Em 1976, um suíno no mercado pesava cerca de 107,95 kg. O relatório semanal de mercado da empresa alimentícia norte-americana Urner Barry’s Comtell (disponível apenas em inglês neste site) de 12 de dezembro de 2014 revelou que a média de peso do suíno vivo para venda era de 130,18 kg. Isso representa um animal 20% maior. As mudanças no organismo e o ganho de peso dos suínos foram graduais, o que significa que geralmente as plantas processadoras menores podem não estar cientes da necessidade de se adequar pocilgas, atordoares e equipamentos de manuseio. Por meio do enfoque no projeto de infraestrutura e da modificação de equipamentos preexistentes, as plantas processadoras podem diminuir e muito as chances de incidência de estresse animal, como é o caso de DOAs (sigla em inglês para Dead On Arrival = animais que chegam já mortos na planta), escoriações, choques entre animais e carne pálida, mole e exsudativa (PSE, na sigla em inglês).
Transporte de suínos e descarregamento de trailers
Os transportadores precisam reconhecer que suínos mais robustos precisam de mais espaço nos trailers. Não é comum encontrar um ou mais compartimentos sobrecarregados em um semirreboque. Se os compartimentos do trailer estiverem lotados com base na quantidade de animais, ao invés de se ater ao peso e ao volume do animal, pode ser que às vezes ocorra sobrecarga. O estresse associado à presença de muitos suínos é multiplicado em longos percursos, especialmente devido a temperaturas extremas no inverno e no verão norte-americanos. Alguns caminhoneiros afirmam que os criadores aparecem do nada com suínos a mais, algo que aqueles profissionais não puderam prever. Se isso acontecer, os compartimentos podem estar muito cheios. Emtrailers sobrecarregados, um ou dois suínos do plantel podem morrer durante o transporte devido a sufocamento ou calor em excesso.
Para os fiscais, a maneira mais fácil de analisar se um compartimento está cheio é dar uma olhada dentro dele: todos os suínos devem ser capazes de se deitar sem que fiquem uns em cima dos outros ou deitados sobre si. Eles têm que se encaixar facilmente no piso do trailer, como em um quebra-cabeças. Tome bastante cuidado durante os meses frios, para se certificar de que os suínos não estejam sendo pressionados contra as laterais dostrailers, dado que podem ocorrer queimaduras por causa do frio. Nos meses do verão, é muito comum ocorrer superaquecimento; então, é crucial que haja ventilação e um gerenciamento logístico dos animais no veículo. Siga as Diretrizes Recomendadas de Manuseio Animal e o Guia de Fiscalização do Instituto Norte-americano da Carne, versão de julho de 2013, disponível apenas em inglês neste link. O capítulo 3 traz informações específicas sobre Diretrizes de Fiscalização de Transporte. A Associação Norte-americana de Criadores de Suínos disponibiliza, também, diretrizes e recomendações da TQA (“Consolidação da Qualidade do Transporte”, na tradução livre a partir do inglês =Trucker Quality Assurance), que estão disponibilizadas, apenas em inglês, aqui.
Currais de espera
Para otimizar o conforto dos suínos antes do abate, é vantajoso que os currais de espera forneçam amplo espaço. A planta geralmente retém cada carga, ou lote de animais, juntos, para garantir sua identificação e rastreabilidade. Muitas plantas processadoras projetaram seus currais de espera de gado quando os suínos eram mais leves. Dessa forma, os currais de hoje em dia podem não mais propiciar uma área individual suficiente para animais maiores. O tamanho do curral deve oferecer espaço suficiente para que cada animal se deite e consiga alcançar a água sem que se pisoteiem. Os suínos tendem a se empilhar uns nos outros, mesmo quando a temperatura está mais quente; então, é proveitoso analisar as áreas de espera para assegurar que os suínos se acalmem e fiquem confortáveis. Sinais de estresse incluem comportamento de animais montando uns nos outros, ofegos devido ao superaquecimento em meses quentes, choques, agitação, guinchos em demasia e insucesso na acomodação (reclinação e descanso dos animais). Se eles aparentarem estar estressados, com muito calor ou empinhocados ao ponto de não conseguirem alcançar a água, pode ser proveitoso dividir as cargas vivas grandes e mais pesadas em mais de um curral e continuar com o processo identificação dos animais, fornecendo-lhes, assim, mais espaço.
