Um dos maiores desafios da agricultura hoje é conseguir aumento da produção de alimentos sem causar impactos sociais e ambientais. Pouca gente duvida da importância de garantir a sustentabilidade da cadeia produtiva, preservando o meio ambiente, promovendo qualidade de vida e gerando renda. Mas como dar conta desse desafio? Adotar boas práticas dentro e fora da lavoura, aliando conservação do meio ambiente e respeito aos trabalhadores rurais, é fundamental para garantir que a agricultura alimente as próximas gerações.
Segundo Ricardo Shirota, professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP) especializado em economia dos recursos naturais, entre as práticas agronômicas mais utilizadas estão o plantio direto, integração lavoura e pecuária, adubação verde, rotação de culturas, controle da erosão e manejo integrado de pragas. “Essas ações minimizam os impactos da atividade, pois permitem o uso mais eficiente de defensivos e adubos químicos, além de manter a saúde do solo e dos mananciais”, diz.
Além dos benefícios ambientais, essas práticas agronômicas têm a vantagem de reduzir os custos de produção, se tornando ainda mais atraentes para os agricultores. “É importante que as ações sociais e ambientais gerem também retorno financeiro ao produtor”, afirma Shirota.
Certificações Agrícolas
A adoção de outras medidas, como o uso da agricultura orgânica e a obtenção de certificações, também pode agregar valor a produtos agrícolas e abrir novos mercados (na Europa e na Ásia, por exemplo). Segundo o professor Shirota, quanto mais rico é um país e quanto mais informada é a sua população, maior é a preocupação com os produtos consumidos dos pontos de vista ambiental e social. “Essas pessoas estão dispostas a pagar mais. E essa dinâmica se torna interessante para o agricultor que optar por focar nesses nichos de mercado.”
Produzir em harmonia com o ambiente e a sociedade requer algumas exigências legais. O gestor ambiental Rafael Jó Girão ressalta, entre elas, o respeito às leis trabalhistas e de segurança no trabalho, ao cadastro ambiental rural (CAR), às áreas de preservação permanentes (APP) e reserva legal (RL). O produtor que quer adotar boas práticas – mas não sabe como – pode procurar órgãos públicos de assistência rural, universidades e ONGs que desenvolvam projetos de apoio. “Outra alternativa é escolher a melhor opção de certificação agrícola de sustentabilidade e adotar as normas da certificadora”, orienta Girão.
Muitas fazendas brasileiras de café, que exportam a maior parte de seus grãos, têm ao longo dos anos elevado a adoção de boas práticas e de certificações de processos e de produção. A empresa AC Café possui duas propriedades em Araxá (MG) com a certificação socioambiental Rainforest Alliance, que atesta a melhoria contínua da gestão, o aumento da eficiência e de produtividade, o cumprimento da legislação ambiental e trabalhista, a conservação dos recursos naturais e a garantia de direitos e bem-estar aos trabalhadores rurais.
“Entre as ações adotadas estão a recirculação da água, o reaproveitamento da palha do café, a utilização de placas solares e a coleta seletiva”, afirma Andrea Lorena, coordenadora da empresa. A AC Café mantém também um trabalho de rastreabilidade da fauna nativa da região – com mais de 500 registros de 161 espécies em uma área total de preservação de 2 767 hectares – e projetos de educação ambiental e incentivo à leitura nas escolas públicas locais. “A empresa elabora questionários anuais e visitas bimestrais nas comunidades do entorno, que colaboram no desenvolvimento dessas atividades.”
Manual de boas práticas
Em 2014, a Monsanto lançou seu Manual de Boas Práticas Socioambientais. Elaborado em parceria com especialistas do setor, o material reúne dados sobre a sustentabilidade na agricultura brasileira. “O manual traz informações sobre boas práticas trabalhistas e ambientais para auxiliar o agricultor na tomada de decisão e na gestão da sua propriedade”, afirma Brunno Dias, analista de responsabilidade social corporativa da Monsanto. Ele ressalta ainda que a legislação ambiental e trabalhista brasileira está entre as mais protetivas do planeta.
Disponível gratuitamente na internet, o manual ganhou em 2015 uma versão na forma de um aplicativo para dispositivos móveis, que inclui uma fazenda virtual com ícones que explicam as exigências legais de maneira breve e interativa. A publicação também é distribuída nos Dias de Campo de Sustentabilidade, promovidos pela Monsanto e por empresas parceiras. Nesses eventos, técnicos apresentam práticas ambientalmente corretas e mostram quais as dificuldades, oportunidades e vantagens que o produtor tem ao adotá-las.
“Ainda há muita coisa a ser feita, mas os produtores brasileiros são um exemplo para o mundo”, afirma Brunno. “Se o país é um dos líderes na produção de alimentos e, ao mesmo tempo, preserva 65% de sua vegetação natural, o agricultor é um dos principais responsáveis.”
Muita gente não sabe, mas um dos mais eficientes programas de respeito ao meio ambiente vem do setor de defensivos agrícolas – ou agrotóxicos, como são popularmente conhecidos. Trata-se do Sistema Campo Limpo (logística reversa de embalagens vazias), formado por agricultores, fabricantes e canais de distribuição. Desde sua implantação, em 2002, a iniciativa já encaminhou para o destino ambientalmente correto mais de 260 mil toneladas de embalagens vazias de agrotóxicos em todo o Brasil.
Cerca de 94% das embalagens plásticas de defensivos comercializados no país têm destino certo – a maior parte é reciclada e as demais são incineradas em locais autorizados. Esse índice transforma o Brasil em líder e referência mundial no assunto, seguido pela França, com 77%, e pelo Canadá, com 73% (os Estados Unidos ocupam o 9º lugar do ranking, com 33%).
Flávia Romanelli – Draft