Gustavo Aguiar, zootecnista, consultor de mercado da Scot Consultoria, concedeu entrevista ao programa Terraviva DBO na TV, no canal Terraviva, com coordenação do jornalista Sidnei Maschio.
Confira a entrevista na íntegra:
Sidnei Maschio: Gustavo, o preço do boi gordo andou tropicando e cambeteando nos últimos dias em algumas das principais regiões de pecuária do país. Qual é o motivo desse enfraquecimento da cotação, e o que é que a gente pode esperar do mercado agora em dezembro?
Gustavo Aguiar: Aparentemente, os frigoríficos conseguiram avançar razoavelmente com as escalas de abate. Isso, somado, aos estoques de carne mais volumoso, em função do escoamento em ritmo lento, vem proporcionando um ambiente de preços menos firmes.
Sidnei Maschio: Normalmente novembro e dezembro são os meses de melhor consumo de carne no ano, mas agora a situação tá encrencada por causa da complicação na economia brasileira, né. Será que isso ainda pode mudar neste restinho de dois mil e quinze?
Gustavo Aguiar: A situação em 2015 realmente não foi boa para a economia. Acredito que o padrão de consumo da população já tenha se “ajustado” a este cenário econômico adverso.
O fim de ano normalmente aquece as vendas, mas devemos ter um efeito de sazonalidade mais contido este ano.
A vantagem é que a produção (abates) encurtou este ano. Porém, já começam a aparecer os primeiros sinais de recuperação com a proximidade da safra. Isto pode dar uma desequilibrada na balança da oferta e demanda em curto prazo.
Sidnei Maschio: Mudando o rumo da prosa, Gustavo, nas contas que vocês fizeram até agora aí na Scot, o que foi que aconteceu com os preços do boi gordo e do bezerro nos últimos doze meses?
Gustavo Aguiar: O bezerro desmamado (6@) em São Paulo, cotado em R$1.340,00 por cabeça no início de dezembro, teve alta de 17,5% em doze meses.
Já o boi gordo, cotado em R$148,00/@, à vista, na região de Araçatuba-SP na primeira semana de dezembro, subiu 6,5% nos últimos doze meses.
Resumindo, na comparação em relação ao mesmo período do ano passado, o bezerro ainda mantém uma alta superior à inflação. O boi, com demonstrações de dificuldade em superar a barreira dos R$150,00/@ em São Paulo, não.
Sidnei Maschio: Neste mesmo período considerado, qual foi o comportamento do custo de produção da pecuária em geral?
Gustavo Aguiar: O custo de produção vem apresentando altas consecutivas, com maior força no segundo semestre.
Segundo o Índice Scot Consultoria de Custo de Produção da Pecuária, o custo da atividade de corte, de novembro/14 a novembro/15, subiu 16,0%.
Em suma, os custos vêm encurtamento as margens dos pecuaristas nos últimos meses. Ano que vem deve se iniciar com uma situação menos favorável em termos de margem.
Sidnei Maschio: Esticando a vista um pouco mais pra longe e analisando o período de dois mil e quatorze pra cá, esses números melhoram ou pioram, e qual é o significado disso pro pecuarista?
Gustavo Aguiar: Aí a conta melhora. Alta de 35,2% para o boi nos últimos dois anos, versus aumento de 25,5% para o Índice Scot de Custo de Produção.
Os últimos três anos foram de margens historicamente elevadas, situação que já dá indícios de mudança.
Sidnei Maschio: Com este aperto na relação de troca e o aumento no custo de produção, o que é que o invernista vai ter de fazer pra não perder dinheiro na hora em que este bezerro estiver engordado e pronto pra ser apresentado ao mercado?
Gustavo Aguiar: Não tem milagre. Priorizar um giro rápido para não perder o tempo do mercado do boi e dedicar atenção especial ao planejamento da engorda, de olho nos custos.
Sidnei Maschio: E se a gente olhar essa situação pelo lado do pecuarista de cria, dá pra dizer que o produtor de bezerros tá com a lida resolvida e com a vida ganha?
Gustavo Aguiar: A situação melhorou, e bastante. É hora de acertar a casa e investir em eficiência. Do mesmo jeito que períodos bons de mercado vêm, eles vão. No fim das contas não é o preço, simplesmente, que determina o sucesso da pecuária. Na cria não é diferente, produtividade é essencial.
Scot Cosultoria