Com a adoção de técnicas simples, utilizando a mesma área e sem grandes investimentos, o agricultor do Amazonas pode aumentar a produtividade da mandioca e os seus lucros. As formas para alcançar bons resultados na mandiocultura foram apresentadas durante o Dia de Campo Desempenho Produtivo de Cultivares Regionais de Mandioca, realizado na quinta-feira da semana passada (27/08), no município de Manaquiri, interior do Amazonas.
Durante o evento, o analista e o pesquisador da Embrapa Amazônia Ocidental, Raimundo Rocha e Inocencio de Oliveira, respectivamente, apresentaram números de experimentos realizados em Manaquiri e Careiro, com uso da tecnologia trio da produtividade, correção da acidez do solo e adubação. O resultado foi um rendimento médio de 27,45 toneladas de mandioca por hectare, quase três vezes superior à produtividade média no município de Manaquiri, que é de 10,61 toneladas por hectare.
Um dos diferenciais do trabalho foi o uso de variedades locais de mandioca. “A equipe da Embrapa percorreu comunidades de Manaquiri e Careiro fazendo uma avaliação sobre as variedades que eram plantadas na região. Consideramos os conhecimentos que os agricultores tinham sobre a planta e selecionamos os cinco materiais mais representativos. Depois, nada mais fizemos do que inserir tecnologia para trabalhar com essas variedades. Quando usamos o material que a comunidade já conhece, temos condições de fazer com que o agricultor se aproprie com maior facilidade das tecnologias”, disse Rocha, que coordena o projeto Manareiro, por meio do qual foram realizados as avaliações e o Dia de Campo.
Além da importância de corrigir a acidez do solo com a aplicação de calcário e de fazer a adubação, o trio da produtividade foi bastante destacado por Rocha e Oliveira, já que interfere positivamente no rendimento da mandioca e não depende de investimentos financeiros por parte do agricultor. A tecnologia consiste na seleção de manivas-sementes de qualidade e corte em ângulo de 90º, espaçamento de plantio adequado e controle de plantas daninhas nos primeiros 150 dias pós-plantio.
“Quando falamos em tecnologia as pessoas pensam que é algo caro ou difícil. Na verdade, nesse caso, tecnologia nada mais é do que boa seleção de maniva-semente, espaçamento adequado e controle do mato. Somado a isso tem a correção da acidez solo e a adubação. Usando isso você sai de seis, sete toneladas por hectare, como vimos pelas comunidades, e pula para 20, 25, 30 toneladas de mandioca por hectare. Não é difícil, é só o caso de termos mais critério no momento do plantio”, ressaltou Rocha.
O trio da produtividade foi lançado pela Embrapa Amazônia Oriental (Belém-PA) e vem sendo adotado em diversos municípios paraenses, ajudando a incrementar a produção de mandioca naquele estado. “De nada adianta o agricultor investir em calcário, adubos e mão de obra, se ele não considerar alguns aspectos importantes, que são feitos com custo praticamente nulo. Essas técnicas que formam o trio da produtividade podem ser realizadas por qualquer agricultor, pequeno, médio e grande, independentemente do tamanho da área, e comprovadamente melhoram a produtividade da mandioca. O agricultor não tira dinheiro do bolso para escolher o tamanho e o diâmetro da maniva, para fazer o corte com ângulo de 90º, adequar o espaçamento”, destacou Oliveira.
Conforme o pesquisador, a escolha da maniva-semente deve atender a alguns critérios, como tamanho de 15 a 20 cm, diâmetro de 2 a 3 cm, não deve ser lenhosa e tem de ser sadia, livre de pragas e doenças. Quanto ao espaçamento de plantio, deve ser de um metro por um metro, o que totaliza uma população de 10 mil plantas por hectare. “O espaçamento ajuda inclusive no próximo passo, que é o controle de plantas daninhas. Quando você planta de forma aleatória, às vezes uma planta fica muito perto da outra, e acontece competição entre elas. Por outro lado, às vezes as plantas ficam muito afastadas, e nesses espaços nasce mais mato e a mandioca é muito sensível a essa competição com plantas daninhas”, ressaltou Oliveira.
