Característica de um cultivo intensivo e que demanda mão de obra em grande quantidade por área plantada, a floricultura de Minas Gerais avança em desenvolvimento tecnológico, apoio essencial num momento de economia desaquecida
Minas só perde para São Paulo em dimensões de área plantada no Brasil. O comércio de flores e plantas no país tem crescido de 12% a 15% ao ano, segundo Thyara Ribeiro, analista de projetos do Instituto Antonio Ernesto de Salvo (Inaes) da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg). São mais de 12 mil hectares de plantio em solo brasileiro, aproximadamente 8 mil produtores e 350 espécies e cultivares desenvolvidas. De acordo com a pesquisadora da Epamig e coordenadora do projeto que testa o novo cultivo de rosas, Elka Almeida, o sistema desenvolvido em vasos e com circuito fechado de irrigação, denominado ebb and flood, é totalmente automatizado.
As rosas são plantadas nos vasos, e não no solo, recebendo periodicamente uma solução nutritiva. Depois de um período específico, a solução é drenada e estocada em tanques para reciclagem e reutilização, explica a pesquisadora. Os testes estão sendo feitos com a cultivar carola, que tem coloração vermelha. “A vantagem do sistema se dá em função da possibilidade de cultivo em regiões com solos pobres, salinos e improdutivos”, observa Elka Almeida. Além disso, permite o melhor uso do espaço na pequena propriedade, com benefícios frente ao cultivo convencional.
No novo sistema, o produtor não precisa fazer rotação na área de produção, o manejo da cultura pode ser feito em pé, o que proporciona bem-estar ao trabalhador, menor incidência de doenças na cultura e o aproveitamento da água residuária. A Epamig prevê diversos testes para avaliar a viabilidade econômica da tencologia, mas os resultados preliminares mostram que é possível produzir rosas de qualidade, segundo Elka.
Produtora de rosas em Barbacena há mais de 50 anos, a presidente da Associação Barbacenense dos Produtores de Rosas e Flores (Abarflores), Sheila Magda Brandão Loschi, conta que os produtores buscam as melhores técnicas para elevar a qualidade das flores e aumentar a produção. “A rosa é a rainha das flores, carrega muito significado e a demanda continua positiva mesmo neste ano de crise econômica”, afirma. A produção local já cresceu 10% quando comparada à de 2014.
Sheila Loschi fornece rosas a clientes de Belo Horizonte, Juiz de Fora, Holambra, em São Paulo, e dos estados do Espírito Santo e Rio de Janeiro. A despeito da expansão da produção, a elevação dos preços dos combustíveis pressionou os rendimentos dos produtores em 2015. Em busca de maior faturamento, os floricultores tendem a agregar folhagens à produção de rosas. “Elas complementam o arranjo das flores, aumentando nosso faturamento e agregando mais valor ao produto final”, diz.
A dúzia de rosas diferenciadas custa de R$ 12 a R$ 15, ante a variação de R$ 8 a R$ 10 para a dúzia das flores sem o arranjo. O botão embalado para presente custa R$ 3,50 e os arranjos e buquês mais elaborados são vendidos entre R$ 70 e R$ 1 mil. Mario Raimundo de Melo produz rosas há 18 anos em Barbacena e na vizinha Alfredo Vasconcelos. Ele reclama dos efeitos da crise deste ano. “A demanda é sempre muito positiva devido a datas fortes para o comércio durante todo o ano (dias das mães, dos namorados, da secretária e de Finados), mas o câmbio e a alta dos preços da energia elétrica prejudicaram um pouco o produtor”, afirma.
Os custos de produção aumentaram até 20%, nas estimativas de Raimundo de Melo. “Como pagamos royalties sobre muitos tipos de rosas, o dólar no patamar dos R$ 4 prejudica. Além disso, defensivos agrícolas e matéria-prima importada encareceram muito”, observa o produtor, que, ainda assim, acredita em bons resultados para o setor no fechamento de 2015. Minas é o estado com a segunda maior área plantada e o quarto maior produtor de flores do Brasil. As microrregiões que se destacam na atividade são Barbacena, Andradas, Itapeva, Rio Casca, Teófilo Otoni, Manhuaçu e São João del-Rei.
Muito a crescer
O Brasil tem um grande potencial de crescimento na floricultura. Enquanto nos países europeus o consumo por habitante é estimado, em média, entre US$ 70 e US$ 100 per capita por ano, no país não passa de US$ 11 per capita, devido à falta de hábito de consumo, de acordo com a Faemg. As rosas são as flores mais consumidas no Brasil e no mundo. Estima-se que em 2014 foram oferecidas 320 milhões de hastes no mercado nacional. A produção girou R$ 496 milhões, cifra que representou crescimento de 10% sobre o valor movimentado no ano anterior. A expectativa para 2016 é de maior crescimento, com volume ofertado de 550 milhões de hastes.
Estado de Minas