Campo Grande (MS) – A Bolívia sinalizou concretamente com a possibilidade de fornecimento direto de gás natural a Mato Grosso do Sul e um acordo de importação pode ser fechado na próxima semana, em Santa Cruz de La Sierra, quando o Estado apresentará uma planilha de demandas para os próximos anos. A garantia foi dada pelo ministro de Hidrocarburos, Luiz Alberto Sánchez, em reunião realizada na terça-feira (4) com o governador Reinaldo Azambuja.
Após a redução das importações pela Petrobras, há dois anos, o Governo do Estado busca uma saída para garantir a manutenção de um volume de importação que minimize os impactos com a queda do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). O governador defende a importação conjunta do gás por distribuidoras regionais, dentre elas a MSGÁS, e tem cobrado do país vizinho a garantia de fornecimento do combustível para a termoelétrica de Ladário, em fase de instalação.
Reinaldo Azambuja destacou ainda a garantia do governo brasileiro de executar projetos estratégicos para a região de fronteira e na integração comercial latino-americana, citando a reconstrução da ferrovia que ligará Santos (SP) a Ilo, no Peru, passando pelo estado de Mato Grosso do Sul e a Bolívia. “São investimentos que ampliam as possibilidades comerciais e projetam novos empreendimentos e uma demanda crescente do consumo de gás natural”, pontuou.
Na avaliação do secretário Jaime Verruck, da Semagro (Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Meio Ambiente, Produção e Agricultura Familiar), que participou da reunião, as garantias de oferta de gás natural apresentadas pela Bolívia vêm ao encontro das ações feitas pelo Governo para ampliar a demanda pelo produto e garantem a viabilização de importantes empreendimentos no Estado.
“Já existe um pré-contrato de fornecimento de gás natural, de 2,3 milhões de metros cúbicos/dia para o funcionamento da fábrica de fertilizantes UFN3 em Três Lagoas. Além disso, temos a possibilidade de fornecimento de 1,2 milhão de toneladas para a termelétrica em Corumbá, que vai utilizar o gasoduto da MS-Gás, independente do GasBol”, comentou.
Jaime Verruck citou também o incremento comercial com a importação de ureia, que deve atingir 400 mil toneladas em 2019. “Hoje já temos um volume de importação de ureia que é de 300 mil toneladas/ano e já há o interesse de mais uma empresa adquirir 100 mil toneladas/ano, numa operação direta, feita de trem até a Agesa, onde é desembarcada e trazida em caminhões até Campo Grande. A intenção do Governo é de que essa operação seja feita somente por via ferroviária até Campo Grande, que deve se transformar em um hub de distribuição de ureia. Já estamos trabalhando junto à ANTT, acordo de operação específico para garantir essa operação”, afirmou.
Durante reunião na Governadoria, com a presença do governador Reinaldo Azambuja, dos ministros Luiz Sánchez e João Carlos Parkinson (coordenador-geral de Assuntos Econômicos do Ministério das Relações Exteriores), de secretários estaduais e representantes da MSGÁS e da estatal petrolífera YPFB (Bolívia), além de empresários, ficou definido que o encontro de Santa Cruz de La Sierra, nos dias 12 e 13 de dezembro, será fundamental para a formulação dos acordos comerciais.
Após as ponderações do governador de MS, pedindo à Bolívia uma definição em relação aos pleitos do Estado, o ministro boliviano afirmou que seu país tem interesse na comercialização do gás extracontrato da Petrobras e hoje tem produção suficiente para garantir esse fornecimento. Luiz Sánchez apenas solicitou que o Estado apresentasse uma projeção de demanda e sinalizou que a Bolívia quer formalizar o acordo ainda neste ano.
Presente à reunião, o diretor-presidente da MSGÁS, Rudel Trindade, adiantou que a companhia tem um levantamento da demanda, com base no consumo das termoelétricas de Ladário e Três Lagoas e de outros empreendimentos, estimado em cinco milhões de m³/dia. Somente a termoelétrica de Ladário tem previsão de consumo imediato de 1,3 milhão de m³/dia, com perspectiva de comprar 2,5 milhões de m³/dia em cinco anos para produzir 620 MW.
“O ministro Luiz Sánchez disse ao governador, inclusive, que se quisermos sair do contrato com a Petrobras, podemos fazer um acordo individual”, disse Rudel Trindade. “Isso é uma possibilidade, mas o importante é que a Bolívia nos disse com clareza seu interesse na venda desse gás, com o ministro pedindo que tudo aconteça ainda esse ano”, completou. O dirigente da MSGÁS informou que hoje a companhia compra 700 mil m³/dia de gás boliviano.
Ministro: maior acordo
O ministro boliviano demonstrou o grande interesse do seu país em fornecer o gás diretamente ao Estado e em conjunto com as companhias do Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e São Paulo – o grupo lançou um edital de Chamada Pública Coordenada, a fim de buscar um mercado mais competitivo e diversificado de fontes supridoras. “A Bolívia fará um dos maiores acordos comerciais com o Mato Grosso do Sul em todos os tempos”, disse Luiz Sánchez.
A reunião de Santa Cruz de La Sierra discutirá também novos contratos de importação de ureia e cloreto de potássio. Participaram do encontro na Governadoria: o secretário de Estado de Governo e Gestão Estratégica, Eduardo Riedel; secretário estadual de Infraestrutura, Helianey Silva; presidente da YPFB (Bolívia), Óscar Barriga; o diretor de novos negócios da GPE-Termo Fronteira, Valfredo Ribeiro; e representantes de empresas importadoras de ureia e cloreto de potássio.