A entrevista a seguir, assinada pela jornalista Marina Torres, da Embrapa Milho e Sorgo, foi divulgada na terça-feira (3) no site da Embrapa.
Rubens Augusto de Miranda (Foto: Guilherme Viana)
O ano de 2016 começou com oferta abundante de milho e preços elevados para o cereal. A tendência era de que a grande oferta fosse acompanhada pela queda nos preços domésticos do grão. Mas isso não ocorreu. A depreciação cambial do real tornou o milho brasileiro bastante competitivo e impulsionou as exportações. Dessa forma, os preços internos do cereal ficaram em níveis muito altos.
E agora? O que é possível esperar da safra verão 2016/17? Para entender quais são as perspectivas do mercado, o informativo Grão em Grão entrevistou o pesquisador de Economia Agrícola da Embrapa Milho e Sorgo (Sete Lagoas, MG) Rubens Augusto de Miranda.
Qual é a estimativa para a safra de verão de milho 2016/17? A área plantada e a produção tendem a aumentar em relação à safra 2015/16?
O planejamento da safra de verão de milho 2016/17 foi influenciado pelos ótimos preços do cereal, pois atingiram patamares nunca vistos no segundo semestre de 2016. Dessa forma, como no momento da tomada de decisão do plantio de milho os preços em relação à soja foram favoráveis, ocorreu um aumento da área plantada, segundo levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
Nesse ponto, merece destaque o incremento de 12% da área plantada com milho em Minas Gerais e os 18% de aumento no Paraná, que são duas das maiores regiões produtoras do cereal no verão. O destaque negativo vai para a redução da área de milho em 2,2% no Rio Grande do Sul. O incremento da área plantada no geral, somado à boa produtividade, deve garantir um aumento da produção de milho no verão de 7,3%, pelas estimativas da Conab, revertendo os últimos anos de queda do cereal na primeira safra.
A partir dessas perspectivas, quais são as previsões para o preço do milho?
A determinação dos preços não depende apenas das condições de oferta (produção, estoques e importação), mas também está sujeita a fatores vinculados à demanda (consumo doméstico e importações). No ano que passou, entre meados de 2015 e meados de 2016, os preços do milho no Brasil explodiram por causa da demanda externa (exportações) decorrente da depreciação cambial, que tornou o nosso milho barato e competitivo lá fora. A situação mudou no segundo semestre de 2016.
Internamente, os altos preços domésticos do milho contrabalançaram o câmbio favorável, além do fato de que o real voltou a ganhar valor. Externamente, a supersafra do cereal nos Estados Unidos provocou a redução dos preços internacionais de milho. Esses dois fatores fizeram o milho brasileiro perder competitividade e espaço lá fora. A redução das exportações antevistas para 2017 e a recuperação da safra brasileira após a quebra da segunda safra em 2016 devem provocar a redução dos preços do milho em 2017.
Qual análise pode ser feita da “crise do milho” ocorrida no ano passado, quando produtores de aves e suínos, principalmente, sofreram impacto com escassez do produto? Esse cenário pode se repetir em 2017?
A crise nos setores consumidores de milho ocorreu porque o cereal estava sendo escoado para o exterior, levando os preços internos às alturas. A forte demanda externa elevou os preços do milho a patamares de soja em algumas regiões e a indústria aviária não tinha condições de bancar os valores praticados no mercado. Felizmente, para a indústria consumidora de milho, o cenário está mudando para 2017, e, caso nenhum evento impactante aconteça, o cereal estará bem mais em conta no mercado doméstico durante o ano.
Para a indústria consumidora de milho, como a avícola, a tendência é que o cereal esteja bem mais em conta neste ano
Por Editores de CarneTec Brasil