Há alguns anos, o Brasil gerava pouca energia limpa e renovável a partir da biomassa, mas isto vem mudando em todo o território nacional. Atualmente, existem vários produtos e subprodutos que vêm sendo utilizados pelas usinas termoelétricas, dentre eles o bagaço da cana-de-açúcar, madeiras de eucalipto e de pinus, e até banana.
A mais recente novidade do setor é que, nos próximos anos, seis termoelétricas em Mato Grosso do Sul vão gerar energia a partir da queima de madeira de eucalipto, o que é uma boa notícia para todo o País. Outras cinco novas empresas vão se instalar no Sul do Estado nos próximos meses e todas vão utilizar este recurso como matéria-prima.
Referência na produção de energia limpa e renovável, a biomassa somou, até abril deste ano, 12.417 megawatts (MW) de potência instalada, representando a terceira fonte mais importante da matriz elétrica brasileira, resultando em uma capacidade de geração de energia superior à da Usina de Belo Monte (no Pará). O segmento fica atrás apenas da hidroeletricidade (66,1%) e do gás natural (9,5%), conforme dados mais recentes, divulgados em junho passado, pelo Ministério de Minas e Energia (MME).
O órgão ainda destacou que, em dez anos, a capacidade instalada em usinas termoelétricas nacionais, a partir da biomassa, teve acréscimo de 8.362 MW, se comparado a abril de 2005. A previsão é que, nos próximos três anos, entrem em operação mais 1.750 MW desta fonte, que já estão contratados. Outros 2.400 MW são previstos para entrar em operação até 2023.
MATO GROSSO DO SUL
De acordo com o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural de Mato Grosso do Sul (Senar-MS), as usinas sucroalcooleiras e as fábricas de celulose – tanto do Estado quanto do País – já produzem energia a partir da biomassa. As empresas armazenadoras de grãos, os aviários e os frigoríficos, por exemplo, já vêm utilizando a madeira e o cavaco do eucalipto para gerar calor e energia.
O cavaco é um recurso renovável retirado da própria madeira, que é triturada por picadores móveis e industriais. As lascas também são usadas como subprodutos nas fábricas de celulose, mas em conjunto com a madeira. Em sua maioria, o cavaco é destinado à produção de energia em fornos e caldeiras, oferecendo boas características energéticas. Este subproduto da madeira de eucalipto apresenta baixo custo de aquisição; menor risco ao meio ambiente, por ser um recurso renovável; suas emissões não contribuem para o efeito estufa; e as cinzas são menos agressivas se comparadas aos combustíveis fósseis, a exemplo do petróleo.
“As termoelétricas de geração de energia, a partir da biomassa de madeira, não existiriam sem o eucalipto e o pinus. As usinas de açúcar e de álcool, que produzem energia elétrica para o consumo próprio – assim como as fábricas de celulose –, e revendem o excedente ao mercado, agora utilizam os cavacos de eucalipto o ano todo (antes, era só na entressafra). Isto porque, segundo pesquisas, descobriu-se que a biomassa do eucalipto melhora a queima e a caloria do bagaço de cana, subproduto usado na geração de energia”, explica Paulo Cardoso, consultor em silvicultura e organizador do Programa Mais Floresta, do Senar-MS.
MERCADO
Cardoso salienta que, para os produtores de florestas sul-mato-grossenses (silvicultores), este novo mercado vem crescendo a partir da energia limpa e renovável, agregando valor aos seus negócios. De acordo com ele, a biomassa ganha força em um momento em que a demanda mundial está voltada para o aperfeiçoamento da matriz energética, substituindo fontes fósseis e poluentes por combustíveis ecologicamente corretos.
“A queima de madeira de eucalipto só é menos viável e ecologicamente sustentável que a energia eólica, embora a queima do bagaço de cana, um subproduto já disponível dentro das usinas, tenha um custo menor de produção”, ressalta Cardoso, reforçando que a madeira de eucalipto precisa ser colhida, picada e transportada até a usina, daí seu custo ser um pouco maior.
Para os silvicultores em geral, o cenário da geração de energia elétrica a partir da biomassa é bem promissor. Mesmo assim, Cardoso afirma que “não existe método ou condições de venda melhor ou pior. Isto depende muito da distância que o produtor e sua floresta estão da empresa consumidora. Algumas pagam mais, outras menos. Mas a indústria da biomassa já vem crescendo muito, nos últimos anos, tanto para a produção de energia como para o aquecimento e secagem de grãos”.
PROGRAMA MAIS FLORESTA
Para auxiliar a silvicultura regional na produção de energia a partir da biomassa, Cardoso relata que o Programa Mais Floresta, do Senar-MS, é hoje o único voltado para pequenos e médios produtores rurais no Estado.
“Em âmbito nacional, um trabalho semelhante vem sendo realizado pela Comissão de Silvicultura e Agrossilvicultura da CNA (Confederação Nacional de Agricultura e Pecuária), chamado de Programa Mais Árvores.”
Em MS, “também pretendemos difundir o potencial da silvicultura nas diferentes regiões, até porque o segmento é promissor e está em expansão no Estado, tanto pela produção de papel como de energia”, reforça Cardoso.
Para auxiliar na capacitação técnica dos produtores florestais sul-mato-grossenses, o Senar-MS oferece oito cursos na área de silvicultura. “Estamos criando cursos sobre o setor de biomassa, por meio de parcerias, para serem ministrados a partir de 2016”, informa.
NOVO ENCONTRO
Após ser realizado nos municípios sul-mato-grossenses de Três Lagoas e Maracaju, chegou a vez da cidade de Dourados receber o Programa Mais Floresta, no próximo dia 6 de novembro. Convidado desta edição, o consultor e empresário José Carlos Bianchini Sottomaior, da Ecoproducts, vai apresentar em sua palestra as novidades em termos de equipamentos e tecnologias avançadas para a produção de biomassa não só de florestas, mas também de resíduos agrícolas e urbanos.
“Por ser um produto natural, de fácil manuseio e elevada densidade energética, a biomassa do eucalipto – tanto na forma de cavaco como de pellet – tem como principal aplicação a geração de energia térmica, mas também pode ser utilizada como combustível para a geração de energia elétrica em indústrias, usinas termoelétricas e até na propriedade rural”, adianta Sottomaior.
Ele ainda destaca a existência de um mercado de pellet crescente no Brasil. “Mato Grosso do Sul tem um grande potencial, mas para alcançar eficiência na produção deste biocombustível a partir da biomassa, é preciso bem mais do que empresários dispostos a investir em uma tecnológica indústria de grande porte. A competitividade global depende, acima de tudo, de competência política. E, a meu ver, o governo do Estado está indo no caminho certo”, salienta o consultor.
Para mais informações sobre o Programa Mais Floresta em Mato Grosso do Sul, acesse www.senarms.org.br/projetos/mais-floresta.
Na foto da capa Paulo Cardoso, consultor em silvicultura e organizador do Programa Mais Floresta do Senar-MS.
Por equipe SNA/RJ com informações do Senar-MS e do Ministério do Meio Ambiente