Campo Grande (MS) – “No ritmo que estamos vamos passar os 35% de melancias produzidas e comercializadas em Mato Grosso do Sul. Percentual que é quase o dobro de 2014. Mas temos condições de avançarmos mais e é por esse motivo que, hoje, estamos aqui”, foi com essas palavras que o diretor-presidente da Agraer (Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural), Enelvo Felini abriu as atividades do I Encontro de Produção e Comercialização da Melancia realizado, nesta quarta-feira (30), no auditório do Sinterpa, região norte da Capital.
O evento, que teve como objetivo reduzir a importação da melancia no MS, contou com o apoio da Sepaf (Secretaria de Estado de Produção e Agricultura Familiar) e a gerência da Ceasa (Central de Abastecimento de Alimentos de Mato Grosso do Sul. Atualmente, 85% dos alimentos que chegam à mesa do sul-mato-grossense são frutos da importação de produtos cultivados em outros estados brasileiros, tais como: Rio Grande do Sul, Espírito Santo, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso, Pernambuco, Piauí, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Santa Catarina, São Paulo e Tocantins.
Para a agricultora Felipa Camargo, do assentamento Quero Quero, que já atua dentro do ramo e sabe a força da concorrência, nem o tempo chuvoso foi razão para cancelar a participação no evento. Interessada em debater o assunto acerca da fruta, ela enfrentou com disposição os 239 quilômetros de estrada que separam o município de Jardim de Campo Grande. “No ano passado, reservei meio hectare da minha terra e consegui produzir 5 mil quilos de melancia. Espero receber informações e aprender mais sobre a comercialização para que em 2016 eu possa separar um hectare e meio”, contou.
E do que depender das informações da Ceasa os dados são animadores. Segundo o presidente da Ceasa, Jaime Balejo, graças as ações em conjunto com o governo do Estado, via Agraer e Sepaf, no primeiro semestre de 2015 houve uma queda de 12% da importação da melancia. “Em 2014, importamos 75% de outros estados, ficando Mato Grosso do Sul com uma fatia de 25% de clientela. Com o incremento da Agraer em ações para fomentar a agricultura familiar, compramos neste primeiro semestre um total de 63% de outros estados, ficando o nosso estado com 36%” do mercado consumidor”, detalhou.
Com experiência em negociações com importantes redes de supermercados de Campo Grande, o comercializador no Ceasa, Paulo Sérgio, acredita que a reunião pode auxiliar na economia interna. “Uma melancia que vem de Tocantins viaja mais de 2 mil quilômetros até o destino final, enquanto que uma de um município vizinho como Sidrolândia, por exemplo, tem apenas 200 quilômetros de estrada pela frente. Essa diferença reflete no preço repassado ao consumidor”, garantiu.
No auditório do Sinterpa, cerca de 120 pessoas participaram da reunião, entre profissionais da Agraer e produtores rurais de diversos municípios do Estado. Entre os temas pautados no encontro, estiveram a estrutura física e o sistema de negociação da Ceasa de MS e o funcionamento do setor da Agraer responsável por recrutar agricultores familiares para atuação dentro do Cecaf (Centro de Comercialização da Agricultura Familiar), uma ala da Central destinada, exclusivamente, para a venda de produtos de pequenos produtores.
“Ano passado comecei a plantar, mas não consegui bom resultado porque as melancias começaram a rachar. Hoje, venho aqui para saber mais sobre o cultivo e também porque quero destinar um hectare para plantação e, futuramente, trazer a fruta para o Ceasa”, disse o agricultor do assentamento Fama, José Carlos Pereira, do município de Rio Verde.
A expectativa, agora, é que a sementinha plantada no encontro renda bons frutos, a partir do interesse dos agricultores em atuarem no segmento da melancia, especialmente, no que diz respeito à comercialização na Ceasa. “Temos um histórico de 10 anos em que se constatou que de junho a outubro temos o que chamamos de ‘vazio da melancia’, quando há uma baixa na produção no Estado e, consequentemente, um aumento na importação. Queremos mostrar que é possível uma boa produtividade o ano todo, prova disso são os municípios de Eldorado e Sidrolândia que cultivam ininterruptamente”, explicou Jaime Balejo.
Entre as autoridades que compuseram a mesa de honra do evento, esteva presente o presidente da Associação dos Usuários da Ceasa, Virgílio Pereira, Representante dos compradores de melancia da Central, Renato Randolfo e o coordenador da Agricultura Familiar da Sepaf, Fábio Estefani e a agricultora Nina Rosi, na ocasião representando os pequenos produtores no segmento de melancia.
Matéria de Aline Lira e fotos de Dunga (Agraer)