Com 14 mil mudas e cinco mil sementes plantadas até este ano, o Pantanal completa a lista de biomas que levaram a campo os experimentos desenvolvidos pelas equipes do Projeto Biomas. Prevendo o plantio de aproximadamente 30 espécies florestais nativas até 2016, a iniciativa chega a uma fase decisiva na região: a realização dos testes que vão determinar as condições, espécies e métodos mais indicados para o plantio de árvores nas propriedades rurais no Pantanal, ajudando a recuperar a vegetação nativa e oferecendo ferramentas de gestão de paisagem que levem em consideração o Código Florestal e as demandas dos produtores pantaneiros.
“Apesar das florestas do Pantanal, em sua maioria, estarem ‘inteiras’ quando comparadas às florestas de outros biomas, essas florestas têm tido um rareamento seletivo de algumas espécies, principalmente das madeireiras, que servem para diversos usos dentro das propriedades pantaneiras. A recomposição ou o enriquecimento das florestas com as espécies mais utilizadas são formas de garantir sua existência no bioma”, diz Catia Urbanetz, pesquisadora da Embrapa Pantanal que coordena o projeto na região. De acordo com Catia, plantios como esses – direcionados e em grande escala, com quantidades significativas de mudas e sementes de árvores nativas – estão sendo feitos pela primeira vez na história do bioma.
Os plantios
Para suprir as demandas das propriedades pantaneiras, o projeto Biomas implantou sete experimentos na região. A equipe coletou cerca de 150.000 sementes de espécies arbóreas nativas para investigar quais espécies podem ser melhor aproveitadas nos sistemas produtivos das fazendas do Pantanal e na conservação do ambiente. A área experimental tem 37 hectares e está localizada na fazenda Santo Expedito, no Pantanal da sub-região da Nhecolândia, a cerca de 150 km de Corumbá (MS).
Alfredo Machado, dono da propriedade, afirma que apoia as ações do projeto tanto pela possibilidade de suprir a grande demanda por madeira da fazenda quanto pelo estímulo à preservação ambiental. “Eu acredito que essas árvores devam ser preservadas pela manutenção do sistema, para evitar o desmatamento. E reflorestar as regiões de onde as árvores já foram tiradas, acho de suma importância”.
Conheça os plantios experimentais:
O Projeto
Os plantios no Pantanal são uma parte do Projeto Biomas, que é uma iniciativa de grandes dimensões. Com 11 unidades da Embrapa envolvidas, cerca de 50 instituições participantes – incluindo universidades, institutos de pesquisa, empresas privadas e outras organizações que reúnem mais de 400 pesquisadores – e a parceria firmada entre a Embrapa e a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), foi possível focar a pesquisa em um objeto de estudo simples, mas fundamental para o aprimoramento das atividades produtivas no Brasil: a árvore.
Com viveiros e áreas experimentais implantados por meio do projeto nos seis biomas do país, as equipes estudam a inserção do componente florestal nas propriedades rurais brasileiras desde 2010 – e de que forma esse recurso pode servir tanto para a aplicação e aprimoramento do Código Florestal quanto para beneficiar essas propriedades, seja em aspectos ambientais ou produtivos. Para isso, as pesquisas estão focadas nas seguintes grandes áreas: Áreas de Preservação Permanente (APP), que são as margens de rios e nascentes e os topos de morro; Áreas de Reserva Legal (ARL), que são áreas com florestas que devem ser mantidas na propriedade (cujo percentual varia de acordo com cada bioma), mas que podem ser manejadas; Áreas de Uso Alternativo do Solo, que são as áreas produtivas das propriedades, e as Áreas de Uso Restrito (AUR), como é o caso do Pantanal, com legislações específicas para o uso, a preservação e a conservação das terras.
Segundo Gustavo Curcio, pesquisador da Embrapa Florestas que idealizou e coordena nacionalmente o projeto, “a sociedade ganhou uma maturidade muito importante com as discussões sobre o Código. Mesmo assim, é preciso atender aos anseios do produtor por novas formas de pluralizar a propriedade rural. A árvore é esse elemento. O Brasil tem uma biodiversidade arbórea incomparável e as funcionalidades ecológicas, bens e serviços que elas podem nos proporcionar são imensas. É só uma questão de avançar nas pesquisas, nessa linha de trazer a árvore para dentro da propriedade”, afirma. “É uma proposta que vai atender não só ao produtor, mas também à legislação”, completa.
Ações pelo Brasil
O projeto lida com uma biodiversidade muito ampla, que pode mudar completamente de um bioma para outro. Para considerar as diferentes demandas e ainda incluir as características de cada região do país em uma mesma iniciativa, o projeto determinou áreas de referência, com vegetação nativa, e áreas experimentais para fazer as pesquisas nos seis biomas brasileiros, com equipes e coordenações regionais para cada um deles.
“Todo produtor do Brasil quer fazer sua cerca, quer fazer lenha, vigamento, galpão, ponte, poste… as demandas já são bem conhecidas. O que nós temos que apresentar com mais presteza é a diversidade que está a favor de atender essa multiplicidade de usos das arbóreas, assim como as outras potencialidades de seu uso (como os sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta) – além, é claro, de considerar formas de preservação e recuperação ambiental”, diz Gustavo.
Cada bioma está em um estágio diferente do trabalho. Enquanto no Pantanal a fase de plantios deve ser finalizada em 2016, nos biomas Mata Atlântica e Cerrado, por exemplo, ela já foi concluída, gerando resultados de pesquisas que deverão ser transmitidos a técnicos multiplicadores e produtores por meio de capacitações à distância – realizadas com o apoio do Senar.
As tecnologias desenvolvidas pelo projeto, segundo o coordenador nacional, também devem chegar ao produtor por meio de publicações, cursos, participações nos dias de campo e através do siteprojetobiomas.com.br, que possui várias informações organizadas por região. Para Gustavo Curcio, existem diversas formas de mostrar que a árvore na propriedade rural pode se transformar em ganhos para o meio ambiente, para o produtor rural e para a sociedade. “Dentro dos sistemas que existem de proteção, de preservação e de produção, a gente pode melhorar muito e eu acho que devemos nos esforçar para isso. Nós podemos fazer do Brasil algo muito melhor”, conclui o pesquisador.
O PROJETO BIOMAS
O Projeto Biomas, iniciado em 2010, é fruto de uma parceria entre a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), com a participação de mais de quatrocentos pesquisadores e professores de diferentes instituições, em um prazo de nove anos. Os estudos estão sendo desenvolvidos nos seis biomas brasileiros para viabilizar soluções com árvores para a proteção, recuperação e o uso sustentável de propriedades rurais nos diferentes biomas.
O Projeto Biomas tem o apoio do SENAR, SEBRAE, Monsanto e John Deere. No Pantanal, o Projeto Biomas é coordenado pela Embrapa Pantanal, com o apoio da Embrapa Florestas, e conta com a colaboração das Universidades Federais do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e da Grande Dourados (UFMT, UFMS e UFGD), Universidades Estaduais do MS e MT (UEMS e UNEMAT) e Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia (IFRO).
Nicoli Dichoff (MTb 3252/SC)
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