Um método computacional associado a sistemas de informações detecta épocas e locais com condições favoráveis à ocorrência da sigatoka-negra em bananais de forma mais fácil, segura, rápida e abrangente, facilitando o controle da doença, com geração de ganhos econômicos e redução de impactos ambientais para o produtor. O método permite conhecer os locais, em escala de propriedade, com maior probabilidade da ocorrência da doença, relacionada às condições climáticas e a variabilidade espacial da posição das plantas na região produtora.
O usuário do sistema, que pode ser um consultor especializado ou o próprio produtor, receberá do programa um mapa de prescrições de aplicações de fungicida, o qual indica o volume da aplicação, sua localização e as melhores épocas para a ação. O modelo minimiza uso da energia e economiza os produtos aplicados, o que além de benefícios financeiros reduz consideravelmente os impactos ambientais, segundo o responsável pelo desenvolvimento do sistema, o pesquisador Paulo Cruvinel, da Embrapa Instrumentação (SP).
A sigatoka-negra é considerada a doença mais severa e destrutiva em todas as regiões produtoras de banana do mundo. Métodos tradicionais de controle da doença são subjetivos, mais demorados, difíceis de manejar e pontuais, não permitindo em geral uma abordagem sobre toda uma área cultivada.
O modelo desenvolvido pela Embrapa e parceiros foi licenciado para a empresa R3ZIS S/A, do Rio de Janeiro, no começo do mês de outubro. A partir de agora, a empresa poderá montar e adequar sistemas, baseados no modelo computacional transferido, para subsidiar os produtores agrícolas ou administradores de áreas de bananais na previsão de períodos considerados favoráveis à ocorrência da doença para a promoção de processos de controle com maior eficiência e previsibilidade.
“A transferência de know-how em modelo de risco para tratativas da sigatoka-negra em escala de propriedade poderá auxiliar o setor produtivo da banana, e ser diferencial para o Brasil, assim como também para os produtores africanos, entre outros”, avalia o diretor da R3ZIS Paulo Manoel Lenz César Protásio.
De acordo com Cruvinel, há uma expressiva demanda por tecnologias e conhecimentos que possam minimizar os efeitos provocados pelas doenças fúngicas que se encontram presentes em vários países produtores de bananas. “O método poderá servir como subsídio para implementação de sistemas de alertas, programas de controle da doença, de forma a otimizar o uso de energia, principalmente reduzindo a utilização de fungicidas químicos, o que reflete em ganho econômico e ambiental”, lembra o pesquisador.
Ele também lembra que as iniciativas de controle da doença devem estar associadas com planos de contingências que devem ser colocados em execução pelo produtor com base no estágio de desenvolvimento da sigatoka-negra e do processo de monitoramento.
Embora a doença do mal-de-sigatoka acarrete danos qualitativos e quantitativos, podendo chegar a perdas de até 100% na produção de cultivares como Prata, Maçã, d’Angola e as do subgrupo Cavendish, o pesquisador explica que sistemas de controle tradicionais têm sido realizados por meio de pulverizações alternadas de fungicidas sistêmicos, os quais são determinados em acompanhamentos semanais.
O pesquisador considera que um sistema de previsão bioclimático é uma ferramenta de grande valor para se conhecer a severidade da doença em diferentes áreas de produção ou estações do ano, de forma a viabilizar um modelo de decisão que indique o momento correto da aplicação de fungicidas de modo localizado e em taxa variada, o intervalo de aplicação e o grupo químico dos fungicidas mais apropriados para cada época do ano.
Sigatoka-negra
A sigatoka-negra é causada pelo fungo Mycosphaerella fijiensis e é considerada por estudiosos uma das mais importantes doenças da bananeira no mundo, sendo a que mais preocupa o setor bananeiro brasileiro. Os sintomas causados pela evolução das lesões produzidas pela igatoka-negra se assemelham aos decorrentes do ataque da sigatoka-amarela, também ocorrendo a infecção nas folhas mais novas.
