A Orquestra Indígena Teko Arandú brilhou no horário nobre da televisão brasileira no domingo, dia 6. Quando o apresentador do programa Domingão do Huck, Luciano Huck, anunciou a apresentação dos músicos do Instituto Ressoarte, de Anastácio, um sonho ambicioso se realizava e coroava com êxito um projeto gestado em 2013 que passou por muitos percalços e ressurgiu com força em 2021, graças ao apoio do Fundo de Defesa e Reparação de Interesses Difusos Lesados (Funles), gerido pela Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc).
O coordenador de Projetos da entidade, Adriano Castro, mestre e doutor em Administração, conta que foi um dos idealizadores da orquestra, há 10 anos, mas as dificuldades enfrentadas no percurso foram reduzindo as atividades até se resumir a uma oficina de violão. Assim estava o Instituto Ressoarte em 2021, quando o Funles lançou o Edital 002/21, destinando R$ 1,6 milhão para fomento de projetos na área social.
O Instituto Ressoarte não conseguiu ser contemplado, mas a boa sorte dos meninos e meninas só estava sendo testada mais uma vez. Como havia recursos disponíveis, o Conselho Gestor do Fundo se reuniu e decidiu ampliar o valor do edital em mais R$ 1,5 milhão. Com isso o projeto da Orquestra Indígena Teko Arandú foi aprovado no dia 3 de dezembro de 2021 e começou os trâmites para transformar lista de compras em shows musicais.
O Funles destinou R$ 100 mil para a Associação Ressoarte adquirir 43 instrumentos musicais e estruturar a orquestra. Entre os instrumentos foram comprados 10 violões, 6 trombones, 6 trompetes, 4 barítonos, 4 bombardinhos, além de pratos, tubas, timbas, agogôs, carrilhos, repiniques. Constava, ainda, no plano de trabalho, seis apresentações que seriam feitas no período de um ano, implantar dois núcleos de formação em música no município, oficinas de violão, percussão e sopro e promover a formação musical de 100 alunos. A prestação de contas foi aprovada sem ressalvas no dia 25 de janeiro de 2023.
Criança Esperança
A realidade da Orquestra Indígena Teko Arandú havia sido totalmente transformada, graças aos esforços dos colaboradores e aos recursos do Funles. Agora era preciso sonhar mais alto. Adriano Castro conta que partiram em busca de mais recursos para poder manter o padrão de atendimento que o projeto havia conquistado com o aporte do Funles. “Só temos apoio do município que dá para pagar o aluguel e a conta de luz”, afirmou.
No ano passado, tiveram a ideia de se inscrever no Programa Criança Esperança, uma campanha de mobilização social da Rede Globo em parceria com a Unesco que arrecada recursos junto à população e empresas e repassa a entidades previamente cadastradas. “Eles pediram informações do projeto e demorou muito, até que há uns dois ou três meses, fizeram contato, mas sem ainda dar certeza. Só tivemos o convite pra participar do programa do Luciano Huck há um mês, pediram pra ensaiar três músicas”, conta Adriano Castro.
A orquestra ensaiou as músicas Chalana (autoria de Mario Zan e Arlindo Pinto), Mercedita (Ramón Sixto Ríos) e Anunciação, de Alceu Valença. Foi essa última a música que a orquestra executou ao vivo no programa de Luciano Huck, acompanhando a cantora Gabi Amaranto. “Estavam encantados, encantados por tudo, felizes por conhecer o Luciano”, resumiu Castro o sentimento que demonstravam os músicos.
Foi a primeira vez que os meninos e meninas viajaram de avião. Estavam em 27, sendo 20 músicos e 7 do grupo de apoio. Embarcaram no sábado para o Rio de Janeiro e ficaram hospedados em um hotel na Barra da Tijuca, próximo aos estúdios da Globo. Tudo era motivo de encantamento para o grupo, que trouxe na bagagem a emoção de participar de um programa de grande audiência da TV brasileira e o desafio de manter viva a chama do projeto para estender a outros adolescentes a mesma oportunidade que receberam.
O Instituto de Arte, Cultura e Desenvolvimento – Ressoarte já formou em música mais de 500 alunos, indígenas e não-indígenas, desde sua criação em 2013. Para integrar o projeto é preciso estar matriculado em uma escola da rede pública de ensino e comprovar frequência às aulas. O nome da orquestra – Teko Arandú – é da língua guarani-kaiowá e em português significa “modo sábio de viver”.
O Funles
O Funles foi instituído em Mato Grosso do Sul pela Lei Estadual nº 1.721/1.996 e regulamentado pelo Decreto Estadual nº 10.871/2002. Recebe recursos como compensação por danos causados ao patrimônio público e social, ao meio ambiente, ao consumidor, à honra e à dignidade de grupos raciais, étnicos ou religiosos, à ordem urbanística ou a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico. O Conselho Gestor do Funles é constituído por representantes da Semagro, Seinfra, Segov, Sedhast, MPE, OAB, Instituto de Capoeira Cordão de Ouro, Instituto da Mulher Negra do Pantanal, Fundação Neotrópica Brasil, e a Presidência exercida pelo secretário de Estado da Semagro.