“A ministra Kátia Abreu (da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) informou, recentemente, que a área protegida chegaria a 20 milhões de hectares em 2016. Mas a alocação de recursos tem sido um fator de incerteza no que diz respeito à situação orçamentária”, avalia o diretor da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA) Fernando Pimentel.
De qualquer forma, ele afirma que ao menos, em 2015, o Ministério da Agricultura buscou normalizar a situação do seguro “e lançar alterações que ainda tem que ser avaliadas”. “Isto mostra a boa vontade em melhorar.” Mas por causa da crise financeira no Brasil, acredita que “as metas de custeio e investimento previstos no Plano Pecuário e Agrícola (PAP) 2015/16 não serão alcançadas de fato”.
INADIMPLÊNCIA
Pimentel também analisa o que, em sua opinião, melhorou e piorou na concessão de crédito ao produtor rural (pequeno, médio e grande) no ano que se encerrou.
“Para qualquer perfil de produtor os bancos, em 2015, foram mais exigentes, porém nos maiores, em alguns casos, foram pedidas garantias reais (hipoteca) e comprovação de venda antecipada (produtores de soja). Tem muito produtor que não conseguiu renovar suas linhas de crédito junto aos bancos e ficaram inadimplentes com distribuidores de insumos e cooperativas”, alerta o diretor da SNA.
Questionado sobre quais gargalos continuam prejudicando o produtor rural no que diz respeito ao dinheiro disponível para aplicar no campo e fazer novos investimentos, Pimentel destaca que as tradings e agroindústria já estão sentindo uma maior demanda de crédito, como ocorreu em 2008, e como era comum na década de 1990.
“É uma situação que ocorre quando o sistema financeiro não cobre toda a demanda dos produtores, que recorrem aos fornecedores de insumos (venda a prazo) e às tradings e agroindústria (compra com pré-pagamento) para cobrir seu custeio de safra. Isto é um procedimento muito comum no Brasil, mas não ocorre nos Estados Unidos nem na Europa, onde os sistemas financeiros são absolutos no financiamento das safras.”
De acordo com Pimentel, “aqui, para os produtores de grande porte, a capitação de recursos para custeio é uma verdadeira colcha de retalhos, que inclui financiamento em USD (moeda norte-americana – dólar). Em 2016, para os grandes, esta capitação tende a ser mais complexa e desafiadora”.
EXPECTATIVA PARA 2016
Por causa dos momentos difíceis da economia brasileira no ano passado, Pimentel acredita que o produtor, na maioria das culturas e regiões, está mais conservador em assumir mais endividamento.
“As incertezas políticas e econômicas, associadas aos aumentos de taxas e redução da oferta de crédito para investimento, afastaram a demanda. As margens mais apertadas no campo, motivadas pelo aumento do custo e a queda dos preços em dólar das principais commodities também contribuem para essa redução no investimento.”
Para o diretor da SNA, a agricultura deve passar por situações delicadas em 2016, porém em menor grau em relação a outros setores econômicos do País.
“A crise vai atingir a agricultura na questão do crédito rural, principalmente. Por outro lado, muitos agricultores tiveram uma compensação pela alta dos custos, pela elevação dos valores da sua produção em Real. Apesar de outros setores da economia ter sido bem mais afetados pela crise, o agronegócio sofre com a alta volatilidade que não contribui, em nada, para o planejamento e sustentabilidade dos produtores e empresas.”
Na visão de Pimentel, “o ano de 2016 será mais desafiador, considerando ainda o padrão climático El Niño, que cria mais incerteza no campo”. “Diante do quadro geral, nós, os profissionais do agronegócio, temos de erguer as mãos para o céu, porque nossa atividade segue essencial para o mercado global e para o Brasil. Seguimos tendo demanda e liquidez na produção e herdando benefícios cambiais em muitas culturas, o que melhora nossa competitividade internacional.”
Por equipe SNA/RJ