Campo Grande (MS) – Em suas mãos, a responsabilidade de acompanhar a produtividade da agricultura familiar dos escritórios da Agraer (Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural) de oito municípios do Sul do Estado. É com essa missão que toda semana, de segunda à sexta-feira, em uma jornada de 40 horas diárias e, às vezes, até um pouco mais, a engenheira agrônoma Alessandra Afonseca sai de casa para exercer o seu papel de coordenadora regional da Agraer de Naviraí.
Função que ela assumiu há pouco mais de quatro meses, mas já sente o peso da confiança que lhe foi depositada, principalmente, em ser uma das únicas mulheres a ocupar uma das cadeiras de gerência das oito regionais da Agência, no Mato Grosso do Sul: Campo Grande, Anastácio, Coxim, Dourados, Nova Andradina, Ponta Porã, Três Lagoas e Naviraí.
Além de Alessandra, apenas a zootecnista Vera Lúcia Golze ocupa mesmo posto de destaque dentro da Instituição que tem como missão cuidar da agricultura familiar sul-mato-grossense, a fim de garantir o desenvolvimento socioeconômico no campo para o bem-estar rural e urbano. “Até onde sei, há mais de dez anos que uma mulher não ocupava um cargo como esse. Eu e a Vera estamos tendo uma oportunidade como profissional e mulher. A mulher tem tanta capacidade como o homem”, enfatiza a engenheira agrônoma.
Chance essa que já vem sendo notada por autoridades de Naviraí e municípios vizinhos, conta a profissional. “Vários colegas vieram me dar os parabéns e cheguei a receber ofícios de vereadores e prefeitos que ressaltaram essa qualidade da atual diretoria, da Agraer, em colocar mulheres no cargo”.
Entretanto, nem tudo são flores nessa nova etapa como coordenadora. Mesmo com as mudanças culturais que repercutem no mercado de trabalho, a engenheira agrônoma conta que a resistência masculina está longe de ser uma questão do passado. “Não são todos os homens, mas há muitos que ficam com o pé atrás, sim. É aquela coisa de ‘será que ela vai dar conta? ’. Então, você tem que ter sua postura e ser enérgica dentro do que condiz, porque os desafios no cargo são os mesmos que são para os homens”, afirma.
Dona de um perfil dinâmico desde o tempo em que era estudante de Agronomia, na UEL (Universidade Estadual de Londrina/PR), Alessandra Afonseca acredita que apesar da pouca experiência em um cargo de chefia, o seu comportamento foi um dos grandes indicadores que a levaram a nomeação.
“Foi uma honra quando recebi a notícia. Fiquei de certo modo muito envaidecida e feliz. Não era uma ambição minha. No momento, veio como um reconhecimento porque se eu for parar para pensar sobre vejo que a diretoria escolheu o meu nome por merecimento”.
Sua designação foi fruto do reconhecimento profissional de seu superior, o gerente de desenvolvimento agrário e abastecimento Silvio Vargas. “A meritocracia que vem sendo implantada, no Estado, pelo governador Reinaldo Azambuja aliada a forma de gestão da atual diretoria da Agraer me faz acreditar que foram essas as razões pelas quais meu nome foi sugerido”.
“Também não sou fácil de ser dobrada e sigo as regras estabelecidas. Acredito que a diretoria buscava um perfil e eu correspondia. Afinal, os resultados de uma instituição do tamanho da Agraer dependem do nível de interação e valores que as lideranças regionais têm com o diretor-presidente Enelvo Felini”.
“A princípio, eu teria que assumir em um município mais central. Porém, aqui eu tenho minha família que me dá suporte na educação dos meus dois filhos, Pedro [de 16 anos] e Gabriela [de 12 anos]. A direção soube me ouvir e assim eu pude me ajustar às tarefas”.
Em dose dupla
Separada há alguns anos, Alessandra assume uma dupla jornada para cuidar dos dois adolescentes e ainda ter tempo suficiente para administrar o escritório de Naviraí e visitar as outras sete cidades e o posto avançado de sua regional: Itaquiraí, Japorã, Mundo Novo, Sete Quedas Tacuru, Eldorado, Iguatemi e o Posto Avançado Nossa Senhora Auxiliadora ( Iguatemi).
“A recomendação é percorrer os municípios de duas a três vezes na semana. Claro, que isso depende da demanda de cada escritório, da disponibilidade de agenda da equipe e autoridades locais. É meio loucura, mas eu gosto do que faço”.
E para não perder o foco em meio à correria, ela afirma usar a capacidade feminina de fazer várias coisas ao mesmo tempo. “Saiu de uma realidade e vou para outra em questão de minutos. No horário do almoço, posso ir pegar meus filhos na escola ou comprar aquele presentinho de aniversário para um amiguinho deles. Já aconteceu de eu estar na Capital a trabalho e aproveitar o intervalo de uma reunião para ligar para o açougue, em Naviraí, para adiantar as tarefas do jantar”.
“Filho não separa a figura de mãe e profissional em você. Eu vou para o trabalho, mas para eles continuo sendo mãe. Por isso, cabe a mim dosar as coisas, sem deixar que uma afete a outra”.
Nesse jogo de equilíbrio, Alessandra conta com figuras importantes de contrapeso: a família (pais e irmãos) e a sua secretária do lar, Antônia. “Nasci em Londrina, mas vim criança para Naviraí. Aqui, conto com o suporte de minha família e também com o auxílio de minha funcionária. Mesmo com meus compromissos, meus filhos não ficam abandonados ou eu não ficaria tranquila”, justifica.
Espelho familiar
A fonte de toda essa energia, ela revela que se encontra ainda na infância. “Fora minha mãe, que sempre foi uma mulher muito ativa e empreendedora, tenho na pessoa da minha avó paterna outra referência. Morei com ela, na época de faculdade, e vi toda sua garra. Uma mineira que após se separar foi morar no Paraná, em busca de oportunidades para os seus oito filhos. Isso na década de 50, o que não era uma coisa comum. Vejo que as mulheres da minha família são muito fortes e isso influência”.
Força essa que também busca empregar em benefício da agricultura familiar. “Quando você coloca a mulher como coordenadora, ela tem esse jogo de cintura a favor. Acredito que conseguimos ser várias em uma só sem se perder pelo caminho”.
E quando a questão é foco traçado, o dela só há um: Agraer. “Estou centrada na coordenação da regional de Naviraí. Outros projetos só daqui alguns anos, depois de ter colocado meus filhos na faculdade e contribuído com a Agência. Agora, não posso me dar ao luxo de tirar mais uma fatia do meu tempo”, pontua.
Aline Lira – Assessoria de Comunicação Agraer