Campo Grande (MS) – A crise hídrica que afeta o país como um todo já obriga Mato Grosso do Sul a adotar medidas para evitar o desabastecimento de água em várias cidades, sobretudo aquelas que captam o recurso de rios. A afirmação é do secretário de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar (Semagro), Jaime Verruck, feita durante reunião virtual do CERH (Conselho Estadual de Recursos Hídricos) nessa segunda-feira (30).
“Em nível de Estado, a Sanesul já tem plano de contingenciamento. Em Ladário, logo não se consegue mais captar água do rio Paraguai. Portanto, já estamos com sistema de bombeamento alternativo pra abastecer Ladário e Corumbá. O mesmo está sendo feito em Porto Murtinho”, disse Verruck. Durante o evento foi apresentada pela engenheira agrícola Elisabeth Arndt, Fiscal Ambiental do Imasul (Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul), sobre a situação dos recursos hídricos no Estado.
O estudo mostra que, em 14 grandes reservatórios de água da Bacia do Rio Paraná, 7 apresentam o pior nível dos últimos 22 anos, e os demais se distribuem entre o terceiro, quarto e quinto lugares. O Monitor de Secas – serviço disponibilizado pela ANA (Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico – http://monitordesecas.ana.gov.br/mapa) mostra que todo território de Mato Grosso do Sul estava, em junho, em situação de seca grave, moderada e extrema.
Conforme trecho de estudo realizado pelo Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais) “a análise das séries históricas de chuvas permite identificar que nos últimos 22 anos predominaram condições de chuvas inferiores à média na bacia do rio Paraná. Na atualidade, tanto os índices pluviométricos, quanto os índices integrados de seca, apontam uma condição de seca que pode ser classificada como “severa” a “excepcional”, e que apresenta uma duração de mais de 24 meses”.
O secretário Jaime Verruck enfatiza que, para se recompor o nível dos reservatórios de grandes hidrelétricas, como Jupiá, Sérgio Motta e Itaipu (todas localizadas no rio Paraná), seria necessário ocorrer “um dilúvio”. “Mesmo se tivéssemos chuvas normais para o período – mas a indicação é que ficarão abaixo da média – a recomposição se daria muito lentamente”, acrescentou.
O estudo conclui que, em termos de vazão, a porção alta da Bacia do rio Paraná enfrenta uma situação de seca hidrológica que pode ser classificada como “severa” e “excepcional” desde 2014 e que nesse ano se configura como a pior desde 1981. “Estamos passando por uma crise hídrica que poderá levar a região e o país a um apagão de energia elétrica, caso a estiagem se estenda e a próxima estação chuvosa não recupere os níveis dos reservatórios.”
Verruck aponta que ficou muito claro no posicionamento do governo, “inclusive está oficializado em resolução”, que a água será usada preferencialmente para geração de energia elétrica no país. “Todos os outros usos múltiplos serão suspensos. Isso já é uma diretriz, considerando os riscos que temos.”
Também demonstrou preocupação com a solução que normalmente é tomada nesses casos de crise hídrica: a abertura de poços profundos para extrair água do aquífero. “Normalmente esse é o movimento”. Verruck salienta que “não há uma solução a curto prazo. Os contratos para geração de energia elétrica através das termelétricas estão feitos já para março do ano que vem”, e que o uso racional dos recursos hídricos é imprescindível nesse momento.