Cerca de 30 pessoas, entre engenheiros agrônomos, pesquisadores e estudantes participaram do evento
Questionar, pesquisar, inovar e buscar soluções que contribuam com a sustentabilidade dos solos nas lavouras foi a mensagem central do 2º Ciclo de Palestras Agronômicas, realizado na terça-feira, 15 de dezembro, na Embrapa Agropecuária Oeste. Cerca de 30 pessoas, entre engenheiros agrônomos e estudantes de agronomia participaram do evento, durante toda a manhã.
Durante o evento, realizado pelo Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea-MS), por meio da Câmara Especializada de Agronomia e a Embrapa Agropecuária Oeste, os participantes tiveram a oportunidade de obter informações diversificadas sobre a área de solos por meio de palestras e mesa redonda.
O Chefe Geral da Embrapa Agropecuária Oeste, Guilherme Lafourcade Asmus, parabenizou a iniciativa de reunir agrônomos com o objetivo de valorizar os conhecimentos sobre solos, em suas diversas dimensões. O coordenador da Câmara Especializada de Agronomia do CREA-MS, Sinval Vicenzi e o Diretor Administrativo da Mutua/MS, Hamilton Rondon Flandoli também deram as boas vindas aos participantes.
O solo e o agrônomo – O professor e vice-reitor da UEMS, Laércio Alves de Carvalho, em sua palestra, intitulada ‘O Engenheiro Agrônomo e o exercício da profissão na área de solos’, falou dos desafios enfrentados pelos novos profissionais que hoje demandam por capacitação constante como forma de apresentar respostas as demandas da sociedade e exemplificou “atualmente, devido a degradação dos solos na área urbana, alguns profissionais da área de engenharia ambiental têm buscado apoio dos engenheiros agrônomos para ajudar a estabelecer estratégias de manejo que possibilitem a recuperação desses solos”.
“De uma forma geral, a química e a física dos solos demandam por profissionais capacitados e que possam oferecer respostas ao setor produtivo, por meio de pesquisas e uso de tecnologias. Essas soluções envolvem redução de custos e ganho de produtividade, aliado a recuperação de áreas degradadas e devem estabelecer ainda indicadores de qualidade ambiental o que torna os desafios dos engenheiros agrônomos ainda mais amplo”, disse Laércio.
Uso de inoculantes microbianos – O pesquisador da Embrapa Agropecuária Oeste, Fábio Martins Mercante, falou sobre ‘O uso potencial de inoculantes microbioanos na agricultura brasileira’. Segundo ele, numa média de dez safras de soja, o uso de inoculante aplicado a cada ano proporcionou um ganho de produtividade em torno de 9%, no Mato Grosso do Sul. Em sua palestra, ele esclareceu conceitos e usos de bactérias fixadoras e associativas, que contribuem com o fornecimento de nitrogênio e promoção do crescimento das plantas em cultivos agrícolas.
“No Brasil quase 30 milhões de doses de inoculantes são comercializadas por ano, sendo 90% somente nas lavouras de soja”, disse. Segundo Fábio, o potencial de uso de inoculantes nas lavouras brasileiras é muito maior e poderia ser mais bem aproveitado, pois existem mais de 150 estirpes de bactérias autorizadas para quase 100 leguminosas e outras não-leguminosas incluindo: feijão, amendoim, caupi, milho, trigo, arroz, entre inúmeras outras.
Outro assunto foi a compatibilidade entre a inoculação e uso de fungicida em sementes de soja. “Geralmente, a bactéria presente no inoculante não sobrevive quando o produto é aplicado na mistura com o fungicida, conhecida popularmente conhecida como “sopão”, por isso, sempre que for usar o fungicida, é preciso deixar para aplicar o inoculante na etapa posterior (após o tratamento com o fungicida)”, explicou Fábio.
Agrotóxicos – Em sua fala, por sua vez, o pesquisador da Embrapa Agropecuária Oeste, Rômulo Penna Scorza Júnior, explicou alguns conceitos relacionados ao comportamento ambiental de agrotóxicos. Ele esclareceu alguns critérios que precisam ser considerados nas pesquisas de impactos do uso dos agrotóxicos, como forma de contribuir com a sustentabilidade e que norteiam os trabalhos que ele desenvolve na Unidade. Em sua palestra ele explicou de que forma pode ocorrer transporte dos agrotóxicos das lavouras para as águas superficiais ou para o lençol freático.
