O Brasil é o terceiro maior produtor de frutas do mundo, com uma produção atual de quase 41,5 milhões de toneladas, ficando atrás somente da China e Índia, respectivamente. Também é o terceiro maior mercado de consumo de frutas frescas do planeta, com estimativas em 2014 por volta de 18 milhões de toneladas, atrás novamente das mesmas nações.
Em torno de 53% das frutas são destinadas ao mercado “in natura” e 47% à agroindustrialização para produção de sucos, polpas, compotas, entre outras. No entanto, mesmo com um cenário promissor e em franco crescimento, a fruticultura nacional enfrenta gargalos como qualquer outro segmento do agronegócio do País, mas principalmente em relação à distância que ainda separa o agricultor do consumidor final.
De acordo com o presidente do Instituto Brasileiro de Frutas (Ibraf), Moacyr Saraiva Fernandes, além das dificuldades já conhecidas e relacionadas à infraestrutura e aos custos logísticos, que aumentam os gastos do agricultor e provocam “perdas incontáveis da produção de frutas ao consumidor final, podemos destacar como cruciais a falta de organização dos produtores para comercialização e a falta de sistema de gestão moderno e eficiente para todas as transações, que se fazem necessárias ao longo das cadeias”.
“Gerencialmente, falta em grande parte um entendimento da cadeia de valor, por nossos agronegócios das frutas, para cada mercado alvo, de maneira a permitir que eles possam melhor negociar sua inserção no mercado interno e externo com competitividade e sustentação”, destaca.
CARÊNCIAS
Para Alexandro Alves, assessor técnico para área de Fruticultura da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), o setor realmente possui vários gargalos, como o distanciamento entre aquilo que se produz no campo e a mesa das famílias. “Mas não há dúvidas de que o problema da falta de mão de obra e de assistência técnica especializada, além da carência de pesquisas na área, são também os principais entraves no desenvolvimento da cadeia produtiva de frutas no Brasil”.
“Não há incentivos concretos e planejados para o setor no País como um todo. O Chile, que é muito menor em extensão territorial que o Brasil, além de permanecer boa parte do ano sobre o gelo, exporta e produz mais frutas. Nós só exportamos pouco mais de 3% de todas as frutas que produzimos. As oportunidades são inúmeras e não estamos aproveitando”, alerta Alves.
Para o assessor do Senar Goiás, o baixo valor agregado baixo das frutas nacionais também é outro entrave, que acontece pela falta de incentivo no setor.
“O produtor enfrenta problemas no crédito, na aplicação deste crédito por falta de orientação técnica e não há incentivos para implantação de pequenas agroindústrias para processamento de produtos.”
Segundo ele, surge então a necessidade de se unir por meio das associações e cooperativas. “O pequeno fruticultor não consegue resolver tudo sozinho, devido aos custos para se agregar valor à produção, já que isto demandaria estrutura, certificação de produtos, etc., o que na verdade não é barato.”
Na opinião do presidente do Ibraf, na realidade o valor agregado das frutas frescas obtido pelas cadeias produtivas organizadas é equivalente às dos principais países produtores, concorrentes diretos do Brasil.
“O grande diferencial está na sua organização, principalmente para comercialização e fundamentalmente para a exportação”, ressalta Fernandes.
Cooperativismo
De acordo com ele, um dos pontos fracos da fruticultura brasileira é o baixo nível de associativismo no setor, o que fragiliza o produtor, principalmente o pequeno, em sua inserção ao mercado de forma rentável.
“A comercialização atualmente é complexa, exigindo do setor um conhecimento de todos os segmentos da cadeia produtiva. Na cadeia de frutas a governança é já, há algum tempo, exercida pelos compradores, pelas grandes redes de distribuição final das fruas ao consumidor.”
Conforme o presidente do Ibraf, esta rede se concentra cada vez mais, exigindo dos ofertantes volumes de escala para melhor negociarem. Por isto, o cooperativismo pode e é uma ferramenta importante para equilibrar tais transações comerciais.
“As cooperativas, entre muitas outras vantagens, além do volume de escala, podem incluir diversidade de oferta e proporcionar melhores preços e melhores condições para a comercialização dos cooperados, proporcionando competitividade adquirida e sustentável. Portanto, a participação direta dos produtores na comercialização exige sua organização em cooperativas”, orienta Fernandes.
Por equipe SNA/RJ