O fato de ter passado boa parte de sua infância no interior de Minas, é para Fernando Mendes Lamas o motivo do interesse precoce nas ciências agrárias.
Após cursar o primário e iniciar o ginasial no pequeno município de Dona Euzébia, fase concluída em Juiz de Fora – sua cidade natal – o jovem Fernando fez o curso de Técnico Agrícola em Rio Pomba e a contragosto dos pais, ao ser aprovado no concurso público, foi exercer, a função no Instituto Brasileiro do Café (IBC) – já instinto – em Cruzeiro do Oeste (região de Maringá), no Paraná, onde trabalhou basicamente com conservação de solos.
Sem deixar de lado, nem por um momento, o sonho de ser Engenheiro Agrônomo, em um ano estava de volta a Minas para se preparar para o vestibular.
Aprovado na Universidade Federal de Viçosa, ao mesmo tempo em que se dedicava aos estudos era muito presente nas rodas de jovens estudantes na praça central da cidade, onde fez muitos amigos.
No alojamento da Universidade localizado no campus universitário, onde morou durante toda vida acadêmica, as coisas não eram nada fáceis. Fernando conta que a Universidade era muito rígida e os professores muito exigentes. “Também tinha o tal de jubilamento, ou seja, não bastava ser aprovado numa disciplina, tinha que obter boa média, caso contrário era desligado, ‘jubilado’” contou, lembrando que infelizmente vários colegas passaram por esta situação.
Durante a graduação, entendia e defendia que, para fazer pós-graduação ele primeiro deveria trabalhar durante cinco anos, dai sim voltar à Universidade para fazer Mestrado. E assim o fez.
Quando terminou o curso de Agronomia, no final dos anos 70, tinha grande desejo de trabalhar como Extensionista da Emater, o que naquele momento não foi possível.
Naquela época as oportunidades de emprego eram escassas. “Tive um convite para ser extensionista da Emater de Rondônia, àquela época, ainda território federal, mas declinei. Ouvíamos falar de grandes dificuldades para realizar o trabalho naquele Estado e preferi não arriscar.” Completou.
Como Engenheiro Agrônomo sua primeira atividade profissional foi realizada então, numa empresa produtora de defensivos agrícolas em São Paulo.
Além dos desafios que vem com o primeiro emprego, na maior cidade do País Fernando ainda tinha que conviver com as condições, muito diferentes da que vivera boa parte de sua vida, no interior, em cidades pacatas e bem menores.
Foram 18 meses e, mesmo sem nenhuma pratica, Fernando conseguiu realizar um bom trabalho no setor de desenvolvimento da empresa, aproveitando seu conhecimento teórico principalmente nas áreas da olericultura e fruticultura.
Foi quando lhe surgiu a oportunidade de prestar um concurso para ingresso na EMPAER de Mato Grosso do Sul. Mesmo sabendo que o processo de seleção era longo e complicado, Fernando não teve duvidas, deixou o emprego na multinacional e veio para o Mato Grosso do Sul, em busca da oportunidade.
Deu certo.
Era agosto de 1980 e enfim Fernando conseguia a vaga na EMPAER-MS, como Extensionista local.
Antes porem passou por estágio no Escritório de Paranaíba, depois por treinamento de pré-serviço em Campo Grande, onde o foco era metodologia de extensão rural e comunicação.
Durante a permanência em Campo Grande, Fernando lembra que ficou hospedado no Hotel Nacional, próximo à antiga rodoviária, a época uma área considerada glamorosa.
Mais um mês de treinamento na região de Dourados, e enfim sua designação definitiva para o Escritório de Mundo Novo.
Cidade pacata, criada a partir de um assentamento da reforma agrária executada pelo INCRA, em Mundo Novo predominava a atividade da agricultura familiar – naquela época denominada de baixa renda. “Os agricultores eram chamados de parceleiros. Tudo era muito diferente, a cidade não tinha qualquer infraestrutura. Nada de telefone, televisão, asfalto, rede de esgoto ou agua tratada. As dificuldades eram muito grandes”. Comentou.