Rampas de salto
Caso as distrações sejam minimizadas, o ideal é que as porteiras traseiras sejam totalmente levantadas ou descartadas. No entanto, para plantas que fazem uso de porteiras traseiras, pode ser necessário levantar porteiras tipo guilhotina para “comportar” a altura dos quartos de suínos com porte mais alto. Não se ater a esse fato pode ocasionar sufocamento desnecessário, uso de bastões de estimulação elétrica, escoriações na traseira ou no lombo dos animais: tudo isso pode diminuir a qualidade da carne. Se uma planta tem uma colheita animal de suínos com pesos e tamanhos variados, pode ser necessário dispor de porteiras traseiras e barras de pressão que possam ser levantadas ou baixadas dependendo da altura do animal. O custo de instalação de componentes ajustáveis será recuperado rapidamente quando a planta auferir a queda na incidência de sufocamentos, uso de bastões de estimulação elétrica e defeitos na qualidade cárnea.
Também pode ser necessário modificar o comprimento das rampas de salto. Enquanto trabalhávamos em uma planta de suínos de porte médio (1.500 suínos por dia em um turno) que produz 100 libras (45 kg) de suínos de grande porte, até 400 libras (181 kg) de fêmeas suínas mais leves, descobrimos que alguns dos suínos de musculatura mais robusta, para venda, estavam sufocando animais menores desde a entrada da planta até a rampa de salto. Os suínos eram grandes demais para passar pela entrada! Ao optarmos por uma rampa de salto mais larga, projetada para fêmeas, o sufocamento foi amplamente diminuído e a planta foi capaz de manter a velocidade da linha de produção e reduzir o uso de bastões de estimulação elétrica.
Desafios de contenção
Como consultor de plantas pequenas e muito pequenas, tenho a oportunidade de trabalhar em plantas de processamento de carne suína que processam entre 1.000 e 3.000 animais por dia em apenas um turno. Muitos profissionais ainda fazem uso dos velhos contentores em V, que foram projetados quando os suínos eram muito menores em termos de tamanho. O pessoal da parte operacional às vezes realiza muitos esforços para fazer com que suínos mais robustos e maiores entrem no contentor em V, dado que o animal “pensa que não vai ser comportado nesse contentor”. Uma planta processadora de médio porte, no México, estava abatendo suínos com peso aproximado de 117,93 kg com o objetivo de acrescer 9 kg a seu peso no ano subsequente. O índice de uso de bastões de estimulação elétrica estava ultrapassando a casa dos 60%, pois os suínos não entravam no contentor em V. Eles eram grandes demais! O índice de carne pálida, mole e exsudativa na carne suína estava fora de controle devido ao estresse originado em decorrência da estimulação elétrica por bastões. A estrutura do contentor precisou ser cortada e alargada para acomodar aqueles animais maiores.
Caso os suínos sufoquem na rampa de salto ou nas entradas dos contentores, reserve um tempo para “verificar o que está no campo de visão dos animais” a fim de determinar a razão pela qual eles não se movem para a frente. Não se esqueça de lembrar aos funcionários da planta para que levantem totalmente portas e porteiras ou ajustem a largura dessas entradas à medida em que o tamanho dos suínos mudar ao longo do dia, a fim de que possam se mover para a frente confortavelmente sem que a porteira toque suas cabeças, lombo ou quarto traseiro.
Atordoamento
O atordoamento de suínos maiores também pode ser dificultoso. Em plantas muito pequenas, fazer uso dos velhos dardos de atordoamento cativo, como o Schermer ou Cash Magnum, pode não resultar em uma penetração profunda ou potente o suficiente para atordoar com eficácia um suíno de engorda para venda. Pode ser que a planta necessite lançar mão de um dardo com penetração mais profunda, presente nas pistolas Cash Magnum Heavy Duty ou Cash Special Heavy Duty.
Câmaras frigoríficas menores fazem uso frequente dos atordoares elétricos Best e Donovan no atordoamento. Os suínos de engorda mais robustos disponíveis para venda tornam-se um empecilho no atordoamento, uma vez que a haste mal alcança suas cabeças. Substituí-la com extensões da Best e Donovan tem sido extremamente útil para assegurar um atordoamento eficaz da cabeça e do coração. Também é preciso ajustar a voltagem do atordoador para animais mais pesados. Acesse minha página para obter informações sobre as alterações, configurações e manutenção dos atordoadores Best and Donovan.
Dedicar um pouco de seu tempo para “pensar como o animal” e reconhecer o quanto o seu tamanho influencia no transporte, tempo de espera no curral, atordoamento e abate pode melhorar muito, em termos gerais, seu manuseio, bem-estar e qualidade cárnea.
Este artigo foi escrito por Erika Voogd, diretora e fundadora da Voogd Consulting.