Mato Grosso do Sul dá mais um passo rumo à meta de tornar-se Estado Carbono Neutro em 2023. Com a instituição do MS Renovável (Plano Estadual de Incentivo ao Desenvolvimento das Fontes Renováveis de Produção de Energia), pelo governador Eduardo Riedel, a administração estadual fomenta a geração de energia solar, de biomassa, de biogás e, agora, o Estado entra na era do biometano produzido a partir de dejetos de suínos. Trata-se de um ecossistema inovador para a produção do gás, sendo o primeiro do tipo instalado no Brasil e que foi apresentado na terça-feira (18) na SF Agropecuária, em Brasilândia, juntamente com a chegada e lançamento do primeiro trator movido a biometano do País. O evento contou com a participação de equipe técnica da Semadesc (Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação), com o gestor de suínos Rômulo Gouveia e o gestor de avicultura, Rubens Flávio Mello Correa.
A SF Agropecuária é uma das propriedades rurais pioneiras na utilização de dejetos de suínos no abastecimento de energia por meio de geração distribuída, abate 188 mil animais por ano e conta com diversas atividades e um portfólio diversificado. Entre essas atividades estão s suinocultura, a pecuária, a agricultura e a geração de energia elétrica. O suinocultor Fábio Barros, diretor da SF é o idealizador do trabalho. “Estamos com este sistema no caminho do Carbono Neutro”, citou lembrando que que a fazenda é incentivada pelo Programa Leitão Vida, no estágio avançado.
Ele destacou que a fazenda faz a produção circular ou seja aproveita os dejetos dos suínos e bovinos para fertirrigação e adubo. “Nossa ideia é fazer a transformação do biogás em biometano pensando em sustentabilidade, ser amigo do meio ambiente. Temos que trabalhar sustentabilidade, economia e combustível limpo e renovável. O projeto é autosustentável e traz economia”, enfatizou.
Neste processo ele destaca os incentivos do Governo do Estado. “O Governo que dita as regras. Ele que cria. Temos aqui um grande apoio do Governo que é o programa Leitão Vida. Vendemos 160 mil cevados por ano e destes cerca de 80 mil são incentivados. Então o retorno é muito bom”, destacou.
Para o secretário Jaime Verruck, da Semadesc, o ecossistema é a materialização de uma proposta que começou ainda em 2015, quando o Governo lançou a meta do Estado Carbono Neutro 2023. “É a teoria que se torna prática e fecha um ciclo virtuoso de produção sustentável de metas almejadas pelo Governo do Estado”, ressalta.
De acordo com o titular da Semadesc, a iniciativa atende a proposta do Governo de ser sustentável e Verde. “O aumento da demanda por energias renováveis, o biometano produzido pela nova solução tem potencial para se tornar uma alternativa viável ao diesel e outros combustíveis fósseis. Além disso, a produção de biometano a partir de resíduos de suínos contribui para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, tornando a solução ecologicamente correta. Além disso este tipo de inovação está presente nos programas de incentivos fiscais como o Leitão Vida e o MS Renovável do Governo do Estado.
Inovador
O sistema de biometano instalado na fazenda produz o gás, que é gerado a partir da decomposição de resíduos orgânicos. O sistema é composto por um biodigestor, sistema de purificação de biogás, gerador, tratores e caminhões pesados, o novo ecossistema é o primeiro do tipo no Brasil e promete revolucionar o mercado de biogás do país.

Romulo Gouveia da Semadesc, Indalecio da SF, Fábio Barros, proprietário da fazenda e o gestor de aves Rubens Mello
O lançamento dessa solução inédita no mercado de biometano brasileiro é resultado de uma colaboração bem-sucedida entre New Holland, Iveco Group, Sebigás Cótica e Air Liquide. A iniciativa tem como objetivo explorar as possibilidades da produção de biogás a partir de resíduos de suinocultura, de pecuária e, ao mesmo tempo, promover a utilização de energias renováveis no país.
“Estamos orgulhosos de liderar esta iniciativa para a criação de um ecossistema inovador”, diz Flávio Mazetto, diretor de Marketing de Produto da New Holland Agriculture para a América Latina. “Acreditamos que essa solução é o futuro da produção de energia limpa no Brasil. Esperamos que ela inspire outras fazendas e empresas a adotarem energias renováveis e ajudem o país a alcançar suas metas de sustentabilidade”, completa.
Parcerias
A Sebigas Cótica, empresa especializada no desenvolvimento de soluções de biodigestão, desde a concepção do projeto, construção, manutenção e operação de instalações de biogás, é uma das parceiras do projeto. Dentro do processo do ecossistema, a Sebigás Cótica é responsável pelas obras civis e pela instalação do biodigestor.
Já a Air Liquide é empresa líder mundial no segmento de gases industriais, tecnologia e serviços para indústria e saúde, presente em mais de 78 países, e que busca consistentemente desenvolver soluções que tenham forte compromisso com a sustentabilidade e com a estratégia voltada para a transição energética.
A partir do biogás gerado no biodigestor, a Air Liquide desenvolveu um sistema modular de baixo custo de implementação para upgrading do biogás para biometano, utilizando membranas para a purificação do metano que possuem baixo custo operacional e longa vida útil. Além disso, a Air Liquide desenvolveu uma estação para compressão, armazenamento e reabastecimento do combustível nos tratores.
A FPT Industrial, marca do Iveco Group, é uma das líderes globais no desenvolvimento e produção de motores on-road e off-road, presente em quase 100 países e que já equipa a grande maioria dos produtos New Holland. Com a linha mais completa de motores a gás natural disponível no mercado, a FPT desenvolveu um cogerador de energia elétrica e calor especificamente para o projeto do ecossistema New Holland, utilizando como base o já conhecido motor NEF60.
Trator
No evento, a New Holland apresentou o T6.180 Methane Power que é o primeiro trator do mundo movido a gás proveniente da decomposição
de resíduos orgânicos e foi adquirido pela SF Agropecuária, do Mato Grosso do Sul. O modelo que utiliza o gás gerado a partir da decomposição de resíduos orgânicos como combustível, foi vendido à SF Agropecuária. Produzido em Basildon, na Inglaterra, o trator biometano chega via importação e está disponível para compra para agricultores em todo o Brasil.
Para o diretor da SF Agropecuária, Fábio Pimentel de Barros, a aquisição do trator representa ganhos ambientais e operacionais para as fazendas do grupo, que, além do plantel de suínos, possui também 33 mil bovinos, e uma produção vindoura de 1,6 mil hectares de soja e outros mil hectares de sorgo. As atividades estão distribuídas em 3 fazendas. “Primeiramente, o trator biometano representa para nós uma energia limpa, renovável e que tem uma produção de CO2 muito menor que as demais. Além disso, ele apresenta um nível de consumo menor do que o diesel. E, também, traz maior conforto para o operador, por causa do baixo nível de ruído em comparação com um trator comum. Outra grande vantagem é que o combustível dele eu já tenho na fazenda”, argumenta.
Além do trator biometano, o gás produzido nas fazendas da SF Agropecuária também serve para gerar eletricidade e abastecer um caminhão. “O gás que vira eletricidade é vantajoso, mas o gás que substitui o diesel é três vezes mais vantajoso em termos de economia”, compara Barros.
Por sua inovação no uso de combustíveis mais amigáveis ao meio ambiente, o trator biometano inaugura um novo segmento de máquinas agrícolas. Antes de estar disponível comercialmente no Brasil, o trator vinha sendo testado por aqui desde 2017, como protótipo, com ótimos resultados.