Chuva e altas temperaturas, a combinação típica de verão é a grande vilã do aumento nas despesas com o hortifrúti.
Na média de 2015, os produtos agora foram comercializados cerca de 3,64% acima da inflação e pelo menos até meados de março a demanda aquecida deve mantê-los no topo. O impacto do clima nas lavouras de frutas e hortaliças começou antes mesmo da entrada da estação mais quente do ano. O economista da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), Flávio Godas, conta que este cenário teve início entre os meses de outubro e novembro, quando, sazonalmente, o oferta é maior e os preços mais baixos. Com isso, o indicador da organização encerrou o ano com alta de 14,31%.
Ainda não temos os números exatos de 2016, mas já sabemos que janeiro começou com os valores em uma alta que deve se estender por todo o primeiro trimestre , afirma o especialista. Além disso, a estação favorece a procura dos consumidores por alimentos mais frescos, como legumes e verduras. Logo, uma menor oferta e maior demanda sustentam os preços altos.
O tomate, por exemplo, continua em evidência no ranking dos mais caros. Em 2015, o valor subiu 47,45%, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do mês de dezembro.
A cebola, outro exemplo, apesar das inúmeras tentativas de recompor a oferta interna, através da importação procedente da Argentina, Holanda, Espanha, entre outros países, permaneceu com preços elevados durante praticamente todo o ano.
O presidente do Instituto Brasileiro de Frutas (Ibraf), Moacir Saraiva Fernandes, estima que as frutas tenham sofrido um acréscimo médio de 25% nos valores de venda.
Falta e excesso de chuva
O ano passado foi marcado pela falta de chuvas, fato que desencadeia um grande problema para o hortifrúti, cuja produção é amplamente dependente da irrigação.
Durante a crise hídrica chegamos a diminuir cerca de 30% da nossa produção. O governo veio aqui e tivemos que desligar as bombas, lembra o diretor de marketing e produto da Tomita Hortaliças, Ismael Mendonça. A companhia está entre os fornecedores de grandes redes como o Grupo Pão de Açúcar, os supermercados St. Marche e o atacadista Assaí.
Localizado no município paulista de Salesópolis, o executivo destaca que diversos agricultores da região do Alto Tietê deixaram de produzir naquela época por conta dos altos custos na lavoura. Isso diminui produção e, em consequência, aumenta preço , ressalta.
Os meses se passaram, a chuva voltou, porém, mais forte do que se esperava. Atualmente, é o excesso de água no campo que tem trazido prejuízos. Quando o clima muda você tem novas pragas e novas doenças, é um desiquilíbrio enorme , diz Fernandes. Plantações doentes carecem de uma quantidade maior de agroquímicos, no entanto, a maior parte dos defensivos é importada e o efeito do dólar onerou os gastos com este e outros insumos.
E deixar de usar os importados não é uma saída. O presidente da Associação Brasileira do Comércio de Sementes e Mudas (Abcsem), Steven Udsen, comenta que a morosidade no processo de registro de produtos para o controle de pragas em hortaliças é tão grande que faz com que o produtor, por falta de opção, busquedefensivos agrícolas destinados a outras culturas. Um exemplo em que isto acontece é no cultivo de pimentão. A dica, além do uso de cultivares mais resistentes, é fazer a adoção de controles biológicos, estufas e sistemas hidropônicos de cultivo.
Saída comercial
Os produtores que não desistiram de cultivar hortifrúti tiveram como alternativa a exportação, uma vez que o dólar alto beneficia a melhoria de renda do setor. O presidente do Ibraf afirma que, no ano passado, o mercado internacional comprou cerca de 779 mil toneladas de frutas brasileiras, o equivalente a US$ 672,6 milhões. Trata-se de um ganho de 15,91% em volume e 5,72% em valor, de acordo com os dados consolidados pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex).
Na realidade nós exportamos uma maior quantidade mas os preços do conjunto da cesta de frutas foi cerca de 11,5% menor do que em 2014. Verificou-se uma desvalorização do perfil das frutas, no conjunto, isso é preocupante , ressalta Fernandes.
As frutas frescas continuam sendo o principal mote dos exportadores brasileiros, o problema é que os melhores pagadores já possuem seus fornecedores. Se embarcarmos uma tonelada a mais é porque tiramos uma tonelada de alguém, explica.
Na contrapartida, a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina (Faesc) está preocupada com as maçãs importadas dos chineses, cuja autorização veio em dezembro. O temor é porque a China convive com pragas que já foram erradicadas no Brasil.