Em trabalho conjunto com a Embrapa, empresa produtora de sementes de soja alcançou economia de US$ 33 no custo com agroquímicos/hectare
Diante de um talhão de soja que começa a apresentar sinais de desfolha, a atitude do produtor precisa ser racional. O que depende mais de paciência do que de alguma fórmula milagrosa. “Porque é natural, você não se acostuma da noite para o dia a ver uma lavoura com 30% de desfolha e só então entrar com a aplicação de produtos para controle de lagartas”, diz Paulo Emídio Soriano, engenheiro agrônomo da Sementes Adriana.
Há três anos, a empresa sediada em Alto Garças, MT, começou um projeto piloto com a Embrapa que vem mudando seu modo de encarar as populações de pragas na lavoura. “Da safra 2014/2015 para cá passamos a fazer um manejo menos agressivo, usar menos produtos de choque, e o resultado foi uma diminuição no número de pulverizações”, conta Soriano, o que teve efeito direto nos custos de produção.
De acordo com a Embrapa – que conduziu um estudo comparativo em alguns talhões levando em consideração o manejo padrão da empresa X o manejo a partir das suas recomendações – o resultado na primeira safra foi de uma economia média de US$ 33 por hectare. O número de produtos aplicados, por sua vez, também foi menor. Enquanto nas áreas comerciais a média foi de 9,5 produtos utilizados, nos locais manejados pela Embrapa a média foi de 5,75.
Segundo Soriano, foi possível observar ainda um aumento no número de inimigos naturais em consequência do manejo mais adequado. Nas áreas com menor quantidade de pulverizações ele relatou ser evidente a maior presença de insetos predadores das lagartas e percevejos, e de pragas mortas ou debilitadas devido ao ataque de fungos ou vírus. Assim, mesmo sem ter feito a introdução de ferramentas de controle biológico na lavoura, a empresa constatou a eficiência dos inimigos naturais.
Rumos mais sustentáveis – E se de 2013 para cá o projeto ganhou credibilidade e a área experimental teve um aumento, indo de 400 ha para 1.200 ha, o ganho foi muito maior considerando a mudança de mentalidade que se deu no sistema como um todo.
“Nossa área total é de 40 mil hectares e se hoje o manejo todo não é igual ao da Embrapa, pelo menos é muito parecido”, afirma Soriano.
No caso das lagartas, tanto na área experimental como na padrão se trabalha com o mesmo nível de infestação para verificar a necessidade de controle. Que no estágio reprodutivo seria 15% de desfolha, e no vegetativo 30%.
Já a precisão do monitoramento muda um pouco. “O pessoal da Embrapa recomenda fazer um ponto a cada 10 hectares, e hoje a gente está fazendo um a cada 20 ha”, diz Soriano, o que confere à técnica um menor grau de detalhe.
Outra diferença existe quanto ao controle do percevejo. “Como isso interfere diretamente no padrão de qualidade do nosso produto, a gente ainda tem um pouco de receio”, conta o engenheiro agrônomo.
E esse é justamente o próximo passo no sentido de avançar para ter um controle de pragas mais estratégico. “Queremos fazer um estudo mais detalhado nesta safra sobre o controle do percevejo, reunir as informações passadas pela Embrapa com a experiência do nosso setor de pesquisa interno”, completa Soriano.
Embora não revele de quanto foi a economia em números absolutos com o uso de inseticidas na última safra, ele afirma que foi de 13%/ha em relação ao manejo padrão, anteriormente adotado. Vantagem que é revertida tanto em benefícios para o bolso quanto para o meio-ambiente.