Cerca de 40% das carnes consumidas em todo o mundo vêm da produção de suínos. Ainda alvo de preconceito, por ser considerado por muitas pessoas um alimento gorduroso e que, por isso, supostamente faria mal à saúde humana, as campanhas de instituições representativas da suinocultura tentam desfazer esse mito, já derrubado por vários especialistas em nutrição.
Especialmente no Brasil, há muito que fazer: em sexto lugar no ranking mundial, em termos absolutos, cada brasileiro consome apenas 15 quilos dessa proteína animal por ano, quantidade muito baixa em comparação, por exemplo, aos Estados Unidos, cujo consumo gira em torno de 27,9 quilos; Alemanha, 53,5 quilos; e Hong Kong, 60,4 quilos.
Esse importante setor do agronegócio nacional, mesmo assim, vive um momento ímpar: sozinho, gera mais de um milhão de empregos diretos e indiretos; movimentou quase R$ 150 bilhões do campo à mesa, em 2015; e registrou Produto Interno Bruto (PIB) em torno de R$ 62,5 bilhões, no ano passado. As informações fazem parte do estudo “Mapeamento da Suinocultura Brasileira”, lançado nesta terça-feira, 29 de novembro.
O trabalho foi encomendado pela Associação Brasileira de Criadores de Suínos (ABCS) e pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) à consultoria Markestrat e à Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade, da Universidade de São Paulo (FEA/USP), de Ribeirão Preto.
“São números que mostram a grandeza de um setor que contribui, de maneira determinante, para o desenvolvimento do Brasil, especialmente nos municípios do interior, onde está localizada a maior parte das plantas e das cadeias integradas. A suinocultura brasileira é do tamanho de um país”, comenta o ex-ministro Francisco Turra, presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) e membro da Academia Nacional de Agricultura da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA).
MAIS NÚMEROS
De acordo com o Mapeamento, do total movimentado anualmente pelo setor, a maior parte ocorre no processamento e na comercialização da própria carne. Estima-se que o faturamento “depois da granja” tenha sido de R$ 117,7 bilhões, em 2015, quase 80% de todo o montante.
“São dados fundamentais e expressivos que mostram a importância do setor, também, para outros elos da nossa economia. A expansão desses números passa por uma série de fatores, como a retomada econômica e o aumento das vendas externas, com a conclusão da abertura de novos mercados, como o da Coreia do Sul”, avalia Turra, em entrevista à equipe SNA/RJ.
O estudo ainda mostra que a maior parte do faturamento da suinocultura brasileira é gerada em negociações no mercado interno. Somente em 2015, as vendas de carne suína pelos frigoríficos renderam R$ 40, 3 bilhões, em todo o território nacional, sendo que 93% se relacionam às comercializações domésticas. Entre os produtos suínos, a linguiça fresca foi a que registrou maior faturamento, no mesmo período (R$ 5,8 bilhões).
DERRUBANDO MITOS
O Mapeamento sugere ainda que o baixo consumo de carne suína, no Brasil, poderia ser justificado pela menor disponibilidade de cortes suínos em relação a outras carnes, a exemplo da bovina e de aves. Ainda relaciona isso a fatores culturais atribuídos ao mito de que se trata de uma proteína bastante gordurosa.
“Essa ainda é uma tendência da imagem da carne suína junto ao consumidor brasileiro. Portanto, mitos e visões equivocadas sobre suas reais propriedades nutricionais ainda são desafios para os vários setores que trabalham com essa proteína animal. Mas assim como ocorre com o ovo e até com a carne de frango, a percepção acerca da qualidade da carne suína vem, de forma justa, ganhando novas percepções que ressaltam a qualidade dos nossos produtos. Hoje, ela é servida até mesmo em dietas hospitalares”, relata o presidente da ABPA.
Para conhecer os mitos e verdades sobre a carne suína, acesse a reportagem da Sociedade Nacional de Agricultura (http://sna.agr.br/?p=12598), publicada em 18 de junho de 2014.
PERSPECTIVAS
Projeções da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) e da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) indicam que, até 2021, a produção de carne suína dará um salto de 10%, somando 130 milhões de toneladas em equivalente carcaça. Prevê ainda que o consumo de carne de aves deve superar a suína.
“Junto com questões relativas a custos de produção, estão aliados outros fatores como expansão de consumo de proteínas em países árabes (que não consomem carne suína), giro produtivo mais rápido e outros”, comenta Turra.
ALERTA AO GOVERNO
Diante das perspectivas da FAO e da OCDE, o Mapeamento da Suinocultura Brasileira alerta para a inexistência de um planejamento estruturado por parte do governo brasileiro. Isso fica claro diante dos problemas que envolvem a alta de preços do milho, principal insumo das rações dos animais.
“Embora causado por uma alta nas exportações do grão e frustração na segunda safra do Centro-Oeste em 2016, caso tivesse um estoque regulador significativo, o governo teria sido capaz de manter o preço do milho no mercado interno em um patamar tolerável para o produtor – ainda que distante do ideal”, aponta o estudo.
Por equipe SNA/RJ