O pequeno agricultor Jocelen Alves, de Ponta Porã, a 326 quilômetros de Campo Grande, perdeu quase tudo o que plantou na segunda safra de milho desta temporada. Dos 70 hectares que cultivou, 50 foram atingidos por uma estiagem de mais de 42 dias e os 20 hectares que restaram foram afetados por uma geada. De uma produtividade que ele esperava ser superior a 80 sacas por hectare, colheu apenas 12 sacas por hectare. “Nunca vivemos um ano tão ruim como este. Nos outros sempre conseguíamos pagar as contas com a lavoura, neste vamos ter que tirar de outro lugar”, diz o produtor.
A história do produtor, que se repetiu em maior ou menor intensidade em todo o Mato Grosso do Sul nesta safrinha e contribuiu para uma quebra de 34% na produção do cereal no estado, de uma projeção de de 9,1 milhões de toneladas para uma colheita de 6 milhões de toneladas, ajuda a entender o porquê dos resultados negativos do cultivo do grão estarem sendo apontados como um dos principais responsáveis pela queda do Produto Interno Bruto (PIB) da agropecuária no terceiro trimestre de 2016 (julho, agosto e setembro), conforme divulgou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nesta quarta-feira (30).
O economista Fabio Ralston, diretor de Commodities na consultoria Parallaxis, não hesita e aponta a quebra da safrinha como o grande “vilã” para que a agropecuária tivesse um resultado negativo de 1,4% no terceiro trimestre deste ano em relação ao mesmo período do ano passado. “A produção de milho safrinha vinha crescendo em todo o país nas temporadas anteriores e em razão das variações do clima provocadas pelo fenômeno El Ninõ sofreu um grande retração. No Centro-Oeste a queda chegou a 36,64%”, explicou ao G1.
Em Mato Grosso do Sul, por exemplo, a Associação dos Produtores de Soja (Aprosoja/MS) aponta que o clima atrapalhou a safra de inverno de milho antes mesmo que ela fosse plantada. O excesso de chuva atrasou a colheita da soja e consequentemente a semeadura do cereal, que em parte foi feita fora do período ideal definido pelo Zoneamento Agrícola de Risco Climático do Ministério da Agricutura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Depois as lavouras foram afetadas por um longo período de estiagem e na sequência por geadas.
O presidente da Aprosoja/MS, Christiano Bortolotto, disse que a quebra de safra fez com que muitos produtores ficassem endividados, carregando para a próxima safra, a de soja, débitos que não foram quitados com o cultivo de cereal, e outros ainda se descapitalizaram, o que vai inviabilizar pelos próximos ciclos, investimentos em novas máquinas e equipamentos e até mesmo no aprimoramento do processo produtivo.
Ele lembrou ainda que a situação do produtor se agravou ainda mais neste terceiro trimestre do ano, porque foi um período em que a taxa de câmbio que iniciou o ano na casa dos R$ 4 caiu para em torno dos R$ 3,20, o que desvalorizou o preço das commodities agrícolas brasileiras.
Um outro efeito da quebra da safrinha de milho foi o reflexo em outras cadeias da agropecuária. De acordo com o diretor de Commodities da Parallaxis, como o cereal é utilizado para produzir ração, segmentos como o de criação e abate de bovinos, suínos e aves, entre outros, também foram impactados. “Com a redução da oferta houve aumento dos preços, mas os outros setores tiveram dificuldade em repassar totalmente esse incremento para o consumidor final em decorrência da crise econômica”, detalha.
O economista aponta ao G1, entretanto, que as previsões para o último trimestre do ano são mais otimistas para a agropecuária. “O setor deve ter um crescimento do seu PIB em 0,5% neste últimos meses de 2016, mas como vem acumulando três trimestres com resultado negativo deve fechar o ano com queda de 5,6%. A recuperação, entretanto, deve ocorrer no próximo ano, quando projetamos que a agropecuária cresça 3,1%”, conclui.
Anderson Viegas Do G1 MS