Três Lagoas (MS) – Um projeto piloto na área agrícola, desenvolvido na Penitenciária de Segurança Média de Três Lagoas, está contribuindo para a capacitação, geração de renda e, até mesmo, como meio de inclusão de detentos. Uma horta hidropônica foi instalada no pavilhão destinado a internos que possuem dificuldades motoras e idosos, entre outras limitações, que dificultam a inserção em atividades laborais.
A ação faz parte da política de ações da Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário (Agepen) para a ressocialização de detentos e a redução nos índices de reincidência criminal.
Idealizada pelo diretor do presídio, Raul Augusto Aparecido Sá Ramalho, a iniciativa teve início há cerca de um ano e meio, quando ele ainda era chefe do setor de trabalho do local. Natural do interior de São Paulo e conhecedor do meio rural, o dirigente conta que viu na hidroponia uma possibilidade de aumentar as vagas de trabalho para os reeducandos, e representar também um meio de capacitá-los para a geração de renda lícita.
Segundo o diretor, a “ideia de horta” sempre ficava prejudicada pela “falta de servidores” para acompanhar os internos durante os trabalhos, que seriam nos fundos da Penitenciária. “Foi daí que surgiu a ideia de aproveitarmos o espaço existente no pavilhão 5, cuja vigilância fica mais fácil e, ao mesmo tempo, poderíamos oportunizar trabalho a esse grupo de custodiados, que devido às suas características, temos dificuldade de inseri-los em atividades laborais”, conta.
Raul relata que os internos participaram também do processo de estruturação dos espaços, desde a construção do barracão ao sistema hidráulico. “Todos ficaram muito empolgados com a implementação da hidroponia, sem levar em conta que a questão do verde e o cultivo de planta repercute de maneira significativa no estado emocional e psicológico do reeducando, gerando entusiasmo, esperança e tranquilidade às pessoas que desempenham esse tipo de atividade”, ressalta.
No sistema hidropônico, as hortaliças são imersas numa solução de água contendo os micro e macro nutrientes necessários para o desenvolvimento da planta, livre dos problemas climáticos externos (chuvas, ventos e insolação), de forma a acelerar o crescimento das plantas, com aumento de produtividade e uniformidade na produção, se comparado ao cultivo tradicional. No local, são cultivadas hortaliças como rúcula, almeirão, couve e alfaces crespa, roxa e americana .
A horta da penitenciária está instalada num espaço de 15×12 e foi montada a partir de materiais reaproveitados para baratear os custos, como canos de PVC recicláveis para baratear o projeto, madeiras de demolição e placas de forro de PVC usados. “Também adequamos um motor de bomba para piscina e registros para a irrigação”, revela o diretor, explicando que a orientação técnica é oferecida pelas empresas fornecedoras dos insumos.
Atualmente seis reeducandos trabalham com a produção, com remição de um dia na pena a cada três trabalhados. Euflávio Alves de Souza, 47 anos, que possui deficiência de locomoção, atua na horta desde o início do empreendimento e acredita que essa oportunidade “vem trazer uma nova esperança para os custodiados, como forma de reintegrá-los à sociedade”, além de deixar o ambiente mais humanizado. “Antes aqui neste pavilhão, só tínhamos um gramado e um barranco de terra sem utilidade”, ressalta.
As verduras colhidas estão sendo repassadas à Pastoral Carcerária e à Federação Espírita de Três Lagoas para serem comercializadas. Parte do dinheiro arrecadado é convertido na compra de mais insumos para a horta e a outra parte em ações de assistência aos internos.
Além disso, está agendada uma reunião com a direção do Hospital Nossa Senhora Auxiliadora, no sentido de estudar convênio de doação de hortaliças para o hospital e aquisição de mudas, mediante patrocínio financeiro do Conselho da Comunidade de Três Lagoas.
Conforme Raul, a intenção é que, no futuro, possa ser firmada parcerias com empresas de alimentação e, até mesmo, com o poder público local, para abastecimento de escolas, creches e instituições sociais. “Queremos ampliar a produção, aproveitando também outros espaços do presídio e estabelecendo a logística de prazos para cultivo, já que, no sistema de hidroponia, as hortaliças ficam prontas para comercialização em pouco tempo e com garantia de boa qualidade e livre de agrotóxicos pesados”, comenta. “Com essa ampliação, também poderá representar uma fonte de renda aos custodiados”, completa.
Para o diretor-presidente da Agepen, Ailton Stropa Garcia, iniciativas de ressocialização e contribuição com as comunidades locais são uma realidade em todas as unidades do sistema penitenciário estadual, razão pela qual parabeniza o Diretor Raul e todos os servidores do Presídio de Três Lagoas pela realização.
Agepen