Segundo ele, existem três tipos de transporte predominante de agrotóxicos. Um deles é o escoamento superficial, ou seja, transporte dos agrotóxicos juntamente com a água da enxurrada e sedimentos. “Nesse aspecto, o plantio direto é uma das práticas de manejo que minimizam a formação de enxurradas e contribuem com a redução desse tipo de transporte”, explicou ele.
O outro é a volatilização, que transporta de fase liquida para a fase gasosa, saindo do solo ou planta para atmosfera, porém poucos agrotóxicos são voláteis. Segundo Rômulo, pesquisas sobre a possível contaminação da água das chuvas poderiam ou não indicar a presença de resíduos de agrotóxicos. Finalmente, o processo de transporte pode ocorrer por meio da lixiviação, ou seja, quando a água que filtra no solo, chega ao lençol freático. Mas, as pesquisas tem revelado que esse é um tipo de transporte pouco frequente nos caso dos agrotóxicos pesquisados em nossa região.
O comportamento dos agrotóxicos no solo varia de acordo com alguns fatores: 1) estrutura química e propriedade dos compostos; 2) características físicas, químicas e biológicas do solo e 3) condições ambientais (clima). Outros aspectos pesquisados são tempo de permanência dos agrotóxicos no solo, que varia muito de acordo com o tipo de agrotóxico e coeficiente de adsorção à fase sólida do solo (Kd). Segundo ele, os agrotóxicos com valores baixos de Kd são mais fáceis de serem lixiviados e os agrotóxicos com Kd superiores tendem a se fixarem mais ao solo e, geralmente, são transportados via escoamento superficial.
Outra importante informação se refere ao processo de degradação de agrotóxicos em sistemas integrados de produção, que em geral, apresentam aumento da atividade microbiana no solo ao longo do tempo. Os resultados das pesquisas demonstram que o uso dos sistemas integrados de produção reduziu a persistência dos agrotóxicos no solo quando comparados com o sistema convencional.
“Hoje, temos mais de 300 ativos de agrotóxicos no mercado, interagindo com diferentes tipos de solos, variações climáticas, aliado ao elevado custo da pesquisa e o elevado tempo investido na instalação de experimentos e validação de metodologias que não possibilitaram resultados eficientes. Por isso, acredito na modelagem matemática e simulação do comportamento dos agrotóxicos, onde equações e informações de princípios ativos e dados climáticos estão reunidas, associadas aos modelos de comportamento dos agrotóxicos. Esse é o objetivo do Acha, sigla de Avaliação da Contaminação Hídrica por Agrotóxico, programa computacional que simula o comportamento ambiental de moléculas de agrotóxicos em cenários agrícolas brasileiros, com baixo custo, mais agilidade na avaliação dos resultados”, disse ele.
Evento – O engenheiro agrônomo graduado há 43 anos e que atua na Secretaria de Agricultura Familiar de Dourados, José Joaquim de Souza, participou do evento e parabenizou a iniciativa e disse “na agronomia é fundamental que o agrônomo aprofunde seus conhecimentos em solo, pois ele é um dos principais recursos para se produzir. A parceria entre a Embrapa e o CREA-MS, fez a diferença e possibilitou uma reciclagem em pouco tempo de conversa. Foi muito interessante essa abordagem, que falou de degradação biológica e química e não ficou apenas num olhar de degradação física”, completou Joaquim.
“Foi uma oportunidade de recapitular o que está acontecendo na prática de trabalho cotidiana dos engenheiros agrônomos, tanto para os agrônomos que estão trabalhando nas lavouras quanto para aqueles que estão trabalhando no comércio de insumos, entre outros. A preocupação da sociedade com a conservação do solo é o que nos estamos precisando. Os dados técnicos e consistentes que tivemos acesso hoje são algumas das informações que fazem diferença para nós”, enfatizou o engenheiro agrônomo formado há 24 anos e que trabalha no mercado de comercialização de máquinas agrícolas, Raul Campos.
Christiane Congro Comas (Mtb-SC 00825/9 JP)
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