Deixar as terras paradas, sem nenhum cultivo de segunda safra, pode ser ruim para o produtor de Mato Grosso do Sul, conforme demonstrou pesquisa conduzida pela Embrapa Agropecuária Oeste (MS) para analisar os efeitos do pousio (fase sem plantio) sobre áreas agrícolas. Os trabalhos mostraram que as terras sem lavouras sofreram aumento de plantas daninhas, especialmente buva e capim-amargoso. Além disso, os cientistas verificaram que a área fica mais sujeita a pragas de difícil controle e apresenta redução da produtividade na safra seguinte de soja em decorrência da perda de nutrientes de solo.
Trata-se de uma informação importante aos produtores, uma vez que, neste ano, o excesso de chuvas impossibilitou que agricultores plantassem milho dentro do período recomendado pelo Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc), que preconiza o plantio até o dia 10 de março. “Ao longo desses cinco ou seis meses de pousio, o agricultor terá que investir em pelo menos duas aplicações de herbicidas para combater as plantas daninhas. A ausência de cobertura vegetal também prejudica a atividade microbiana, afetando negativamente o equilíbrio ambiental e a ciclagem de nutrientes do solo”, explica o pesquisador da Embrapa Cesar José da Silva.
As culturas de inverno, que podem ser plantadas após o período recomendado para o milho-safrinha, apresentam-se como opção de diversificação dos sistemas produtivos e, especialmente em anos com adversidades climáticas, são opção de culturas com retorno econômico para os produtores não deixarem suas áreas em pousio. Dentre as culturas que são passíveis para cultivo no Sul do Mato Grosso do Sul destacam-se as oleaginosas de inverno, tais como: crambe, nabo-forrageiro e canola, ou gramíneas, como aveia e trigo.
Silva explica que a diversificação de culturas de segunda safra pode ser feita tanto em pequenas, médias e grandes áreas. “O uso dessa tecnologia agrega valor ao sistema de produção de grãos, pois quando a soja for semeada, o solo submetido à rotação de culturas apresentará maior dinâmica da comunidade microbiana e melhor balanço de macro e micronutrientes, o que beneficiará o desenvolvimento e aumento de produtividade das lavouras de soja”, detalha.
Ele destaca ainda que essa tecnologia é importante devido à necessidade de intensificação da produção da propriedade rural e de ampliação da rentabilidade da área. “A rotação de culturas é uma técnica consagrada e eficaz. As culturas de inverno complementam a renda do produtor e ainda promovem uma melhoria no sistema de produção. No caso dessa tecnologia, viabiliza o cultivo numa área que poderia permanecer ociosa”, enfatiza Cesar.
Como escolher a cultura de inverno
O pesquisador destaca três passos fundamentais para a escolha da espécie de inverno que será cultivada ainda nessa segunda safra. O primeiro deles se refere à escolha da finalidade da produção. “O agricultor deve avaliar o que pretende fazer com a produção: comercializar, oferecer como alimento para os animais ou para produção de palhada para cobertura do solo. Caso faça a opção por comercializar a produção, precisa identificar os compradores e organizar o fluxo de transporte e logística, estabelecendo esse canal de comercialização antes mesmo da semeadura, organizando, inclusive, as informações em contrato para evitar prejuízos”, destaca Silva.
Outro ponto fundamental se refere à seleção das áreas onde serão plantadas as culturas de inverno. “Deve-se avaliar as características da área, com a finalidade de identificar culturas que possam ajudar com a supressão de plantas daninhas. O trigo, aveia, canola e nabo-forrageiro são grandes aliados nesse sentido”, informa.
Finalmente, o terceiro ponto se refere à fertilidade do solo, avaliando se a área é considerada de média ou alta fertilidade e verificando qual a intensidade de plantas daninhas (alta ou baixa). Nesse aspecto, Cesar destaca que a canola é uma planta que apresenta maior exigência em fertilidade do solo. Planejar e definir cada uma das etapas envolvidas possibilita que a adoção da diversificação do sistema de produção com culturas de inverno seja feita com sucesso.
O pesquisador alerta que, conforme o objetivo da lavoura, tanto o espaçamento quanto a densidade de semeadura utilizados são diferentes, especialmente no caso de optar por nabo-forrageiro. “É preciso definir se o objetivo do cultivo do nabo-forrageiro é para a produção de grãos ou de biomassa da parte aérea, pois implica quantidades de sementes e regulagens da plantadora distintas no momento da semeadura”, exemplifica o pesquisador.
Experiência
O produtor rural da fazenda Jatobá, Guaracy Boschiglia Junior, de Laguna Carapã (MS), cultiva canola há cinco anos e comercializa sua produção para o Rio Grande do Sul. Para ele, a canola é uma opção interessante para rotação de culturas. Ela melhora a qualidade do solo e o cobre bem, além de abafar as plantas daninhas no inverno, proporcionando maior produção à soja, além disso, tem mercado e é vendida com um bom preço. “Porém, é uma cultura muito técnica, que exige cuidados na implantação, condução e colheita, especialmente, em relação aos aspectos operacionais. É uma cultura que exige prática de manejo e dedicação, quanto mais tempo se cultiva, mais facilidade vai se desenvolvendo nesse sentido”, explica Guaracy. Ele conta que também está cultivando nabo-forrageiro e aveia, tanto para comercialização quanto para a cobertura de solo.
Já o produtor rural da fazenda Agromatogrosso, Irineu Dárcio Schwambach, de Ponta Porã (MS), conta que esse ano nessa segunda safra fez a opção por cultivar aveia, com a finalidade dupla, tanto para produção de palhada para a agricultura quanto para suplementar a alimentação do rebanho, pois faz uso da integração-lavoura-pecuária (ILP). “A pecuária exige um planejamento constante em prol da produção de alimentos para o rebanho. Tradicionalmente, o milho consorciado com a braquiária é sempre uma opção favorável, mas esse ano, por causa das chuvas, o período de semeadura ficou muito curto e optamos por ampliar as áreas de cultivo de aveia e reduzir a produção consorciada”, conta Schwambach. Ele explica ainda que a aveia é tolerante ao frio e resiste muito bem ao inverno da região Sul de Mato Grosso do Sul, além da vantagem de possibilitar o uso de sementes próprias, o que garante um resultado financeiro ainda melhor.
Benefícios da tecnologia
A diversificação de culturas proporciona melhoria dos ambientes de produção e aumento de produtividade nas fases seguintes. Há registros também de benefícios econômicos. Quando comercializada a produção, destacam-se a redução do impacto de custos fixos, equipamentos e pessoal e maior renda líquida que o milho-safrinha, quando este é plantado fora do período recomendado e tem a produtividade reduzida por limitação climática. A prática também proporciona benefícios ambientais. Silva destaca que ocorre uma redução do estresse do solo, planta e microrganismos, redução da infestação das plantas invasoras, manutenção dos inimigos naturais, aumento da matéria orgânica do solo e menor uso de herbicidas, inseticidas e fungicidas. “Mas o principal benefício indireto é a quebra do ciclo de pragas e doenças”, enfatiza o pesquisador da Embrapa Agropecuária Oeste.
Christiane Congro Comas (Mtb 00825/9/SC)
Embrapa Agropecuária Oeste
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