Primeiros indígenas do Brasil a obterem crédito pelo Pronaf A, Oto e Livrada Pauferro se tornaram exemplo para os vizinhos da Aldeia Brejão, em Nioaque. Graças à repercussão positiva, o escritório local da Agraer (Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural), órgão vinculado à Semadesc (Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação) encaminhou 60 cartas consulta ao Banco do Brasil, das quais duas já receberam o aval para elaboração dos projetos. “Muitas pessoas disseram que não ia dar certo, mas nós confiamos e fomos atrás. Hoje outras pessoas também estão buscando. E isso é bom. O maquinário facilita nossa vida, para quem tinha somente enxada, é um recurso que ajuda a produzir”, diz Livrada.
O microtrator adquirido pelo casal foi entregue nesta terça-feira (19) em solenidade. Participaram o diretor-presidente da Agraer, Washington Willeman; o diretor-executivo do órgão, Marcos Roberto Melo; o deputado estadual Zeca do PT; o prefeito de Nioaque, Valdir Junior; os caciques Valdileis Goes (Brejão), Ramão Silva (Taboquinha), José Bartolo (Água Branca); e o gerente do Banco do Brasil de Nioaque Aor Ferreira Guedes.
Durante o evento, um grupo de mulheres apresentou uma dança típica terena. Em seguida, Oto assinou os documentos bancários que oficializam o repasse dos recursos. “Há poucos dias esteve em nosso estado o ministro Paulo Teixeira fazendo o levantamento do Plano Safra, quando foi destinado o maior volume de recursos da história do Brasil tanto para a agricultura familiar como para o agronegócio, próximo a R$ 72 bilhões, sendo R$ 400 milhões para a agricultura familiar do nosso Estado. Foi quando ficamos sabemos que pela primeira vez os indígenas e quilombolas poderiam estar acessando esse crédito”, disse Washington.
Os extensionistas então colocaram a mão na massa e organizaram mutirões para emissão de CAF (Cadastro da Agricultura Familiar) aos povos originários, documento necessário não apenas para obter crédito, mas para venda de produtos ao PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar) e PAA (Programa de Aquisição de Alimentos). “Aqui eu faço um desafio ao Banco do Brasil: fiquei sabendo que está protocolado em Mato Grosso do Sul que pode ser o primeiro Pronaf A para um quilombola do país, aqui para Nioaque. Estamos acompanhando de perto”, revelou o diretor-presidente da Agraer.
Investimento
Oto vai receber R$ 40 mil que serão utilizados para a compra de um microtrator com grade aradora, uma roçadeira e reformará uma cerca que está deteriorada na propriedade dele. “É uma bênção. A vida toda nós esperamos por isso e agora que surgiu a oportunidade, estamos felizes. Por enquanto, eu plantava somente mandioca em quase um hectare. Agora, vou conversar com o cacique para aumentar para cinco e se tudo der certo, nosso projeto é conseguir plantar ainda mais”, afirma o terena.
A esposa de Oto, Livrada Pauferro, fez até pães enriquecidos com mandioca. “Não tivemos ainda a porta aberta para vender nossos produtos para um PAA (Programa de Aquisição de Alimentos), prefeitura ou para a merenda escolar, mas com a produção que teremos, o que surgir de melhor com certeza nós vamos aproveitar”, diz a terena.
Indígenas e os demais agricultores familiares que precisarem de crédito pelo Pronaf podem procurar um dos escritórios da Agraer distribuídos em todos os municípios. Os extensionistas prestam auxílio com a documentação e ainda elaboram o projeto para ser apresentado ao banco.
Texto e fotos: Ricardo Campos Jr. – Agraer