Falta de confiança dos produtores deve reduzir investimentos no setor
A crise econômica nacional vai interferir negativamente no agronegócio em 2016. As expectativas mais pessimistas também se devem às indefinições políticas e a previsão, ainda inicial, de que o clima não será tão favorável para a produção. A falta de confiança por parte dos produtores fará com que os investimentos, que em 2015 ficaram 47% menores, recuem ainda mais, o que no futuro poderá prejudicar o desenvolvimento da atividade em Minas Gerais. O cenário foi traçado pela Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), em evento realizado na sexta-feira.
“2016 caminha para ser um ano difícil para o setor e se mantivermos os resultados próximos aos de 2015 já será um grande feito. Não sabemos avaliar os rumos da política nacional e quando esta crise será solucionada e, isso, impacta nas decisões voltada para o setor. Por isso, nossa recomendação é que o produtor se mantenha cauteloso e só invista no que for extremamente necessário”, orienta o presidente do Sistema Faemg, Roberto Simões.
Simões ressaltou que, na última semana, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), divulgou que os investimentos na agropecuária em 2015 recuaram 47% no País e a tendência é de manutenção da retração em 2016. “A queda também se aplica em Minas Gerais e esperamos novo recuo em 2016, já que não existe confiança por parte do produtor para investir. Com a queda nos investimentos, poderemos ter perdas futuras pelo comprometimento da capacidade produtiva”.
Se neste ano o real desvalorizado frente ao dólar foi favorável para garantir a rentabilidade de parte do setor e melhorar a competitividade nas exportações, por outro, impulsionou os custos de produção, inclusive para o plantio e os cuidados da nova safra de grãos e dos demais produtos. O incremento nos preços dos insumos ocorreu em um momento de dificuldades de acesso ao crédito e de cautela em relação aos rumos da economia brasileira.
“No próximo ano vamos sentir na pele a elevação dos custos de produção, que foram sentidos mais para o final de 2015, com o dólar alto. Para se ter ideia, o reajuste nos preços da energia chegaram a 60%, nos fertilizantes, defensivos e demais produtos importados os valores dobraram”, ressalta Simões.
Dirigente cita também reajustes na mão de obra e nos combustíveis, o que pressionou ainda mais os custos do setor. “Vamos produzir com custos elevados e comercializar em um mercado com a inflação em alta, a renda em baixa e o poder de compra da população brasileira menor. Vale lembrar que 80% do volume gerado pelo agronegócio é disponibilizado no mercado interno, por isso, o quadro não é favorável”.
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Resultados próximos aos obtidos no ano passado
Seguro – Outro fator que poderá prejudicar o agronegócio são as previsões de intensificação do El Niño, o que, se confirmado, provocará novas perdas produtivas. Além disso, os recursos disponibilizados para o seguro-safra são considerados insuficientes. “Consideramos absolutamente ridículo o orçamento de R$ 400 milhões do seguro rural, previsto para ser aplicado em 2016 em todo o País. Precisávamos de, pelo menos, R$ 1,2 bilhão para fazermos algo razoável pela atividade”, enfatiza Simões.
Ainda segundo Simões, a abertura de diversos mercados para os produtos oriundos do agronegócio brasileiro poderá contribuir para minimizar os efeitos da crise, mas os resultados não serão observados no curto prazo, uma vez que a competitividade brasileira é menor.
A falta de segurança no campo e o aumento da violência, roubos e assaltos também poderá afetar a atividade. Mesmo com as cobranças do setor junto ao governo do Estado para o reforço da segurança, segundo Simões, nada foi feito.
“Não é possível continuar da maneira que estamos. Os assaltos, roubos e agressões acontecem diariamente em todas as regiões produtoras do Estado, com intensidade violentíssima. E não há reação visível que ajude a melhorar a situação. Vivemos mais um fenômeno de produtores vendendo as propriedades porque o campo está à mercê da bandidagem. Já nos dirigimos diversas vezes às autoridades responsáveis e até o momento não obtivemos nenhuma medida para melhorar a situação, que é caótica”, lamenta Simões.
Diário do Comércio