A combinação de temperaturas elevadas com chuvas abaixo da média histórica nos últimos meses prepara um ambiente semelhante ao ocorrido em 2020, quando o Pantanal sofreu a maior catástrofe de que se tem registro, tendo mais de 3 milhões de hectares destruídas pelo fogo. A afirmação foi feita pelo secretário de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc) de Mato Grosso do Sul, Jaime Verruck, durante a abertura do 1º Workshop Presencial de Prevenção aos Incêndios Florestais que acontece nessa terça-feira (9) e amanhã (10), no auditório da Famasul (Federação de Agricultura de Mago Grosso do Sul).
O alerta foi reforçado por especialistas de diferentes instituições como o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento de Desastres Naturais), do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) e do Lasa (Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais) da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Essas instituições enviaram representantes para proferir palestras no workshop, ainda na programação matutina, e minicursos no período vespertino dos dois dias.
“Só quem esteve presente em 2020 tem a dimensão do que ocorreu no Pantanal”, ponderou o governador Eduardo Riedel, durante a abertura do evento. Ele descreveu o momento como “desafiador” e salientou que o aprendizado se deu a um “custo altíssimo” para o meio ambiente, referindo-se à destruição da biodiversidade causada pelos incêndios daquele ano. “O momento de hoje só foi possível por causa das crises vividas e da capacidade dos agentes presentes de deixar de apontar dedos e partir para ação”, pontuou.
O governador lembrou que o fogo é uma realidade posta no cotidiano pantaneiro e que é preciso aprender a lidar com a situação, convertendo-o em aliado na luta para combater a ocorrência de incêndios, que é o momento em que o fogo foge do controle. “Os indicadores climáticos nos apontam para uma situação de risco. Pode vir ou pode não vir, mas estaremos prontos”, acrescentou.
Emergência e Queima Prescrita
Riedel e o secretário Jaime Verruck assinaram decreto que declara “Estado de Emergência Ambiental” em todo território de Mato Grosso do Sul pelo prazo de 180 dias, tendo em vista as “condições climáticas que favorecem a propagação de focos de incêndios florestais sem controle, sobre qualquer tipo de vegetação, acarretando queda drástica na qualidade do ar”. O governador anunciou, ainda, a liberação de R$ 25 milhões para custeio das ações de prevenção e combate aos incêndios florestais e lembrou os investimentos significativos que o Estado fez nos últimos anos nesse setor, como a compra de dois aviões, barcos, viaturas, equipamentos e materiais.
O mesmo decreto ainda traz a possibilidade da adoção de uma medida inédita por parte do Poder Público: a queima prescrita em propriedades particulares. O decreto estabelece que “nas páreas identificadas com acúmulo de material comburente pelo Sistema de Inteligência do Fogo em Áreas Úmidas (Sifau) o Estado poderá prescrever e autorizar a realização de queimas controladas ou de queimas prescritas, mesmo durante a vigência deste Decreto; auxiliar a realização de queimas prescritas em áreas particulares”.
“Onde for identificado, através do monitoramento pelo sistema de vigilância, a presença de biomassa e riscos de incêndio, o proprietário será notificado a proceder a queimada e o Estado estará presente para garantir que se faça dentro das normas de segurança”, afirmou Verruck.
Essa queima prescrita é inédita no País – pois pode ser executada por iniciativa do Estado em áreas particulares – e se diferencia da queima controlada que já vem sendo feita em unidades de conservação. Em áreas particulares a queima controlada também já é feita, por iniciativa do proprietário – que executa a ação após autorização do Imasul (Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul).
O Estado já identificou áreas com potencial risco de provocar incêndios e vai começar a executar a queima prescrita nessas propriedades nos próximos dias, anunciou o secretário de Meio Ambiente da Semadesc, Artur Falcette. Para tanto, os proprietários serão comunicados e toda estrutura de apoio será deslocada para tomar as providências necessárias. A queima só será executada dentro das condições adequadas de segurança, garantiu Falcette.
O evento
Durante a manhã desse primeiro dia do Workshop aconteceram quatro apresentações técnicas: Fabiano Morelli, do Inpe, falou sobre o Programa de Queimadas do Instituto; Liana Anderson, do Cemaden, discorreu sobre o Monitoramento da previsão da probabilidade do fogo para áreas protegidas; Renata Lobonati, da UFRJ, apresentou a pilastra “Alertas de área queimada por satélite: o sistema Alarmes e a Plataforma Sifau” e o analista ambiental do ICMBio, Bruno Cambraia, tratou das ações do Governo Federal na perspectiva da prevenção e combate a incêndios no Pantanal.
A programação da tarde – dos dois dias – é reservada a dois minicursos: 13h30 – Parte teórica dos produtos do Cemaden, com Liana Anderson, e 15h – Parte teórica dos produtos da Lasa, com Renata Libonati.
O evento prossegue na quarta-feira, no mesmo local (auditório da Famasul), com seis apresentações pela manhã: Análise das condições meteorológicas observadas e Previsão Climática Sazonal (Cemtec/Sema/Semadesc); Ações de prevenção, preparação e resposta aos Incêndios Florestais: Queimas prescritas e controladas e suas autorizações (Bruna Oliveira, do Imasul); Ações de prevenção, preparação e resposta aos Incêndios Florestais: tenente coronel do Bombeiro Militar, Tatiane Dias de Oliveira Inoue; Inteligência Artificial para a predição de fogo no Pantanal (GianLucca Lodron Zuin, Empresa Kunumi); Implicações legais dos Incêndios Florestais de Mato Grosso do Sul, promotor de Justiça Luciano Loubet e tenente coronel Cleiton da Silva (PMA); Plano de Contingência da Energisa e o impacto das queimadas em Mato Grosso do Sul; Marcelo Santana, da Energisa); Disponibilização de recursos e ações para combate aos incêndios – Defesa Civil de Mato Grosso do Sul.
Ao todo, 136 pessoas se inscreveram para participar do evento. A maioria são moradores do Estado, porém participam também representações da Bahia, Mato Grosso e Rio Grande do Sul. As inscrições se encerraram na segunda-feira (8) e eram gratuitas.
Texto: João Prestes
Fotos: Mairinco de Pauda