Durante o Dia de Campo ainda aconteceu uma demonstração de como plantar a mandioca de forma mecanizada e um explanação do pesquisador da Embrapa, Miguel Dias, que falou sobre colheita, doenças e processamento da mandioca, entre outros assuntos.
Distribuição de manivas-sementes
Um dos momentos mais esperados pelos agricultores participantes do evento era a entrega das manivas-sementes das variedades regionais de mandioca. A distribuição dos materiais faz parte da estratégia do projeto Manareiro e poderá ajudar a alavancar a produção de mandioca e reverter o quadro atual, em que o Amazonas importa farinha e fécula de outros estados do País.
O agricultor Aldenei Lima foi o primeiro a receber o material e se disse estimulado a expandir sua produção. “A expectativa agora é plantar mais mandioca e ter uma boa produção com essas manivas já selecionadas. Aprendemos bastante hoje aqui, como essa questão do corte da maniva e espaçamento, que é novidade para nós. Agora é voltar para casa e plantar, ampliar o negócio para quem sabe um dia até vender para Manaus”, disse.
Falas
O gerente do Idam de Manaquiri, Paulo Soares, destacou que dois pontos do recém-lançado Plano Safra do Amazonas – o apoio à mecanização e à aquisição de calcário – devem ajudar bastante os produtores de mandioca do município. “O Idam irá operacionalizar esse trabalho e temos a certeza que será uma grande ajuda para os agricultores de Manaquiri e de todo o Amazonas”, destacou.
O coordenador de culturas industriais da Sepror, Alexandre de Araújo, também ressaltou a amplitude do Plano Safra. “É um plano de grande magnitude, que sem dúvida vai ajudar a aumentar a produção e a qualidade das diversas culturas do Amazonas. Para a cultura da mandioca, por exemplo, temos a meta de trabalhar esse ano com 3,2 mil hectares de área mecanizada, com 85% dessa área sendo subsidiada pelo governo estadual, cabendo ao agricultor pagar apenas 15% do custo da mecanização”, destacou.
O chefe-adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Amazônia Ocidental, Celso Paulo de Azevedo, chamou a atenção para a importância de haver uma mudança no modo de produzir. “Vocês podem produzir e produzir bem com esses materiais que vocês já conhecem. O que queremos chamar a atenção é sobre a importância de usar as tecnologias que estão à disposição. Para chegar à produtividade de 30 toneladas, como é possível, é preciso usar essas tecnologias”, disse.
Mandioca no Amazonas
No Amazonas, a mandioca é uma das culturas mais importantes para a alimentação humana. No entanto, a produção de farinha e de fécula de mandioca não atende à demanda do mercado consumidor. Além da população, as indústrias e montadoras de produtos eletroeletrônicos do Distrito Industrial da Zona Franca de Manaus demandam fécula. O estado importa hoje cerca de 94 mil toneladas (t) de fécula por ano do Paraná, das quais 82 mil t são para atender a demanda do Distrito Industrial.
No estado quase toda a produção de mandioca está voltada para a transformação em farinha, um dos alimentos básicos mais consumidos pelas populações regionais. A região Norte é a maior consumidora de farinha do País, com média de 33,8 kg anuais per capita, quatro vezes a média nacional, de 7,8 kg, destacando-se o Amazonas, com consumo médio de 43,4 kg anuais por habitante.
Promoção, apoio e patrocínio
O evento foi promovido pela Embrapa Amazônia Ocidental, Secretaria de Estado da Produção Rural (Sepror) e Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do Amazonas (Idam). O Dia de Campo Desempenho Produtivo de Cultivares Regionais de Mandioca contou com apoio da Unidade Local do Idam de Manaquiri, Unidade Local do Idam de Careiro, Secretaria de Produção Rural de Careiro e Secretaria de Produção Rural de Manaquiri, além do patrocínio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam).
Fonte: Embrapa