Produtores devem valorizar espécies nativas e investir em melhoramento genético para elevar a produção
As carnes suína, bovina e de frango lideram o consumo de proteínas dos brasileiros. Em 2016, o consumo per capita deve atingir 32,9 quilos de carne bovina, 14,8 de carne suína e 45,7 quilos de carne de frango por ano, de acordo com previsões da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Mas a carne de peixe também quer conquistar mais espaço na mesa dos brasileiros. O consumo de carne de peixe, que chegou a 10,6 quilos per capita por ano, promete crescer exponencialmente, com a valorização de dietas saudáveis, aumento da produção e preços mais acessíveis.
Quem investe nesse segmento diz que o mercado brasileiro está para peixe. Um exemplo disso é o Grupo Bom Futuro, de Cuiabá (MT), famoso pela produção de soja, milho e algodão com lavouras que somam 410 mil hectares, além da atuação na pecuária bovina. A empresa enxergou na produção de peixe um negócio promissor e vai investir cerca de R$ 10 milhões nos próximos anos com o objetivo de alavancar a produção de peixes do grupo. “O mercado está favorável para a piscicultura e eu acredito que tenha demanda para essa ampliação da produção”, afirma Herbert Junior, coordenador de piscicultura do Grupo Bom Futuro. Com quatro unidades de produção no Mato Grosso, o Grupo Bom Futuro produz 2.500 toneladas de tambaqui, pintado da Amazônia, piau, tilápia e tambatinga por ano, com 240 hectares de tanques escavados. Em cinco anos, a meta é quadruplicar a produção e chegar a 10 mil toneladas por ano.
O desafio da genética
Para desenvolver a piscicultura, é preciso investir na genética dos alevinos e no manejo. “Com o melhoramento genético se consegue duplicar a produção e com estrutura e tecnologia é possível produzir mais em menos área”, diz o coordenador. Junior explica que os animais são acompanhados por chips e passam por uma análise genética, com o objetivo de selecionar os peixes com desempenho superior para os futuros cruzamentos. “A principal característica que nós procuramos é a taxa de crescimento. Inicialmente, queremos um peixe que se desenvolva mais rápido e esteja adaptado para as regiões brasileiras”, afirma Junior. “Existe um investimento muito grande com a esperança de que haja ganho de produtividade.”
Entendendo os peixes
Segundo Junior, as tecnologias para a produção de tilápia já estão avançadas e atendem as necessidades do mercado. O Grupo Bom Futuro alcançou uma produtividade de 20 mil quilos de tilápia por hectare ao ano. O desafio, a partir de agora, será entender as espécies nativas. “A piscicultura é pouco estudada na prática e a gente vive muito de achismo e do que foi feito com outras espécies”, diz Junior.
Pintado da Amazônia
O pintado da Amazônia, por exemplo, tem algumas características canibais e pode comer outros peixes durante a fase da recria, podendo comer de três a quatro irmãos dele por dia. Esse comportamento se manifesta em cerca de 1% do lote de alevinos. Por isso, os funcionários monitoram os peixes mais “agressivos” e os retiram dos tanques. “É fácil identificá-los porque eles têm o dobro do tamanho dos outros”, conta o coordenador. Com o melhoramento genético, uma das características que devem ser desenvolvidas é a docilidade.
Outra novidade é que, em outubro de 2016, a empresa começou a usar probióticos para melhorar os índices da produção. “O intuito é melhorar a digestibilidade dos peixes, a conversão e também diminuir o acúmulo de matéria orgânica nos viveiros”, diz Junior.
* Essa é uma versão resumida da reportagem publicada na revista Farming Brasil. Por Naiara Araújo (naiara@sfarming.com.br)