Campo Grande (MS) – Os equívocos cometidos e a evolução das ações preventivas e de erradicação do mormo, doença que acomete equídeos, acionaram uma espécie de alerta, um sinal amarelo no Brasil. A preocupação foi externada pelo professor e pesquisador da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Fernando Leandro dos Santos, para os cerca de duzentos médicos veterinários do Estado que participam da capacitação do Programa Nacional de Sanidade dos Equídeos. O treinamento realizado pela Agência Estadual de Defesa Sanitária, Animal e Vegetal de MS (Iagro) acontece entre os dias 16 e 19 de maio, na Federação da Agricultura e Pecuária de MS (Famasul).
O trabalho de erradicação esbarra na falta de conhecimento e de objetividade dos profissionais na orientação dos clientes quanto à gravidade da doença e os prejuízos que ela pode trazer. Isso contribui para que as medidas sanitárias e até mesmo o sacrifício dos animais aconteça, o que gera até discussões judiciais, afirmou o especialista.
Sobre as liminares que vem impedindo o sacrifício de animais com exames positivos para a doença – único meio para eliminar o foco – o palestrante poupou críticas a Justiça, mas não aos criadores e profissionais responsáveis por orientá-los. Citando exemplos, Fernando deixou claro que em todas as situações em que o médico veterinário se apresentou como agente orientador consciente da importância da doença e não omitiu informações houve sucesso na eliminação de focos. Contudo, são muito maiores os números de casos em que, ao ser conivente com a negativa do produtor em passar as informações reais sobre a condição de aquisição dos animais com exames positivos e não auxiliar na tomada de medidas sanitárias no local onde o animal é mantido, o médico veterinário acabou por contribuir para que ao final do processo o criador tivesse ainda mais prejuízos.
Os testes para diagnóstico, sua eficácia e os estudos recentes feitos pelo MAPA para definir novas estratégias para teste e reteste foram alguns dos pontos da palestra que repercutiram nas intervenções e questionamentos dos participantes.
Em Mato Grosso do Sul, a adoção de medidas saneadoras respeitando as instruções do Ministério da Agricultura e Abastecimento (MAPA), a restrição quanto à movimentação dos equídeos, a obrigatoriedade da apresentação de resultado negativo para o trânsito e participação em eventos de aglomeração, a investigação de focos sem ônus para o criador, o sacríficos dos animais positivados e a realização de encontros e palestras que discutem o tema, são algumas das ações realizadas pela Agência Estadual de Defesa Sanitária Animal e Vegetal (Iagro).
Contudo, o Diretor Presidente da Agência, Luciano Chiochetta, acredita que assim como afirmou o especialista, não há estratégia melhor ao criador do que um veterinário bem informado. “Do leigo é até aceitável um comportamento de resistência, mas do profissional não”, afirmou.
Para a virologista, especialista em anemia infecciosa equina (AIE) e pesquisadora da Embrapa Pantanal, Marcia Furlan Nogueira Tavares de Lima, encontros como este devem acontecer com maior frequência. “Precisamos melhorar nossa capacidade de detecção”, afirmou,.
O médico veterinário da Iagro, Carlos Fernando Piva Raymundo, que atua na região de Amambai, comentou que encontros como este possibilitam que os profissionais nivelem conhecimento com especialistas e passem a atuar de forma mais efetiva. “A educação sanitária é fundamental para maior eficácia na busca pelo controle e erradicação desta e de outras doenças”. Completou.
Na programação do evento está a discussão sobre Técnicas de anestesia e eutanásia em equídeos, com o doutor da UFMS, Fabricio de Oliveira Frazilio; Atuação em focos de mormo, maleinização, necropsia e coleta de material, com Pedro Paulo Miranda da Silveira, do MAPA de Pernambuco; Legislações do Plano Nacional Sanidade dos Equídeos, com Otto Feldens também do quadro do MAPA; Condicionamento e envio de amostras ao Laboratório LADDAN, com a doutora Cristina Pires de Araujo, da Iagro, e Procedimentos em suspeitas e preenchimento de formulários, com Kelly Noda Gonçalves, também do quadro da Iagro.
Encerram a programação da capacitação aulas práticas de maleinização e coleta de material para mormo, com vinte cavalos, ministradas pelo professor do Lanagro de Pernambuco, Pedro Paulo, nesta quinta-feira (19), das 7h às 12h, na Hípica do Circulo Militar.
Kelly Ventorim, assessora de imprensa da Sepaf e Iagro