Os primeiros sintomas aparecem na face inferior da folha como estrias de cor marrom, evoluindo para estrias negras. Os reflexos da doença são sentidos pela rápida destruição da área foliar, reduzindo-se a capacidade fotossintética da planta e, consequentemente, sua capacidade produtiva.
No Brasil, desde a sua constatação em 1998, a doença tem gerado apreensão, tanto pela sua severidade como também pela importância da cultura para o País.
Metodologia
O modelo computacional desenvolvido integra diferentes ferramentas e técnicas das áreas de modelagem, tecnologia de informação, geoprocessamento, sistemas de posicionamento global e variações climáticas, sendo as mais consideradas mais a precipitação acumulada, temperaturas máxima e mínima, umidade relativa, duração do período de molhamento foliar, índice de reflectância e estágio de evolução da doença.
Para desenvolver o modelo, foram utilizadas funções polinomiais para representar as variáveis que compõem o risco de aparecimento da doença. “As funções nada mais são que um tipo particular de relação que possuem uma propriedade específica. Um polinômio é uma expressão algébrica formada por monômios e operadores aritméticos. O monômio é estruturado por números (coeficientes) e variáveis (parte literal) em um produto e os operadores aritméticos podem ser representados por soma, subtração, divisão, multiplicação, ou mesmo uma potenciação”, explica Cruvinel.
De acordo com ele, logo a vulnerabilidade das plantas decorre de fatores intrínsecos da própria planta e de variáveis exógenas, ou seja, causas externas. “A partir da organização dessas variáveis é estabelecido uma Figura de Risco com a integração das variáveis e análise das probabilidades de ocorrências do risco da sigatoka-negra em três níveis – baixo, médio e alto”, diz.
O risco integrado é fruto da relação das probabilidades sobre as faixas de valores das variáveis consideradas e que existe uma correlação entre as condições dessas variáveis e o desenvolvimento da sigatoka-negra. Para ele, o estabelecimento da figura de risco integrado colabora com mais um passo para o auxílio ao processo de tomada de decisão na gestão de risco de culturas agrícolas. “Os modelos estabelecidos poderão ser usados em programas de controle da sigatoka-negra, de forma a minimizar impactos ambientais e viabilizar ganhos econômicos para o produtor”, avalia Cruvinel.
Cadeia
No País, a cultura da banana está presente na maioria dos estados brasileiros, sendo que a cadeia produtiva é composta principalmente por pequenos produtores. As principais regiões produtoras brasileiras são Vale do Ribeira (SP), norte de Minas Gerais, norte de Santa Catarina e Juazeiro do Norte (BA), Petrolina (PE). Segundo os dados da Food and Agriculture Organization (FAO), o Brasil é o terceiro maior produtor mundial de banana, com 6,4 milhões de toneladas, atrás do Equador (7,5 milhões) e da Índia (16 milhões). Mesmo com diferenças regionais, a banana brasileira tem importância e relevância na pauta de exportação de produtos agrícolas do Brasil.
A produtividade brasileira média ainda é baixa, apenas 12,5 toneladas por hectare, diante do desempenho dos outros países que lideram o mercado global, como a Costa Rica, com uma produtividade de 46,6 t/ha. Segundo os dados da FAO, a cultura cobre 508 mil hectares do território brasileiro, enquanto a Costa Rica, com seus 45 mil hectares, tem o triplo da produtividade brasileira e uma produção três vezes menor.
A gestão de riscos permite abordar o marco da segurança alimentar e da segurança do alimento, incluindo a redução de riscos climáticos, riscos de produção, riscos econômicos, riscos ambientais e outros. A R3ZIS tem atuado no monitoramento avaliativo de culturas agrícolas por meio de projetos que envolvem planejamento, monitoramento e avaliação em relação a conceitos e práticas de riscos agrícolas.
Joana Silva (MTb 19.554/SP)
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