O caminho para se chegar à liderança, os desafios, os atributos e acima de tudo, as motivações do bom líder, foram tópicos da palestra que o secretário de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc), Jaime Verruck, proferiu na manhã dessa sexta-feira (11), durante o Encontro de Líderes dos Territórios Empreendedores, realizado no Centro de Convenções Arquiteto Rubens Gil de Camillo, em Campo Grande. “O líder tem que ter um nível de audácia, precisa ser desafiado, ser levado a um esforço adicional, não ficar restrito ao que tem certeza que conseguirá fazer”, disse o secretário.
O Encontro de Líderes dos Territórios Empreendedores reúne milhares de participantes de todo Estado, sobretudo prefeitos, vereadores, secretários municipais, gestores públicos, empresários e demais lideranças. É promovido em parceria pelo Sebrae/MS (Serviço Brasileiro de Apoio às Micros e Pequenas Empresas) e Governo do Estado. O governador Eduardo Riedel, a senadora Tereza Cristina, a prefeita de Campo Grande, Adriane Lopes e o superintende do Sebrae/MS, Claudio Mendonça, entre outras autoridades, participaram da abertura.
Abordando a liderança dentro do setor público, o secretário Jaime Verruck estabeleceu diferenças fundamentais entre esse agente e o líder empresarial, com experiência de haver atuado em ambos. “No setor privado temos metas definidas, os indicadores são claros, as ferramentas estão disponíveis. Só preciso aumentar a venda, ou a produção, ou cortar aqui, ou expandir ali”, exemplificou.
Horizonte elástico
No setor público os horizontes são elásticos, os objetos nem sempre conhecidos e, consequentemente, os desafios se avolumam, até porque, além de perseguir as metas determinadas pela gestão, ainda há as demandas diárias que tomam muito tempo e energia do gestor. “Não assumimos o Estado para gerenciar fartura”, contemporizou Verruck, lembrando as conquistas de Mato Grosso do Sul em diferentes áreas que colocam o Estado no topo do ranking nacional em geração de empregos, redução da miséria, crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) e renda per capita, entre outros.
“Se acharmos que esses indicadores são fruto do acaso, do bom momento da economia, então temos que ir pra casa”, disse, salientando que os números positivos exibidos pelo Estado são resultados dos esforços de toda gestão, de planejamento, metas claras e visão de longo prazo. Essa capacidade de enxergar adiante é uma característica fundamental do líder, afirmou.
Programa PacPoa
Outra marca do bom líder é a disposição para quebrar paradigmas, acrescentou o secretário. Um exemplo de medida simples, porém que demandou muito tempo e esforço e só foi tomada após anos de tentativas e recuos, foi o Programa de Apoio à Comercialização de Produtos de Origem Animal (PacPoa), lançado em abril desse ano pelo governador Eduardo Riedel.
“O produtor de queijo de Chapadão do Sul não podia vender seu produto em Campo Grande. Se eu quisesse consumir esse queijo, tinha que ir lá, comprar e trazer, aí podia. Passamos anos discutindo isso. Há três ou quatro meses atrás descobrimos o caminho. Simples: se o produtor tem a certificação do SIM (Serviço de Inspeção Municipal), pode vender em todo Estado”, resumiu.
Essas amarras burocráticas são desafios a serem enfrentados pelo bom líder. O secretário citou a alegoria do elefante de circo que é amarrado por um barbante e não consegue se mover. “Isso acontece porque esse animal não tem noção da força que possui, senão romperia esse barbante a qualquer momento. Muitas vezes nós também nos esquecemos de nosso potencial e nos sujeitamos a essas amarras”.
A palestra de Jaime Verruck teve ainda tópicos demonstrando como formar bons líderes (capacidade contínua, planejamento com visão de longo prazo, legitimidade pela entrega) e como o líder ser “catalisador de futuros”. Nesse sentido, liderar um território é assumir uma missão histórica. Dessa forma, o bom líder precisa ter propósitos claros, desenvolver equipes sólidas, integrar áreas de governo com visão transversal, mobilizar a sociedade em torno de projetos comuns e deixar legados estruturantes.
Mais palestras
O Encontro de Líderes de Territórios Empreendedores prossegue durante todo o dia. Após a palestra de Jaime Verruck, apresentou-se a refugiada síria que se destacou no Brasil pelo empreendedorismo e pela lição de vida, Myria Tokmaji. Ela contou os tormentos que viveu na Síria durante revolta armada de 2011, a decisão de família de migrar para o Brasil e as dificuldades que enfrentou, a começar pela barreira do idioma. Enfrentou e venceu todos os desafios, transformando-se em exemplo de sucesso.
Ainda pela manhã aconteceu o Painel “Liderança que constrói pontes”, mediado pelo superintendente do Sebrae/MS, Claudio Mendonça, tendo como painelistas a senadora Teresa Cristina e o presidente da Associação de Municípios de Mato Grosso do Sul (Assomasul), o prefeito de Itaquiraí Thalles Tomazelli.
Na parte da tarde haverá mais três palestras: Imagem das Lideranças e a Liderança das Imagens, com Sérgio Augusto Arapinha; Liderança com Impactos: como Construir Territórios Empreendedores, com Ângelo Roncalli; Poder e Propósitos: o Papel do Gestor na Construção de Territórios Sustentáveis, com o historiador e filósofo Leandro Karnal.
Texto: João Prestes
Fotos: Mairinco de Pauda