Seria como acrescentar à safra do país quase o mesmo volume colhido atualmente em Mato Grosso e no Paraná, os dois principais produtores nacionais do grão
Terceiro maior produtor e vice-líder nas exportações globais de milho, o Brasil tem potencial para elevar seu nível de produtividade em pelo menos 30% a 40% (duas a três toneladas por hectare), o que traria uma oferta adicional de 30 milhões a 45 milhões de toneladas. Seria como acrescentar à safra do país quase o mesmo volume colhido atualmente em Mato Grosso e no Paraná, os dois principais produtores nacionais do grão, e tudo isso nos mesmos 15 milhões de hectares que a cultura já ocupa, sugere estudo da consultoria McKinsey.
“Sempre falamos que o gargalo está lá na frente, em logística, mas não quer dizer que não tenhamos potencial a capturar no campo. Então, fomos verificar o tamanho da aspiração que podemos ter”, disse ao Valor Nelson Russo Ferreira, sócio da McKinsey e líder de agribusiness da consultoria na América Latina.
De fato, o protagonismo do Brasil no mercado de milho destoa de seus índices de produtividade. A média do país é de 5,3 toneladas (88 sacas de 60 quilos) por hectare, praticamente a metade das pouco mais de 10,5 toneladas (175 sacas) dos EUA, que têm a seu favor vantagens de clima e solo que se refletem em custos menores. Com tamanha diferença nos volumes de milho saídos do campo aqui e lá, seria mesmo de se supor que temos muito a avançar – o desafio é saber quanto.
Tendo isso em vista, a McKinsey, em parceira com a também americana ConScience Analytics, desenvolveu uma ferramenta (já testada nos EUA e na Europa) capaz de mensurar de forma “granular” a produtividade que está no limbo em áreas agrícolas. No Brasil, Mato Grosso foi eleito o primeiro caso de estudo.
Segundo Lígia Azevedo, agrônoma e consultora da ConScience, um modelo matemático estima a produtividade com base em uma série de processos e informações iniciais. “A partir de uma análise geoespacial, usamos dados climáticos detalhados, além das características físicas e químicas do solo e da planta que se está modelando”, explicou.
Ainda que seja necessário um salto na mecanização no uso de novas tecnologias transgênicas, investimentos em infraestrutura e oferta de financiamentos acessíveis aos agricultores, a McKinsey concluiu que seria “realista” a meta de Mato Grosso ganhar de 1,9 a 2,2 toneladas de milho por hectare na segunda safra (a safrinha) – a primeira safra do grão é inexpressiva no Estado. E no curto prazo.
“Depende de quão duro isso for tentado, mas seria possível em três a cinco anos”, previu Ryan McCullough, gerente da ferramenta na McKinsey. A produtividade esperada pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para a safra 2015/16 mato-grossense é de 5,9 toneladas, aquém das 6,06 toneladas da safra anterior em consequência da redução do uso de fertilizantes, que encareceram devido à disparada do dólar.
Mas os potenciais de aumento de produtividade variam muito mesmo em Mato Grosso. O estudo indicou oportunidades de elevação de uma a cinco toneladas por hectare no Estado, tendo mais a conquistar cidades no médio-norte, como Nova Maringá, Porto dos Gaúchos e São José do Rio Claro. Municípios do noroeste onde ainda predominam pastagens, como Colniza e Aripuanã, também podem evoluir mas no longo prazo. Já no sudeste há localidades já próximas de seu potencial inato, como Alto Garças e Poxoréu, que têm menos de uma tonelada a ganhar, conforme a McKinsey.
Esses incrementos de produtividade provocariam um impacto financeiro significativo, de acordo com a consultoria, na medida em que trariam US$ 350 mil a mais de receita para uma propriedade de cerca de 1,5 mil hectares. “Haveria ainda um impacto ambiental [positivo] e uma melhoria da competitividade de custo do Brasil no mercado internacional, importante num cenário de preços mais baixos e maior concorrência com outros países”, disse Ferreira.
A cadeia de insumos também se beneficiaria. Com mais milho sendo colhido, seria criado um mercado adicional de US$ 700 milhões para fabricantes e distribuidores de fertilizantes (especialmente para vendas de nitrogênio e fósforo) e de US$ 100 milhões para defensivos agrícolas.
“Também os fornecedores de máquinas e de tecnologias de agricultura de precisão seriam mais demandados nesse cenário. E sabendo onde há mais oportunidades de avanço [na produtividade], melhora-se a estratégia de investimento”, avalia o sócio da McKinsey, que tem a expectativa de ampliar essas análises para outras culturas e regiões do país.
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