Pré-abate geralmente se refere a um conjunto de quatro operações distintas: programa de retirada dos lotes, corte da ração, apanhe e transporte. A fim de preservar a integridade física das aves vivas ao longo do processo, é preciso gerenciar adequadamente cada uma dessas operações.
Operação 1: Programação de Retirada
Esta fase abarca a logística do transporte dos frangos vivos. Aqui, os produtores são informados do dia e hora em que suas aves serão retiradas; da hora do corte da ração; do número de aves por gaiola e do horário de chegada de cada carga viva à planta.
A programação deve ser apoiada por uma logística e realizada por funcionários capacitados, a fim de assegurar o bom funcionamento do programa de retirada, com o intuito de evitar falta de frango no frigorifico e manter o percentual de mortalidade de transporte dentro das metas.
Operação 2: Corte da Ração ou Jejum
O corte da ração, ou jejum pré-abate, é concebido para limpar o sistema gastrointestinal – SGI das aves para diminuir o risco de contaminação fecal durante o processamento, especialmente durante a depenagem e a evisceração, sobretudo a automática. O corte da ração, quase com certeza, é a mais complexa das quatro operações, dado que diversas variáveis podem interferir nos resultados: padrão de alimentação das aves; disponibilidade de água; composição da ração; temperatura do aviário; gerenciamento pré-abate; apanhe diurno ou noturno e sazonalidade.
O programa de retirada de ração deve ser desenhado de forma a manter a contaminação fecal e a quebra de peso vivo a níveis mínimos. Aves sujeitas a um programa de retirada de ração que seja curto demais sofrerão pouca ou nenhuma quebra, porém é muito provável que a contaminação fecal durante o processamento seja elevada. Dependendo de sua incidência, a contaminação fecal pode acarretar redução na velocidade das linhas de abate e/ou evisceração, aumento do índice de condenação e exigência de horas extras para cumprir com o abate do dia.
Por outro lado, aves expostas a um jejum longo são menos suscetíveis à contaminação fecal na planta, mas certamente sofrerão uma quebra significativa. No decorrer do jejum, as aves sofrem uma quebra que é inerente ao processo e que pode variar de 0,25% a 0,45% de seu peso corporal por hora sem ração, valores que são bastante influenciados pelas temperaturas às quais as aves estão expostas.
Com essas questões em mente, as empresas geralmente desenham seu programa de jejum para inserir todas as aves em uma “janela de oportunidade”, que compreende um período de oito a doze horas, contado do corte da ração em granja ao momento em que são penduradas para o abate. Devido às condições operacionais serem únicas e particulares a cada empresa, ou frigorifico, alguns deles podem obter resultados satisfatórios com um tempo de jejum de nove horas, ao passo que outros podem requerer de até 12 horas. O sucesso do programa de retirada de ração depende de sua concepção cuidadosa, do gerenciamento habilidoso, do monitoramento contínuo, bem como de uma comunicação proativa e eficiente entre as equipes de campo e frigorifico.
Operação 3: Apanhe
O apanhe é uma operação de alto risco ao bem-estar das aves. Para proteger sua integridade, os aviários devem ter sido preparados bem antes dessa tarefa. O chão deve estar livre de bebedouros e comedouros; as aves devem ser dispostas em partições ao longo do aviário para evitar o amontoamento, arranhões e mortalidade; a iluminação deve ser configurada adequadamente, e cortinas, nebulizadores e ventiladores devem ser ajustados conforme as condições ambientais no momento do trabalho. Além disso, o método deve ser o mais humanitário possível e deve cumprir com as regulamentações de cada país ou empresa.
Qualquer que seja a técnica de apanhe adotada, a empresa deve treinar suas equipes a fim de que as aves sejam manuseadas de forma delicada para assegurar-lhes seu bem-estar e garantir qualidade máxima às carcaças.
Por outro lado, a falha no emprego de técnicas adequadas acarreta amontoamento das aves, sufocamento e lesões, causando mortalidade e perda de valor econômico dos produtos no frigorifico. Para garantir o manuseio humanitário, o número máximo de aves por gaiola não deve exceder o que for prescrito pelas regulamentações nacionais e/ou das empresas. As gaiolas devem ser mantidas em boas condições físicas a fim de evitar danos aos frangos. Gaiolas danificadas devem ser consertadas ou eliminadas, se preciso. As empresas também devem garantir que as portas e travas das mesmas funcionem adequadamente, garantindo a segurança dos animais durante o transporte.
Expor as aves a altas temperaturas durante o carregamento contribui para um aumento do estresse térmico, com um possível aumento da mortalidade. Molhar a carga viva antes do transporte provou ser eficaz na diminuição da mortalidade. Contudo, essa técnica vem perdendo espaço para caminhões- ventiladores, cujo uso durante o carregamento provou ser mais eficaz. Estacionados ao lado dos caminhões de carga viva, eles sopram ar fresco e uma névoa de água sobre a carga, mantendo as aves resfriadas enquanto o caminhão é carregado.
Operação 4: Transporte
As cargas vivas devem ser entregues em tempo hábil na planta para permitir que as aves se recuperem do estresse do transporte antes do abate. Consequentemente, paradas no decorrer do percurso – a menos que sejam necessárias – devem ser evitadas de todas as formas.
A carga viva exige um transporte suave para evitar danos às aves e mortalidade ao longo do trajeto. Os requisitos para garantir uma viagem confortável da granja à planta devem ser adotados localmente, uma vez que dependerão de condições climáticas, estação do ano, distância entre os aviários e a planta e da qualidade das estradas – parâmetros que interferem no bem-estar dos frangos no trajeto.
As empresas devem ter em mente que os frangos vivos são muito sensíveis à temperaturas fora de sua zona de conforto. Dessa forma, os encarregados da pendura devem estar cientes de sempre zelar pelas áreas mais vulneráveis da carga. No calor, o topo da carga deve estar protegido da incidência direta do sol; e, no frio, é necessário proteger tanto a frente quanto as laterais da carga.
As gaiolas dispostas nos caminhões devem formar dois blocos separados, longitudinalmente, por um corredor de aeração. Esse corredor propicia uma livre circulação de ar durante o transporte, auxiliando na remoção do ar quente do interior da carga e, assim, diminuindo a probabilidade de estresse térmico e mortalidade.
Considerações finais
Como visto acima, as operações de pré-abate são uma forte ameaça à integridade física das aves. Todavia, colocar estas operações dentre as prioridades das empresas avícolas, contar com o suporte de profissionais conhecedores do assunto, assim como monitorar de perto e constantemente as quatro operações, fará com que possíveis perdas associadas a essa etapa sejam minimizadas, ou até mesmo eliminadas.
Por Fabio Nunes, CARNETEC