Mudas em estande durante a Feicomex: agricultores investem em diversificação de lavouras e produtos orgânicos para conquistar consumidores
A necessária diversificação da produção agrícola – defendida há décadas como contraponto à monocultura – pode surgir, quem diria, do interesse do consumidor. A adequação do estilo de vida a padrões mais saudáveis tem estimulado produtores, sobretudo os pequenos, a cuidar melhor do solo e a respeitar o tempo da natureza. A mudança, ainda modesta, pôde ser observada durante a Feira de Inovação e Negócios da Agricultura Familiar Organizada para Mercados Interno e Externo (Feicomex), que ocorreu durante a última semana em Jaú.
De um lado, agricultores familiares ou cooperativas interessados em inserir seus produtos no mercado consumidor. De outro, clientes ávidos por frutas, verduras, legumes e carnes mais saudáveis.
O consultor de agronegócios do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Marcelo Rondon Bezerra, acredita que há um fator geracional nesta nova concepção. “Hoje as crianças estão comendo melhor. Em outra vertente, os idosos também, por conhecimento de vida ou necessidade de saúde”, observa.
Embora esteja relacionada às pequenas propriedades, a agricultura familiar é hoje um gigante que sustenta 77% dos empregos no setor agrícola, segundo relatório sobre a América Latina, produzido pela Organização das Nações Unidas (ONU).
A equação só não fecha por causa da dificuldade de inserção no varejo.
Cooperativas e coletivos agrícolas têm sido a alternativa encontrada para diminuir custos na aquisição de matéria-prima e socializar a venda de vários produtos ao mesmo tempo.
Para a Feicomex, o agricultor Carlos Henrique Silva levou doces, compotas, cachaças e molhos fabricados em coletivo de oito famílias de São Lourenço da Serra, no Vale do Ribeira. Cada família encaminhou sua produção, que em Jaú foi representada por ele. Sua especialidade, que é a criação de patos e marrecos, era representada por outro membro do coletivo em exposições pelo Estado.
“É muito caro para o produtor rural fazer duas coisas importantes: produzir e vender. Se nós não nos reuníssemos e falássemos em dividir esse custo, não estaríamos aqui”, afirma.
A preocupação com a qualidade e com a baixa escala de produção possibilita um bom nicho. O coletivo ainda estimula o uso de plantas alimentares não convencionais (Panc), como o cambuci, bastante conhecido na região.
A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) mantém programa de conservação de hortaliças tradicionais, bastante conhecidas antigamente – também com foco na pequena escala (leia texto).
Cestas em domicílio
A aliança entre manejo sustentável e alimentação saudável encontra guarida no setor de orgânicos, que possui 2,2 mil unidades de produção na região Sudeste (veja quadro).
Em Jaú, a Reserva Ecológica Amadeu Botelho trabalha com esse cultivo há 15 anos. O administrador Antônio Carlos Botelho Müller Carioba explica que a propriedade também atua em parceria com outros grupos certificados – o que possibilita um intercâmbio de alimentos. Semanalmente, a reserva recebe pedidos e entrega cestas em domicílio.
“As questões ambientais estão exigindo mais do agricultor”, menciona. “Se tiver mais pessoas comprando orgânico, haverá mais gente produzindo.”