Dúvida de muitos produtores, a pergunta não tem resposta fácil. Conheça os caminhos para adotar um e outro processo
De acordo com a definição dos pesquisadores Manuel Claudio Motta Macedo e Ademir Hugo Zimmer, da Embrapa Gado de Corte, a degradação das pastagens nada mais é do que um processo evolutivo de perda do vigor, produtividade e capacidade de recuperação natural do pasto. Tanto para sustentar os níveis de produção e a qualidade exigida pelos animais como para superar os efeitos nocivos de pragas, doenças e invasoras.
Causada, no Brasil, principalmente pelo excesso de lotação nos pastos e falta de reposição de nutrientes no solo, a degradação apresenta vários níveis, que vão exigir cuidados diferenciados do produtor dependendo da gravidade do problema. Em entrevista ao Portal DBO, o engenheiro agrônomo e técnico na transferência de tecnologia da Embrapa Gado de Corte, Marcelo Pereira, traça dois cenários: um em que a degradação, em nível inicial, exige apenas recuperação da pastagem e outro, mais avançado, em que é necessária a reforma e ressemeadura.
Para Zimmer, definir esse limite não é algo trivial, e em cada propriedade é indispensável se fazer um diagnóstico específico. Levando em consideração os índices zootécnicos da fazenda, que dão um indicativo de como caminha a situação do pasto (vide o ganho de peso diário dos animais, por exemplo, ou a taxa de lotação).
Para Pereira, a análise por meio da observação no dia a dia também pode mostrar se um simples controle de invasoras associado a uma adubação permitirão que o pasto se recupere. Ou se a população da pastagem já se reduziu a tal ponto que, mesmo com esse manejo, não é viável contar com uma resposta satisfatória do capim. “Porque, ainda que com adubação e controle de invasoras, não vai nascer o capim que você deseja, mas somente espécies nativas – menos nutritivas e menos produtivas que a pastagem originalmente cultivada”, diz.
Confira as dicas para lidar com os problemas e reverter a perda de produção:
Quando o caminho é a recuperação do pasto – “Se o estande de capim é bom e se épossível controlar as invasoras com roçadas ou com controle químico, é provável que o pasto precise apenas de uma recuperação”, afirma Pereira.
Nessa situação, segundo ele, o recomendado é fazer uma análise de solo e ver como está a condição do pasto. Se houver necessidade de calcário, deve-se fazer a aplicação em cobertura ainda durante o período seco, para dar tempo de o material reagir. “Quando aplicado em superfície, no caso de doses maiores, o ideal é dividir a distribuição deste calcário em duas aplicações de 1.000 kg/ha/ano cada”, afirma. Feito isso, aí sim é indicado corrigir os níveis de N, P, K.
Quando o caminho é a reforma – “Se o cenário é outro, como no caso de não se ter mais capim para nascer mesmo com a correção da fertilidade do solo, ou se eu tinha uma decumbens e a cigarrinha matou, ou não fiz um manejo adequado do Panicum, que é mais exigente, e ele desapareceu, a solução é reformar”, diz o técnico da Embrapa. O diagnóstico, nesse caso, é de degradação avançada, podendo ser necessária a correção de fertilidade associada ao controle das invasoras e também a ressemeadura.
As causas para a degradação das pastagens são diversas, e vão desde o manejo inadequado, deficiência de nutrientes e compactação do solo à má-formação inicial da pastagem. Diante disso, o sintoma comum, segundo Pereira, é o baixo estande de plantas de capim.
Identificado esse cenário, a recomendação é fazer uma análise de solo e solicitar uma recomendação para a nova pastagem. Geralmente, será recomendado um processo completo, com a aplicação de calcário, de fertilizantes e gradagens – para incorporar os nutrientes, melhorar as condições de solo, reduzir as invasoras e preparar a área para uma nova semeadura. Ressemear sem as correções, segundo ele, pode até reduzir a competição com as invasoras, contudo, em pouco tempo a falta de nutrientes pode ser o fator que vai provocar novamente a degradação do pasto.
Nesse processo completo, após calagem, é indicado fazer a primeira gradagem, e depois de dois a três meses de descanso a adubação de formação. Na sequência, a recomendação é por uma nova gradagem. Este procedimento, geralmente realizado em épocas de seca, favorece o controle das plantas invasoras.
“Com a primeira gradagem prevista para julho, como não estará chovendo, as poucas plantas que crescerem podem ser eliminadas, e, em setembro, já se faz uma segunda gradagem pesada”. Para Marcelo, esta segunda gradagem ajuda a diminuir o banco de sementes no solo e eliminar os maiores torrões de terra. “Já em outubro ou novembro, com a chegada das chuvas, é a hora de passar uma grade niveladora, o que vai preparar o solo para a semeadura”, afirma Pereira.
Após a semeadura, deve ainda ser passada sobre o solo uma nova mão de grade niveladora (fechada) ou um rolo compactador, que contribui para a incorporação das semente no terreno. “Nesse momento, o solo já tem torrões pequenos, não conta com grande quantidade de galhos e o banco de sementes é bem menor”, explica o técnico. Daí em diante os cuidados são com o manejo e a fertilidade da área.
A descrição acima, ele lembra, é uma das possibilidades que se colocam para o pecuarista, devendo ser sempre adequada às necessidades específicas de cada área. Fazendo uma reforma bem-feita, o produtor pode optar ou não por trocar a variedade da forrageira.
Segundo documento da Embrapa publicado por Zimmer, a troca de cultivar depende, principalmente, de tratos mecânicos e químicos, com o uso de herbicidas, para o controle da espécie que se quer erradicar e pode ou não ser bem-sucedida.
“A substituição de espécies do gênero Brachiaria por cultivares de Panicum, uma das mais almejadas, nem sempre é bem sucedida dado o elevado número de sementes existentes no solo. O gasto de sucessivas aplicações de herbicidas e tratos mecânicos pode encarecer o processo. A substituição de espécies como Andropogon e Panicum por espécies de Brachiaria, no entanto, oferece melhor possibilidade de êxito. Outra troca potencial é a substituição de espécies de Brachiaria por espécies de Cynodon”, explica.
Pereira destaca ainda que se a opção for pela troca da forrageira, o produtor deve avaliar antes de mais nada qual capim atende melhor seu sistema de produção: se ele têm condições de fazer manejo rotacionado ou apenas contínuo; se pode investir em adubação; qual a demanda de pasto de que ele precisa – além de considerar qual o clima e tipo de solo da região onde fica a propriedade.