Em tempos de vacas magras da economia brasileira, o agronegócio assume papel de protagonista não apenas no campo como na cidade. Do saldo positivo na balança comercial à geração de emprego, o setor segue na contramão de todos os outros segmentos ou indicadores econômicos do país. Enquanto a recessão turbina a inflação e diminui o poder de compra da população, atividades ligadas à agricultura e pecuária seguem caminho inverso. Apesar dos preços internacionais em baixa, do aumento nos custos de produção e do temor que vem do clima, o câmbio e a demanda, doméstica e internacional, têm beneficiado sobremaneira a atividade.
A informação mais recente, que traduz com clareza a importância do campo no desenvolvimento econômico e social do país – ou então simplesmente para conter a recessão – está no resultado do Cadastro-Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgado na semana passada pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). O agronegócio foi o único empregador que encerrou 2015 com saldo positivo na criação de postos de trabalho. Foram quase 10.000 novos empregos, diante de um saldo negativo superior a 1,5 milhão de posições que foram desativadas.
Balança comercial
O campo também foi o responsável no ano passado pela retomada do saldo positivo na balança comercial brasileira. Após o susto em 2014, quando depois de 13 anos consecutivos de resultado positivo, o balanço entre exportações e importações terminou negativo em US$ 4 bilhões. Em 2015 o indicador voltou para o azul, graças, novamente, aos embarques do agronegócio. Foram quase US$ 20 bilhões de superávit, de uma pauta liderada basicamente pela produção agropecuária. Oito entre os 10 produtos mais vendidos ao exterior são do agronegócio, com destaque para a soja, primeiro lugar no ranking, acima do minério de ferro e do petróleo.
Mercado invertido
É não é apenas o agronegócio que está descolado dos indicadores da economia brasileira. As cotações das principais commodities agrícolas no Brasil também estão descoladas do preço no mercado internacional, balizado pela Bolsa de Chicago. Em boa parte, pelo câmbio, que flutua não mais na casa dos R$ 3, mas dos R$ 4. E o ambiente favorável também ocorre por conta da escassez do produto, principalmente do milho. Com consumo e cotações em alta – exportações + demanda interna – não está fácil encontrar soja e milho em plena safra brasileira. É o mercado invertido. Enquanto o milho registra negócios acima de R$ 40/Saca de 60 quilos, a soja supera a paridade exportação. Na semana passada, compras realizadas no interior acima de R$ 80/saca em algumas praças ficaram acima do preço praticado nos portos graneleiros, como em Paranaguá, no Paraná, e Rio Grande, no Rio Grande do Sul.
Boa safra
E assim segue a safra atual. Atrasada, com muita chuva em algumas regiões e pouca em outras. Mas ainda uma boa safra. Tem produção, preço e mercado. Não está bom para todos os elos da cadeia. Mas não resta dúvida que será uma temporada acima da média. Um dos setores que sofre é o de máquinas e equipamentos agrícolas. Contudo, não vamos misturar as coisas. A crise do setor de máquina não é a crise do agronegócio. A venda de máquinas cai há dois anos não porque o campo está encolhendo ou descapitalizado. Depois de uma década de ouro, de um período em que o país renovou seu parque de máquinas, é normal as vendas desaquecerem. Afinal, trator e colheitadeira não se troca todo ano.
Texto publicado na edição impressa de 25 de janeiro de 2016, da Gazeta do Povo