Preocupado com a alta dependência dos Estados vizinhos na produção de frutas e hortaliças, Governo do Estado começa a discutir projeto ‘Distrito Verde’
Na reunião do Conselho Estadual de Desenvolvimento Rural Sustentável (Cedrs), na ultima sexta-feira (29), o Secretario Executivo, Carlos Gonçalves, apresentou aos mais de vinte representantes de instituições participantes, o projeto ‘Distrito Verde’, que sob comando da Secretaria de Produção e Agricultura Familiar de Mato Grosso do Sul, deve reunir diversas políticas publicas que atendem o agricultor familiar, para ampliar a produção de hortifrutigranjeiros nos municípios, diminuindo a importação.
Em sintonia com essa demanda do Estado, e diante dos números que dão conta de que mais de 80% do que é comercializado no Ceasa da capital, vem dos Estados vizinhos, a Embrapa Agropecuária Oeste, de Dourados, passa por um momento onde repensa sua programação, atualizando-se para continuar cumprindo com excelência o compromisso que tem com o desenvolvimento Regional, segundo nos conta o pesquisar Guilherme Asmus, chefe-geral da empresa.
Nos seus 40 anos, a Embrapa, que é uma das mais respeitadas empresas de pesquisa do País, trabalhou para contribuir para as demandas de Estado, gerando tecnologia, conhecimento e transferindo esse conhecimento através do trabalho de profissionais habilitados nos centros mais modernos do mundo. “Quando a Embrapa começou no Estado, o grande desafio era estruturar as cadeias de trigo, soja e depois vieram milho e algodão. Acompanhamos essa diversificação e evoluímos nossa programação técnica conforme o que acontecia no Estado”. Lembrou.
“Hoje, com o surgimento da necessidade de diversificação da matriz em algumas regiões do Estado, para suprir as demandas da produção de hortaliças e frutas, haja vista a grande importação de Estados vizinhos, existe uma demanda enorme, então nós temos que nos adequar nossa programação técnica e a nossa estrutura para atender essas demandas”. Completa Guilherme, que observa que a empresa passa neste momento por uma discussão interna. “Estamos mudando o perfil do nosso pesquisador, que antigamente era muito ligado a essas commodities agrícolas, e que hoje já estão encaminhadas. O produtor rural hoje, principalmente o médio e grande, já produz adequadamente, conhece bem e, já se apropriou das técnicas que foram desenvolvidas pela Embrapa, Agraer, pelas Fundações e demais empresas de pesquisas publicas ou privadas. Agora, o momento é outro, então nos temos que diversificar a produção, inclusive atendendo esse chamamento do governo do Estado, que se mostra preocupado com a alta dependência dos Estados vizinhos no que diz respeito a frutas e hortaliças”.
Segundo Guilherme, existem excelentes oportunidades para desenvolver um projeto amplo de produção de frutas e hortaliças no Estado já que é banhado por duas grandes bacias hidrográficas – do Paraná e do Paraguai – que está em cima do aquífero Guarany, e considerando ainda a diversidade de rios que correm para essas duas bacias que de forma ordenada e organizada e podem ser utilizadas no processo.
Para o pesquisador, existem áreas no Estado que podem ser inseridas no processo produtivo e os programas voltados à agricultura familiar, que estão sendo discutidos no Cedrs, trazem uma grande oportunidade de organização da produção, para que se consiga volume de determinados produtos, para serem inseridos no mercado. Para isso, segundo ele, é preciso que sejam elencadas algumas espécies de hortaliças e fruteiras mais adequadas para produção no Estado para que se tenha um volume adequado de produção, se façam boas compras de insumos e também boas vendas. “Quando temos volume conseguimos fazer isso, conseguimos nos inserir no mercado”. Complementa.
Para isso, Guilherme destaca é fundamental trabalhar e pesquisar duas questões: maquinas e implementos adequados para o produtor familiar, e que contribuam efetivamente com o trabalho e; a organização da produção e dos produtores, através do sistema cooperativo, associativista, completando o tripé, PRODUTO, PREÇO E PONTO DE VENDA. “Mão-de-obra, mesmo na propriedade familiar, virou artigo de luxo. Temos que ter consciência que precisamos facilitar a vida do produtor rural em qualquer instância. Se não tivermos esse tripé todo estruturado, vai por agua toda iniciativa que está sendo alavancada, hoje, pelo Governo do Estado”.
Para ele, a Embrapa pode contribuir significativamente para o projeto do ‘Distrito Verde’, em seus vários níveis de conhecimento: seja na parte econômica, seja na avaliação das melhores áreas para se implantar esse projeto. “Como bem observou o coordenador do Cedrs, há que se destinar as melhores áreas para implantação dos cinturões, para que isso não seja fragmentado pelo Estado inteiro, e às vezes em áreas e terras que não são apropriadas. Temos que levar em consideração a questão de solo, disponibilidade de água, proximidade com centro consumidor, logística de transporte e facilidade de acesso aos insumos. Nessa parte a Embrapa pode participar de uma forma coordenada com demais órgãos do Estado, para definir onde estão as melhores oportunidades para estabelecer os pólos deste Distrito”. Comenta Guilherme que lembra ainda que isso também passa pelo poder municipal e as secretarias de agricultura municipais.
“O Estado, tem bastante desenvolvido, a produção de commodities agrícolas, como: soja, milho, algodão, mas recentemente a cana de açúcar e as florestas plantadas. O Governo atual, através da sua secretaria de produção e agricultura familiar, percebe que há a possibilidade de se criar um equilíbrio entre todas as dimensões da agricultura no Estado, para ele deixar de ser só produtor por excelência de grãos, fibras e energia, mas, também ser um grande produtor de frutas, hortaliças, peixes. Existem oportunidades para que deixemos de ser o estado do futuro para ser o estado do presente”. Observou Guilherme.
Para ele ter um pesquisador como Secretario de Estado, cria por parte da empresa e de todo setor uma expectativa muito grande. “Considerando seu histórico de trabalhos realizados em prol do Estado, e da percepção do espaço rural de Mato Grosso do Sul, avaliamos como sendo uma pessoa altamente capacitada e que está no momento certo, no lugar certo. A grande expectativa não é só por ele ser oriundo da Embrapa, mas pelo seu passado e conhecimento do setor. Acreditamos que ele possa efetivamente contribuir, agregar esforços, pois sabemos que o secretario sozinho não resolve, mas agregando instituições, parceiros, de todo setor, pode alavancar aquelas áreas, como esta que nos estamos discutindo de hortifrúti, para colocar o Estado no papel que ele merece”. Finalizou Guilherme lembrando superficialmente o currículo do Secretario de Estado da produção e Agricultura Familiar que enquanto pesquisador por mais de vinte anos da Embrapa, trabalhou diretamente com a agricultura familiar, e inclusive desenvolveu vários projetos em assentamentos rurais.