As agtechs, soluções tecnológicas para o agronegócio, estão mudando a forma de gerenciamento das propriedades rurais, por meio de imagens de satélite, sensores inteligentes e Big Data (volume de dados armazenados que impactam os negócios no dia a dia). Estes recursos traduzem dados em informações úteis e recomendações personalizadas para o agricultor, permitindo uma tomada de decisão mais precisa e rápida nas propriedades.
Outras iniciativas em digital farming (tecnologias digitais agrícolas) são o uso de aplicativos para tablets e smartphones, estações meteorológicas, armadilhas de insetos, drones para a captura de imagens, telemetria (envio de informação via comunicação sem fios – wireless), modelagem de previsão climática, entre outras ferramentas de agricultura de precisão.
Para se ter ideia sobre a evolução desse setor, nos últimos cinco anos, as startups do agro cresceram 70%, segundo levantamento da Associação Brasileira de Startups (ABStartups). Em 2015, por exemplo, a expansão foi de 18%, em comparação com o ano anterior. De acordo com a pesquisa, tecnologia e agronegócio são os segmentos com maior potencial para atrair investidores.
Com o objetivo de discutir o papel das tecnologias no campo, apresentar novidades e tendências em digital farming, o Summit Agronegócio Brasil 2016, promovido pelo Estadão em parceria com a Federação de Agricultura de São Paulo (Faesp), reuniu especialistas brasileiros e internacionais na segunda-feira, 21 de novembro, em São Paulo, capital.
O presidente da Faesp, Fábio Meirelles credita o crescimento das tecnologias digitais agrícolas à modernização do produtor rural. “As startups e todo o sistema geram um novo conforto, uma nova perspectiva, desde que estejam adequadamente implantados e ajustados em uma economia sustentável”, disse.
Presente ao evento, o governador de São Paulo Geraldo Alckmin defendeu uma política de crédito e de estímulo que permita reduzir os custos e melhorar a competitividade do agronegócio. Segundo ele, o setor é importante na geração de empregos no Brasil e vive um momento favorável, graças ao câmbio e à competitividade. “O agronegócio vai bem, as exportações cresceram e novos mercados estão sendo conquistados, como os Estados Unidos e a Ásia para a carne.”
EXPORTADOR DE STARTUPS
“A agricultura faz parte da vocação do nosso país, que poderá criar a demanda por soluções inovadoras como as que as agtechs têm a oferecer para resolver problemas reais que facilitem a tomada de decisão do produtor e da cadeia agrícola, dentro e fora da porteira”, comentou Almir Araújo Silva, gerente de Marketing Digital para América Latina da Basf, durante o painel “O Brasil Exportador de Startups”.
Silva acredita que o futuro das startups de agro estão no Brasil, “país que tem potencial para se tornar exportador de empreendimentos com foco no agronegócio”. Porém, esclareceu: “Primeiro, precisa criar suas próprias soluções tecnológicas para atender melhor o produtor rural. A tecnologia está no pequeno, no médio e no grande produtor. É preciso profissionalizar o ecossistema de startups.”
De acordo com Silva, “o agronegócio é uma fábrica a céu aberto, os riscos climáticos são enormes, a detecção de pragas e doenças de forma preventiva é fundamental e a escassez de recursos naturais, somados à responsabilidade de alimentar o mundo com um crescimento populacional em bilhões, com quase a mesma quantidade de área plantada, completam os desafios do setor”.
Para o especialista, as empresas visualizam nas startups um modelo eficiente e rápido a fim de auxiliar os produtores na redução desses riscos. “A Basf também acompanha esse movimento”, disse Silva, que prevê, para breve, muitas novidades tecnológicas voltadas para o agro em e-commerce, aplicativos, drones, redes sociais e ferramentas de comunicação.
DIGITAL FARMING
O diretor de Digital Farming da Bayer, André Salvador, afirmou que a empresa acredita que os produtores utilizam muito bem os produtos, mas precisam incrementar esse uso. “A digital farming pode otimizar a aplicação dos produtos de proteção de cultivos e fertilizantes em países industrializados e trazer conhecimentos especializados para os países mais pobres do mundo”, afirmou o executivo, que participou do painel “Big Data e Inteligência Artificial: como a agricultura digital está transformando as fazendas”.
“A partir da necessidade de dimensionar o clima, a empresa construiu uma plataforma de alertas que está disponível para 5.570 cidades e cinco culturas principais (soja, milho, algodão, café e cana-de-açúcar). São 23 algoritmos que ajudam o agricultor a enxergar algum problema que possa afetar a lavoura em um período de 14 dias e prevenir”, explicou.
Conforme Salvador, a previsão vale por 14 dias, sendo três dias de assertividade muito boa, depois, conforme os dias vão passando, as informações ficam menos precisas e são ajustadas. “Utilizamos como referência o clima de um ano anterior, parecido com o atual, e o modelo climático é ajustado com base nessa informação.”
No fim deste mês, a plataforma terá um aplicativo para o acesso às informações sobre clima. “Para isso, dividimos o Brasil em 360 mil quadradinhos, de cinco por cinco quilômetros, o que vai nos permitir sair do nível de 5.570 cidades para o nível de fazendas, ou seja, fornecer o clima da propriedade”, anunciou o executivo.
O serviço de cidades é gratuito, mas, com a melhoria da informação, a ideia é cobrar uma pequena taxa que será transformada em pontos pelo programa da empresa, o AgroService, que tem, atualmente, 80 mil agricultores cadastrados.
Em relação às plantas daninhas e aos nematoides, a empresa tem imagens de satélites e de drones coletadas em mais de 200 mil hectares para mostrar ao agricultor o que poderá acontecer no próximo ano se ele não tomar providências em relação ao controle, além de facilitar o monitoramento dos pontos críticos.
O programa global de apoio a pesquisas da Bayer, Grants4Targets, oferece até 50 mil euros para pesquisadores, sejam eles de instituições científicas, universidades ou startups do mundo todo, com o propósito de encontrar soluções inovadoras para a agricultura, com foco no controle de plantas daninhas, doenças e pragas que podem comprometer a produtividade das lavouras.
FINANÇAS DO CAMPO
Em palestra no painel “As Finanças do Campo”, Juliana Jardim, gerente de Commodities e Barter da Monsanto afirmou que 71 % do financiamento da safra virão de bancos e de capital próprio do agricultor, e 29% de outros agentes, com destaque para as operações de barter (troca de insumos por grãos, realizada entre agricultores, revendas e tradings).
De acordo com Juliana, o barter atende pequenos, médios e grandes produtores, com diferentes financiadores: indústria para distribuidores, indústrias para agricultores, distribuidores e cooperativas para agricultores e tradings para agricultores. “Também temos visto a entrada de bancos nesse tipo de operação”, disse, destacando como vantagens dessa modalidade a possibilidade de trava de custo da produção e a mitigação dos riscos de câmbio.
De acordo com Juliana, outra alternativa para a captação de recursos é o Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA), cujos estoques aumentaram de R$ 2 bilhões em 2015 para R$ 6 bilhões em 2016. “Esta modalidade tem apresentado bastante atratividade, seja para financiamento das próprias empresas agrícolas ou para o repasse aos seus clientes. É livre de imposto de renda e está disponível também para pessoas físicas (agricultores), mas precisa de escala para se viabilizar”, ressaltou.
Por equipe SNA/SP