Os estudos indicam ainda que, devido à própria inércia do sistema de mudanças climáticas, não é mais possível evitar que a temperatura no mundo suba até 2°C, o que significa que a temperatura em algumas regiões do planeta poderá chegar a 60°C. “Mesmo se parássemos de emitir CO2 a partir de hoje, a temperatura global continuaria aumentando até 2050”, afirma Buckeridge. Algumas consequências desse aumento de temperatura já podem ser vistas e poderão se intensificar nos próximos anos, a exemplo dos furacões, inundações e seca extrema.
Queda na produção e qualidade dos alimentos é um dos alertas previstos no relatório do IPCC
O capítulo 27 do relatório do IPCC, referente ao cenário futuro previsto para a América Central e do Sul, traz “Key risks” ou “Ricos-chave”advindos das mudanças climáticas e o seu potencial de redução através da mitigação e ação de adaptação. No caso da América, cinco riscos principais foram elencados: o aumento do nível do mar/alagamentos causado pelo desgelo nos Andes; o aumento da ocorrência de secas; o branqueamento dos corais (em geral, os ecossistemas marinhos são mais sensíveis ao aumento da temperatura); o aumento da incidência de doenças infecciosas causadas por vetores; e a queda na produção e na qualidade dos alimentos.
No caso específico do trigo, por exemplo, o professor afirma que estudos feitos no Laboratório de Fisiologia Ecológica de Plantas da USP mostraram que o trigo em alta concentração de CO2 tem menos proteínas. “Algumas plantas poderão até ter um pico de crescimento com a elevação do gás carbônico na atmosfera, mas após atingirem o ápice (Tiping Point) desse pico haverá perda da biodiversidade”, prevê o professor.
Buckridge destaca a importância de se realizar mais estudos sobre recursos genéticos de plantas e animais que afetam a biodiversidade e também de se guardar as espécies em bancos de germoplasma para que seja possível regenerar biomas em caso de grandes perdas. “Precisamos produzir mais dados para que possamos fazer as modelagens e projeções para o futuro”, avisa.
O papel de influenciadores dos cientistas e da mídia
Estabelecer um fluxo de informação científica e ideias que tenham o potencial de serem transformadas em políticas públicas é, segundo Sudridge, fundamental para que os países adotem ações de mitigação e adaptação às mudanças climáticas.
No caso do Brasil, duas das metas prometidas na última COP21 são reduzir em 37% as emissões de gases do efeito estufa em relação aos níveis de 2005 até 2025 e aumentar a participação de bioenergia sustentável na matriz energética brasileira para aproximadamente 18% até 2030.
“Quando os cientistas não conseguem alcançar os fazedores de políticas públicas, eles podem tentar influenciá-los indiretamente, e uma das maneiras mais efetivas de se fazer isso é alcançando a mídia global”, afirma.
No entanto, para que isso aconteça, o professor da USP afirma que os devem fazer melhor o trabalho de explicar para a população e para os fazedores de políticas públicas aquilo que fazem. “Isso exige que a gente relaxe um pouco o nosso rigor para que a informação passe e com isso os fazedores de políticas públicas tomem decisões no sentido certo”.
Irene Santana (MTb 11.354/DF)
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