SÃO PAULO – A fila de navios para carregar grãos nos portos brasileiros, no momento de início dos embarques da nova temporada de soja, está mais de duas vezes maior que a registrada um ano atrás, devido a atrasos em alguns terminais e à grande demanda por produtos brasileiros, cuja competitividade tem se elevado junto com a cotação do dólar.
Atualmente há 163 navios escalados para carregar soja e milho nos portos brasileiros até abril, com volume total previsto de 9,73 milhões de toneladas, ante 66 navios e 4,1 milhões de toneladas em meados de fevereiro de 2015, segundo dados da agência marítima Williams analisados pela Reuters.
Para a soja, o lineup prevê 7,51 milhões de toneladas, alta anual de 104 por cento, e para o milho a escala é de 2,22 milhões de toneladas, crescimento de 414 por cento.
“As tradings estão muito cobertas. Conseguiram fazer muitos contratos para entrega em fevereiro e março”, disse o analista Aedson Pereira, da Informa Economics FNP, destacando que ao longo de 2015 houve volumoso fechamento de vendas antecipadas, com a ajuda do câmbio favorável.
O dólar fechou 2015 com alta de 48,5 por cento ante o real, o maior avanço em 13 anos.
“Com esse dólar que tivemos, o Brasil foi mais competitivo e fechou volumes talvez mais rápido e maiores que em outras épocas”, afirmou o diretor de inteligência de mercado da corretora Cerealpar, Steve Cachia.
O considerável aumento da escala para embarques de milho –619 mil toneladas em março de 2016 ante 60 mil em março de 2015–, algo incomum para essa época, é um indicador de que a atual fila de navios também é decorrente de atrasos registrados desde o fim do ano passado, principalmente no Sul e no Sudeste.
Em Paranaguá (PR), um dos principais complexos portuários do país, o tempo de espera para carregamento está atualmente em torno de 50 a 60 dias. Um ano atrás a demora era de cerca de 20 dias.
“A chuva afetou bastante. Desde novembro chove bastante por aqui”, relatou um agente operacional de uma agência marítima que atua no corredor de exportação de grãos do porto paranaense, pedindo para não ser identificado.
Segundo ele, a troca de equipamentos nos berços de atracação em Paranaguá, ao longo de 2015, também contribuiu para retardar o despacho de navios.
Na avaliação de Cachia, da Cerealpar, o lado positivo deste atraso nos embarques é que ele está permitindo que a soja da colheita que começou ao final de janeiro chegue aos terminais.
“Está dando tempo pra colher mais e cumprir contratos”, disse o analista.
A colheita de soja começou relativamente atrasada nos principais Estados produtores como consequência de problemas climáticos que retardaram o plantio.
Na semana passada, o ritmo dos trabalhos foi acelerado, mas estes grãos só chegarão aos portos em algumas semanas.
A colheita de soja no Brasil alcançou, em 12 de fevereiro, 15,7 por cento da área total plantada, ante 8,4 por cento na semana anterior, informou nesta segunda-feira a consultoria Safras & Mercado.
A previsão oficial do governo é de que o país possa colher uma safra recorde de mais de 100 milhões de toneladas da oleaginosa em 2015/16, alta de 4,8 por cento ante 2015/16, com exportações crescendo 4,5 por cento, para 56,75 milhões de toneladas.
(Fonte: Reuters/Gustavo Bonato)