Muitos criadores de gado no interior da Austrália, o chamado Outback, fazem parte de um experimento que usa dados coletados por satélites da Agência Nacional da Aeronáutica e do Espaço dos Estados Unidos, a Nasa, para gerenciar os rebanhos.
As fazendas na Austrália são tão grandes e tão remotas que os fazendeiros raramente visitam as partes mais afastadas de suas propriedades. Eles veem apenas cerca de 2% de suas terras com frequência. O benefício de usar satélites e outros dados coletados remotamente é que os criadores podem monitorar o gado no pasto.
A Undoolya Station, a fazenda de gado mais antiga do Território do Norte, que, com seu rebanho de cinco mil cabeças, chegou a ter 20 empregados, hoje é tocada por apenas duas pessoas: Ben Hayes, de 43 anos, e a esposa dele, Nicole, de 42. Helicópteros há tempos já substituíram os cavalos na tarefa da arrebanhar o gado e, agora, até eles podem acabar sendo aposentados após uma experiência bem-sucedida com a mais recente tecnologia disponível para o setor de agronegócios.
O projeto no interior australiano é o primeiro do mundo a contar apenas com a tecnologia para monitorar gado de corte em áreas remotas, de acordo com uma agência do governo que está realizando a experiência em cinco fazendas. Os satélites coletam imagens diárias de cada área de 76 metros quadrados das fazendas. No solo, estações automáticas pesam os animais cada vez que eles vão ao bebedouro.
Os dados são analisados por um programa de computador e enviados para os fazendeiros. Eles podem, então, verificar se o pasto é nutritivo o suficiente ou quando, exatamente, cada animal atinge o peso ideal para o mercado.
O uso da tecnologia no deserto também tem seus problemas. As temperaturas de mais de 40 graus Celsius podem afetar os painéis solares que geram energia para as balanças de pesagem e também os sensores eletrônicos colocados nas orelhas dos animais.
Tempestades de areia também são frequentes na região. E bandos de cacatuas — um papagaio nativo — frequentemente mastigam os fios elétricos que conectam o equipamento.
Mas convencer muitos fazendeiros dos benefícios da tecnologia talvez seja o trabalho mais difícil, diz Sally Leigo, que lidera o time de pesquisadores da iniciativa do governo australiano para encorajar o uso de dados coletados remotamente.
No começo, alguns não acreditavam que o gado acostumado a ficar em grandes trechos de terra sem contato humano pudesse usar as balanças de pesagem, que requerem que os animais atravessem um portão estreito para acessar os bebedouros, diz ela.
Grey diz que há gente que “sequer vai tocar” na tecnologia. “Mas nós podemos avaliar como ela faz diferença, e ela está rendendo mais quilos de carne.”
A Austrália só fica atrás do Brasil entre os maiores exportadores de carne bovina do mundo. Legisladores e fazendeiros acreditam que o país poderia se tornar um importante fornecedor para a Ásia, onde as pessoas estão cada vez mais acrescentando proteína às suas dietas.
Entretanto, o ambiente frágil do deserto australiano tem sido um obstáculo aos esforços para aumentar a produtividade dos rebanhos e das lavouras da região. Uma boa parte do norte da Austrália é vulnerável à falta de água. Uma seca que afetou a área entre 2001 e 2009 forçou muitos fazendeiros a abandonar suas terras para sempre e contribuiu para o aumento das dívidas agrárias. Especialistas dizem que a tecnologia pode ajudar a conquistar o terreno estéril da região, que em algumas partes se parece mais com Marte do que com a Terra.
Fonte: The Wall Street Journal, resumida e adaptada pela Equipe BeefPoint.