Prever o preço do quilo do suíno vivo para o ano que se inicia é tão complexo quanto estimar a variação da taxa de câmbio.
Com a troca da equipe econômica no apagar das luzes de 2015 ainda são escassas as previsões para o ano que efetivamente começou hoje. O último relatório do Banco Central, o boletim Focus, encerrou 2015 com a previsão de queda do Produto Interno Bruto em 2,95% para este ano, além de redução de 3,5% na produção industrial. Em 2015 a inflação voltou a assustar, voltando aos dois dígitos, com previsão final em 10,72% no índice geral de preços, e a inflação dos chamados preços administrados em incríveis 18% ao ano, já que a tarifa de energia elétrica subiu 52,3%, a gasolina ficou 17,6% mais cara e o gás de cozinha aumentou 21,7%. Tudo isso reduz o poder de compra dos brasileiros e vai afetar o consumo de itens mais caros da cesta básica, como é o caso das carnes.
Prever o preço do quilo do suíno vivo para o ano que se inicia é tão complexo quanto estimar a variação da taxa de câmbio. Em ambos os casos são muitas as variáveis que afetam a volatilidade do mercado. No caso das cotações do suíno vivo, dois componentes serão fundamentais na formação do preço: a oferta de animais para o abate e o preço da carne vermelha. Apesar de alguns analistas insistirem que os preços ao suinocultor dependerão do mercado externo, não há nenhuma razão prática que leve a isso, já que a exportação brasileira de carne suína representa 15% do total da produção e a expectativa de aumento em 2% ou 3% desse mercado representa apenas 10 ou 15 mil toneladas a mais comercializadas no exterior. A produção total deve crescer os mesmos 3%, o que aumenta em mais de 100 mil toneladas a quantidade de carne suína colocada no mercado.
A oferta de animais para o abate em 2016 pode superar 40 milhões de cabeças. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) o Brasil abateu 10,18 milhões de suínos no terceiro trimestre de 2015 e a expectativa é que esse número cresça em 2016. Será um teste de fogo para os preços pagos ao produtor, já que toda vez que o abate trimestral superou 9 milhões de animais o preço despencou. É justamente aqui que entra a segunda variável mais importante na definição das cotações do animal vivo, o preço que o consumidor vai encontrar a carne vermelha na gôndola do supermercado. Com 85% da produção tendo como destino o mercado interno, e previsão de aumento de mais de 100 mil toneladas na produção e de no máximo 15 mil toneladas na exportação, é novamente o mercado doméstico que vai ditar o preço.
É lógico que há necessidade de mantermos o volume exportado acima de 500 mil toneladas, mas não é o possível aumento do volume embarcado para o exterior que vai definir a dinâmico dos preços pagos ao produtor. Justamente o contrário, é o comportamento dos consumidores brasileiros que vai dizer em que faixa de preço o suíno vivo será comercializado em 2016. No ano passado foi o preço da carne de boi o fator que mais estimulou o brasileiro a buscar a carne suína como alternativa. Com a economia ainda em recessão e a expectativa de preço do boi gordo ainda mais alto que em 2015, novamente neste ano o preço da carne vermelha será o fiel da balança do aumento do consumo interno de carne suína.
Outro fator importante para a economia setorial é o custo de produção, que deve se elevar ainda mais em 2016. Com o dólar previsto além dos R$ 4,00 a paridade de preço da exportação de milho e soja irá afetar diretamente o custo da ração, item que já se aproxima de 80% do custo total de produção. Depois de 30 meses de mercado favorável ao suinocultor, 2016 vai ser de ajustes e necessidade de redução dos custos. O ano se inicia com muito menos expectativas que 2015, pois todos já se deram conta que novamente teremos uma economia em queda, com inflação e desemprego em alta, e queda no poder de compra dos brasileiros. No entanto, 2016 também poderá ser o ano em que a carne suína vai entrar de vez na lista de compra dos brasileiros.
Suinocultura Industrial