Ando provando queijos feitos no Brasil, com aquela feia denominação “tipo”. Há um preconceito viralatista em achar que o queijo não pode ser feito aqui. Camembert francês é sempre melhor que um queijo tipo camembert. Besteira.
Estive uma década atrás em Bueno Brandão, no sul de Minas, visitando o pequeno sítio do Airton Gianesi, mais conhecido pelos queijos Serra das Antas. Os queijos dele são a minha boia de salvação quando não estou na França. O trabalho é sério e o resultado idem.
Claro, pela legislação brasileira ele não pode usar leite sem pasteurização e nem pretende ter caves para maturação como Roquefort e tal. Acho correta a proteção francesa aos seus nomes de origem, vale para os queijos e para os vinhos, que espumante não seja mais chamado champagne, por exemplo, cada coisa é uma coisa. Mas isto não quer dizer que o tipo reblochon do Airton não seja maravilhoso. É.
Um tipo camembert dele é muitas vezes melhor que um industrializado e importado como os da marca Président. Como ele trabalha em escala pequena é preciso usar uns truques em casa, pois os importados chegam em latinhas e o dele é entregue fresco ao revendedor, precisando de algum tempo de espera.
Ou traduzindo, os importados são eternos, ficam lá num estado petrificado de evolução, esperando você abrir a lata; os dele estão sofrendo a ação do tempo, muito mais originais que o medíocre “original”.
Eu compro os meus e coloco na geladadeira, dentro de um recipiente fechado, um tupperware comum. Fico vigiando até que fique no ponto que gosto (bem cremoso por dentro, quase escorrendo e bem fedorento).
O que acontece é que o Airton é honesto, em lugar de chamar de “tipo” ele poderia inventar um nome novo e incrível, e dizer queo queijo é brasileiro. Algo como o Queijo do Fungo Mágico da Serra das Antas, ou o Azul do Céu de Minas. Mas ele é sério, já disse, oferece o melhor produto e não tem razão para ocultá-lo com nomes marqueteiros.
Agora lançou um gorgonzola dolce (ooops, tipo gorgonzola dolce) extraordinário. Gorgonzola doce não é doce, o dolce aí quer dizer suave, ele está num ponto de maturação jovem, é pouco picante e muito cremoso, amanteigado. Fica perfeito passado no pão ou usado para um molho de macarrão ou peixe, por ser menos pauleira que os gorgonzolas típicos.