A instabilidade política no Brasil e no mundo inspira “conservadorismo”. Essa foi a mensagem transmitida ontem pela Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) em encontro com jornalistas para falar sobre o desempenho das exportações de carne neste ano e das expectativas para 2017. Diante da perspectiva de consumo ainda fraco no mercado doméstico, o setor aposta na recuperação dos embarques em 2017, ciente de que oscilações cambiais podem atrapalhar os planos.
“Nossa projeção para o ano que vem é bem conservadora. Depende muito do cenário político. Essa conta tem que ser feita todo dia”, afirmou o presidente da Abiec, Antonio Camardelli durante o evento.
A postura mais cautelosa sobre o ano que vem é também resultado da frustração das expectativas de 2016. Após iniciar o ano projetando um crescimento de 25% nos embarques de carne bovina, as exportações do país devem fechar 2016 sem avanço. Segundo a Abiec, as vendas neste ano somaram 1,39 milhão de toneladas, o mesmo patamar registrado no ano passado.
Para 2017, a Abiec projetou que os embarques totalizarão 1,54 milhão de toneladas, 11% acima deste ano. Em receita, os embarques deverão somar US$ 6 bilhões, avanço de 9% ante os US$ 5,5 bilhões deste ano. A despeito das estimativas de crescimento, Camardelli ressalvou que o desempenho considera um dólar entre R$ 3,40 e R$ 3,45 em 2017. Mas essa é uma variável dependente da condição política global, que ficou mais nebulosa após a eleição do empresário Donald Trump nos EUA, notou.
Por ora, os frigoríficos brasileiros contam com a recuperação das exportações de carne bovina para Irã, Rússia e Egito. De acordo com Camardelli, o acordo da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) que visa a restringir a produção do combustível deve favorecer a demanda de países como Irã e Rússia. No caso iraniano, o acordo nuclear firmado neste ano também deve contribuir, afirmou.
Quarto maior importador da carne bovina brasileira em boa parte do ano, o Egito reduziu drasticamente as compras do produto brasileiro no quarto trimestre por conta da escassez de dólares no país. Para Camardelli, isso deve ser reverter em 2017. “O mundo não vai deixar o Egito sem dólares”, avaliou ele.
A Abiec também trabalha com a possibilidade da abertura de novos mercados em 2017. Os mais prováveis, disse Camardelli, são México e Canadá. Outra possibilidade é a Indonésia. Após o período de consultas, o governo brasileiro vai entrar com um painel contra o país asiático na Organização Mundial de Comércio (OMC).
Mas o presidente da Abiec reconheceu as dificuldades nas negociações para a abertura do Japão à carne bovina in natura brasileira. Segundo ele, os ministros da Agricultura, Blairo Maggi, e das Relações Exteriores, José Serra, deram um “fôlego novo às negociações”, mas o Japão – o mercado mais cobiçado pelos frigorífico brasileiros – continua sendo um “país complicado”.
Segundo Camardelli, a única novidade positiva vinda do Japão deve ser a reabertura do mercado de carne bovina industrializada e miúdos cozidos. No passado, o Brasil teve autorização para vender esses itens aos japoneses, mas no fim de 2012 o país asiático proibiu as compras de carne industrializada do Brasil devido à ocorrência de um caso atípico do “mal da vaca louca” no Paraná.
Pelos cálculos da Abiec, a abertura total de Japão, Coreia do Sul, Taiwan, Indonésia, Canadá, México poderia render cerca de US$ 1 bilhão por ano aos exportadores brasileiros, considerando a participação de mercado de cerca de 20% que o Brasil tem no comércio global de carne bovina.
Luiz Henrique Mendes
Valor Econômico