quando a opção para as exportações deixam de ser via Atlântico e acontecem a partir dos portos do Pacífico.
O assunto foi tema de exposição feita pelo secretário de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar (Semagro), Jaime Verruck, durante o III Seminário de Inovação, Empreendedorismo e Gestão de Pequena Empresa promovido pelo CRA (Conselho Regional de Administração) nesta quinta-feira (17), no Auditório do Sebrae, em parceria com a Associação Nacional de Estudos em Empreendedorismo e Gestão de Pequenas Empresas (Angepe). O evento reuniu empresários, administradores e outros profissionais da área em ambientes separados com painéis concomitantes e incluiu ainda visitas técnicas.
Essa mesma localização geográfica transforma-se no diferencial que vai inverter a importância do Estado, agora posicionado estrategicamente na rota dos portos do Chile e Peru, no litoral do Pacífico, frisou o secretário. Essa é apenas uma solução logística das várias possibilidades que o governo vem trabalhando e que apontam para um futuro promissor para Mato Grosso do Sul. Jaime lembrou que a China é o principal parceiro comercial do Brasil e de Mato Grosso do Sul e a viagem à Ásia via portos do Pacífico é bem mais curta.
O desafio está em concretizar o corredor bioceânico partindo de Porto Murtinho (Brasil), cruzando o Paraguai pela região do Chaco, o Norte da Argentina até chegar em Antofagasta (Chile) com opção para Iquique (Peru). São pouco mais de 1.300 quilômetros, sendo que a maior parte do traçado já tem pavimentação asfáltica e já há projeto em andamento para o trecho restante, dentro do Paraguai. O maior obstáculo – a ponte sobre o rio Paraguai – também já tem plano para sair do papel.
Com a inversão de rota, Mato Grosso do Sul se torna o ponto mais próximo do litoral, no caso o Pacífico, o que favorece os produtos locais quanto ao custo de transporte. Projetos complementares como a ferrovia, a Hidrovia do rio Paraguai com expansão dos portos de Ladário e Porto Murtinho reforçam os investimentos em logística que são a grande aposta do Estado para romper o isolamento e estabelecer um ritmo seguro de crescimento.
Verruck lembrou que os desafios são grandes, não apenas pela limitação financeira do setor público para executar as obras necessárias, como também para vencer os entraves burocráticos das fronteiras de modo a garantir celeridade no transporte das cargas. “Quando o assunto é alfândega, não é fácil falar com quatro países diferentes”, pontuou. E sem o desentrave das fronteiras o corretor é inviável. Para tanto, foi criado uma coordenação que reúne técnicos de universidades e agentes públicos de todos os países envolvidos que trabalham na proposição de soluções. “A ideia é criar a primeira rota alfandegada com uso intenso de tecnologia”, adiantou.
Uma vez concretizado o corredor bioceânico como eixo de transporte de cargas, abre-se uma avenida incomparável para o turismo. “Não há no mundo uma rota que junte as belezas do Pantanal, de Bonito, o Chaco, os Andes, o deserto de Atacama e as praias do Pacífico. É um trabalho audacioso e perfeitamente possível. Estamos chamando de Rota 67, em referência ao prefixo de Mato Grosso do Sul”, disse Jaime. O nome faz referência à famosa Rota 66 que atravessa os Estados Unidos de Leste a Oeste, unindo Chicago a Los Angeles.