A mancha de eucalipto ocupa 812 mil hectares em Portugal
Foi uma das cedências aos Verdes. Governo garante que não implica importar mais, pois quer aumentar a produtividade por hectare. A indústria pede menos burocracia
A indústria das celuloses em Portugal consome 8,5 milhões de metros cúbicos de madeira de eucalipto por ano, dos quais cerca de dois milhões têm de ser importados por falta de capacidade de resposta da floresta nacional.
Para os industriais do sector é óbvio que a solução deve passar pelo aumento da produção. Acontece, porém, que o Governo acaba de anunciar o limite à expansão da área de plantação de eucalipto, decisão que resulta da negociação com o partido Os Verdes que suporta o Executivo no Parlamento. A alteração da legislação que enquadra a decisão deverá estar pronta em duas semanas.
O ministro da Agricultura, Capoulas Santos, garante que já reuniu com a indústria das celuloses para explicar o que defende para o sector e que foi bem aceite. O responsável pela pasta da floresta propõe o aumento da produtividade por hectare em vez do aumento da área cultivada, que ronda os 812 mil hectares.
PORTUCEL E ALTRI NÃO COMENTAM DECISÃO DO GOVERNO
O Expresso tentou insistentemente obter declarações dos dois principais grupos industriais do sector — a Portucel e a Altri —, mas ambos se abstiveram de comentar esta decisão.
Fonte da CELPA, que é a associação que congrega todas as empresas do sector papeleiro, diz apenas: “Nós queremos madeira, não queremos terra.” Acontece que o efeito do aumento da produtividade por hectare pode levar entre 12 a 20 anos. Mas aquela associação admite que essa é uma das saídas para a falta de matéria-prima. Atualmente, a produtividade ronda os oito metros cúbicos de madeira por hectare, mas o que se pretende é passar pelo menos para os 10 metros cúbicos.
“Ninguém está verdadeiramente interessado em expandir a área de eucalipto”, sublinha, convicto, o ministro da Agricultura. No entanto, nenhuma das grandes empresas gestoras de floresta partilham abertamente dessa convicção.
A CELPA alerta, pelo contrário, para o aumento da área de matos incultos que, entre 1995 e 2010, cresceu mais de 300 mil hectares. Por outro lado, a mesma entidade refere que 40% do eucaliptal está velho e decrépito, a precisar de intervenção. Só que, para se obter uma licença para rearborizar, “muitas vezes pode demorar mais de seis meses e nada disto faz sentido do ponto de vista da racionalidade económica deste negócio”, nota uma fonte daquela organização.
Na verdade, há três grandes entraves à rentabilização e reflorestação da área de eucalipto. A mesma fonte refere a ausência de apoios comunitários, a morosidade dos licenciamentos e a falta de previsibilidade política face ao sector.
EMPRESÁRIOS QUEREM ‘VIA VERDE’ PARA OS LICENCIAMENTOS
Do lado do Ministério da Agricultura, fica agora a garantia de que é com a área de mancha florestal existente que a indústria vai poder continuar a contar e nada mais que isso. Os empresários reivindicam, por sua vez, a criação de uma espécie de ‘via verde’ para os licenciamentos no sector. “Se isso se concretizasse já seria um enorme ganho para toda a gente envolvida”, diz um responsável do sector. E recorda que todos os anos as importações de madeira rondam os €400 milhões, valor que poderia não sair do país se a madeira fosse produzida localmente.
Os empresários argumentam ainda, através da associação que os representa, que a sua fileira é um importante foco de geração de emprego no interior do país, em zonas remotas e castigadas pela desertificação, o que acaba por ter impacto social e económico nas regiões onde se produz e transforma madeira.
A CELPA nota também que não faz sentido que, sendo mais de 600 mil hectares de eucalipto propriedade de privados (dos atuais 812 mil hectares), estes não os possam rentabilizar para dali tirarem o máximo proveito possível. “É como eu ser proprietário de várias casas e não as poder lançar, por exemplo, no mercado de arrendamento. É um absurdo”, remata um dirigente daquela associação.
Apesar de limitar a expansão da área de eucalipto, o ministro da Agricultura disse ao Expresso que tudo fará para recuperar os 150 mil hectares de área florestada perdidos nos últimos 15 anos, sobretudo devido aos incêndios.
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