Campo Grande (MS) – De baixo da copa de fícus, uma árvore com vasta sombra, uma sala de aula foi montada para o “Dia de Campo da Pecuária Leiteira”, na Estância Santa Helena para colaboradores da Agraer (Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural). Com diversas cadeiras dispersas no quintal de chão batido foram acomodados cerca de 50 profissionais que prestam serviço de Ater – Assistência Técnica e Extensão Rural.
Situado na zona rural de Campo Grande, o médico veterinário da Agraer, Arnaldo Santiago Filho, explica a escolha da estância para o dia de campo realizado na última quinta-feira (15). “Apesar de ser uma propriedade que trabalha com a venda de animais, aqui, pai e filho lidam com a silagem e têm um rebanho que tem boa ordenha de animais. Apesar do leite não ser o grande foco do proprietário Fernando Motta”.
De acordo com Arnaldo, cada animal tem um rendimento de no mínimo 10 litros de leite/dia. “Eles trabalham com animais com potencial leiteiro de até 30 litros. Porém, o foco aqui é a revenda de animais. Mas, escolhemos a propriedade devido a uma parceria que já temos aqui e, também, porque para a venda de vacas de bom potencial leiteiro é preciso de manutenções, a começar pela alimentação. Aqui, encontramos bom manejo do pasto e um ótimo trabalho com silagem. Tudo que pode ser replicado ou adaptado em pequenas propriedades”.
Com a colaboração do tempo, um céu limpo e um vento agradável, sob a sombra da frondosa árvore, os servidores da Agraer (técnicos agrícolas e agropecuários, médicos veterinários, zootecnistas e engenheiros agrônomos) assistiram três palestras: história da estância, silagem de sorgo e crédito fundiário. Esta última ministrada pelo colaborador do Banco do Brasil, Haroldo Cortez.
“Começamos o nosso trabalho há 25 anos no estado de São Paulo. De lá pra cá, já trabalhamos com soja, milho, aviário e leite. A necessidade de incremento de renda nos levou a trabalhar com o leite e, há alguns anos nos instalamos em Mato Grosso do Sul”, rememorou em poucas palavras o produtor Fernando Motta.
Médico veterinário de formação e produtor por vocação, Motta explicou ao público os percalços até chegar ao sucesso que a estância se encontra. “O grande desafio para a produtividade dos animais é colher o capim na hora certa. Saber escolher o capim certo e ter um trabalho com silagem também ajuda muito. No nosso caso, tivemos boa experiência com a silagem de sorgo e mantemos. A silagem do milho também é boa para o rebanho, mas o sorgo se adaptou melhor ao clima da região”, contou.
A competência da família vem dando tão certo que Fernando e o pai, Nelson Motta, fixaram residência na região há oito anos e em menos de uma década já são referência em venda de gado leiteiro no Mato Grosso do Sul. “Já comercializamos cerca de 15 mil animais nos últimos seis anos. Em 2016, foram 3.500 animais. A partir daí é só fazer a conta: cada produtor compra cerca de 5 animais, isso dividido nos mostra uma clientela de 700 produtores. Tudo conquistado com muita dedicação e amor”, garantiu.
“É uma empresa de médio porte com uma matemática pesada. Todos os dias são carregados dois caminhões com animais. Atendemos dois produtores por dia, essa é a nossa média. Um número aparentemente baixo, mas, não é. Tiramos uma parte do dia para sentar com o produtor e saber se o que ele quer condiz com a sua real necessidade. Precisamos conhecer a realidade dele para oferecer um animal com bom custo/benefício. Há um trabalho de assessoria, não é apenas a mera intenção de venda”, afirmou Fernando.
Todo esse cuidado tem semelhança com a missão da equipe de Ater da Agraer, conforme observou o diretor-presidente Enelvo Felini. “Nossos técnicos já fazem um trabalho de acompanhamento com os produtores. Contudo, é sempre bom acompanhar bons trabalhos e ver o que vem dando certo pelo Estado. Aqui, se vê que tem muito conhecimento e essa troca de saberes é fundamental para que os nossos servidores levem mais conhecimento aos pequenos produtores. As famílias agrícolas não podem viver só da subsistência. Elas precisam ter renda, ganhar dinheiro”.
Após as duas primeiras palestras, silagem e trajetória da estância, foi a vez do assessor Haroldo Cortes, do Banco do Brasil, abordar a questão das linhas do Pronaf (Programa Nacional da Agricultura Familiar) para a pecuária leiteira. “58% do leite produzido no País vêm da agricultura familiar, 70% do feijão e 80% das leguminosas também. A agricultura familiar é um segmento muito importante e os índices não nos deixam mentir. Precisamos ter um trabalho alinhado para que até o final do Plano Safra 2016/17 tenha uma boa circulação de recursos pelo Pronaf”.
Após as palestras, o grupo ainda andou pelas áreas de pastagem e de produção de silagem de sorgo.
Plano Safra – No último ano, foram liberados R$ R$ 241 milhões para a agricultura familiar de Mato Grosso do Sul. O valor está incluso dentro do montante de R$ 5,19 bilhões do Plano Safra 2016/17 direcionado ao Estado. Todo o recurso é 17,4% maior que o verificado na safra passada, encerrada em 30 de junho de 2016. Dos R$ 4.947 bilhões restantes do pacote, R$ 627 milhões foram direcionados aos médios produtores e R$ 4,32 bilhões à agricultura empresarial.
Texto: Aline Lira
Fotos: Néia Maceno