Dentro daquele novo Estado, a cidade com melhores condições e mais próxima era Dourados, a 250 quilômetros. Fernando lembra que levavam mais de seis horas de Jeep ou Gurgel na estrada de terra, cheia de bancos de areia, para se chegar até lá. Fora do Estado, tinha Guaíra, no Paraná, onde se podia chegar de balsa, numa travessia que durava cerca de meia hora.
A enorme carência da cidade e a atividade muito intensa de trabalho durante esse período o motivava a buscar alternativas e realizar seu trabalho com grande dedicação.
Terminado o período de treinamento Fernando enfim recebeu a designação para ser o Supervisor Local em Mundo Novo, onde com o apoio de três técnicos agrícolas e duas economistas domésticas, exerceu suas atividades por três anos.
Foi ali que passou algumas das maiores dificuldades, contou, lembrando ter sido longo período em que ficaram sem receber salários e com mínimas condições de trabalho, por conta da queda do Governador do Estado. “Dias difíceis”.
Passados esses três anos, já casado com uma mineira e com um filho pequeno, Fernando foi transferido para Dourados, aonde chegou para trabalhar com a cultura do algodoeiro. Era 1983, e ali ele dava inicio as suas atividades profissionais como pesquisador.
Mais dois filhos chegaram e já em 1986, Fernando retornou a Viçosa – como pesquisador da EMPAER e bolsista da Embrapa – para fazer o curso de Mestrado. “Foram dois anos de muito estudo e muitas noites sem dormir”. Recorda.
De volta a Dourados, em 1988, já como Mestre em Fitotecnia e pesquisador na área de manejo cultural do algodoeiro, Fernando assumiu a Gerência Regional da EMPAER onde permaneceu até 1994.
Tendo sempre muito firme em seu pensamento a ideia de que o conhecimento era o combustível que o levaria cada vez mais longe, novamente Fernando retoma os estudos, indo para Jaboticabal, São Paulo, para fazer Doutorado em Agronomia, na UNESP.
Já em 1997, após ser aprovado pela segunda vez em um curso da Embrapa, ele deixo a EMPAER para ser definitivamente pesquisador da Embrapa Agropecuária Oeste, em Dourados, também trabalhando com a cultura do algodoeiro.
Na Embrapa, Fernando desenvolveu trabalhos de pesquisa em Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás e na Bahia, o que lhe oportunizou a publicação de artigos em diversos periódicos, na série da Embrapa, a publicação de vários livros e a participação em capítulos de diversos outros. Suas mais recentes publicações foram lançadas durante o 10º Congresso Brasileiro de Algodão, em setembro deste ano. “O foco de minhas pesquisas tem sido os sistemas de produção do algodoeiro, com ênfase no sistema de plantio direto”. Conta.
Na Embrapa, Fernando cresceu como profissional e depois de ocupar diversos cargos gerenciais chegou a Chefe-Geral, cargo onde permaneceu de 2008 até 2013.
Além das atividades de extensionista e pesquisador Fernando colabora, até os dias atuais, com os cursos de graduação e pós-graduação em agronomia da Universidade Federal da Grande Dourados, onde já foi inclusive patrono de turma, fato que lembra ter sido bastante marcante.
A participação em bancas de qualificação, de defesa de dissertação de mestrado e teses de doutorado nas Universidades de Mato Grosso do Sul, São Paulo e do Rio Grande do Sul também são constantes e ele faz questão de manter mesmo tendo aceitado no inicio deste ano (2015) o convite, que ele mesmo classifica como um dos mais desafiadores de sua vida, de assumir a função de Secretário de Estado à frente da pasta da produção e agricultura familiar em Mato Grosso do Sul. “Estou Secretário enquanto gozar da confiança do nosso Governador [Reinaldo Azambuja], do apoio do setor produtivo e de suas organizações”. Completa, lembrando estar em constante aprendizado.
Na função, Fernando diz ter um único objetivo: “Servir, colaborando para que o Estado possa ter uma agricultura e uma pecuária cada vez mais fortes e sua gente possa ter mais dignidade e melhor qualidade de vida”.
Kelly Ventorim, assessora de comunicação da Sepaf