Os ganhos técnicos e econômicos que a tecnologia da intensificação da produção de carne por meio da correção e da adubação do solo da pastagem. Este é um dos objetivos da palestra que será ministrada pelo consultor e professor, Adilson de Paula Almeida Aguiar, durante o Confinar 2016 – um dos principais eventos sobre pecuária de corte do país. Em sua quinta edição serão abordados temas relacionados ao atual cenário econômico e as mais recentes tecnologias aplicadas à pecuária de corte, que acontecerá nos dias 31 de maio e 1º de junho no Centro de Convenções Rubens Gil de Camillo, promovido pela Beef Tec. Confira a entrevista:
Confinar – Em sua palestra, o senhor falará como a adubação de pastagens pode aumentar a margem de lucro da pecuária moderna. Poderia falar um pouco sobre o tema?
Adilson de Paula – Na introdução da minha palestra vou apresentar dados do mercado mundial e nacional de fertilizantes, quanto à sua produção, exportação, importação e utilização, e quais os desafios que a agropecuária mundial e nacional já enfrenta e enfrentará no futuro quanto ao uso de corretivos e fertilizantes. Mas a ênfase será dada particularmente à cultura pastagem. Ainda na introdução eu vou apresentar os ganhos técnicos e econômicos que a tecnologia da intensificação da produção de carne por meio da correção e da adubação do solo da pastagem traz.
Já no desenvolvimento da minha palestra primeiro eu vou apresentar as etapas de um programa de manejo da fertilidade do solo da pastagem por meio da sua correção e adubação; segundo, em cada uma das etapas do programa os principais procedimentos a serem executados, como executá-los e as suas “janelas” de execução, com base nas boas práticas de uso de fertilizantes (as BPUFs) que consistem na aplicação em campo dos 4 C: aplicação da fonte de nutriente Certa, na dose Certa, no local Certo e na época Certa. Vou também apresentar as principais fontes de corretivos e adubos, as novas tecnologias, as tendências e as perspectivas na área de correção e adubação de solos da pastagem.
Confinar – Percebemos que o produtor rural tem investido constantemente em novas tecnologias conceitos inovadores, na área de adubo de pastagem como isso é percebido?
Adilson de Paula – Quando se analisa o crescimento da adoção da tecnologia de correção e adubação do solo da pastagem (leia-se, pela pecuária) encontram-se alguns aparentes paradoxos. Por ocasião do ultimo Censo Agropecuário do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2005, publicado em 2006, foi levantado que naquele ano apenas 2,41% dos estabelecimentos pecuários adubaram pastagens, ou seja, muito pouco. Pergunta-se: será que desde então este cenário mudou? Parece que não, pois analisando os dados da Associação Nacional para Difusão de Adubos sobre o mercado de fertilizantes em 2014 (ANDA, 2015) observa-se que apenas 1,48% de todo o fertilizante comercializado naquele ano teve como destino as pastagens. Apenas cinco culturas agrícolas, soja, milho, cana, café e algodão consumiram 91% do total de fertilizantes comercializado.
Aqui está um primeiro paradoxo: a área cultivada com culturas agrícolas ocupa apenas 22% da área agricultável do país, mas consumiu 98,52% do total de fertilizantes comercializados em 2014, enquanto as pastagens ocupam 78% da área agricultável. Por outro lado quando se analisa os dados do ultimo Rally da Pecuária (AGROCONSULT, 2015) me parece haver outro paradoxo, pois segundo o relatório deste rally 54% dos entrevistados afirmaram corrigir:adubar suas pastagens e pelos cálculos ponderados 17,5% da área de pastagem era corrigida e adubada. Extrapolando estes resultados para a área de pastagens do país Lima Filho e Cunha (2015) estimaram que 8,79% do total de fertilizantes comercializados poderiam estar tendo seu destino às pastagens. De fato, fazendo uma retrospectiva a cada uma década entre o ano em que eu me ingressei no curso de Zootecnia, em 1986, em 1996 quando eu já estava trabalhando como professor, pesquisador e consultor, 2006 e agora em 2016, eu constato que cada vez mais há profissionais da consultoria fazendo e acompanhando projetos de intensificação da produção em pasto através da tecnologia de correção e adubação.
Outra constatação muito interessante é que quando eu comecei a estudar e a pesquisar esta área em 1988 até o inicio dos anos 2000, se pensava que a intensificação da produção animal em pasto seria uma realidade para os estados das regiões Sul, Sudeste, a parte sul da região Centro-Oeste e a parte leste da região Nordeste (no litoral desta região) e principalmente para sistemas de produção de leite, onde a área media das propriedades já era relativamente pequena e o preço médio da terra relativamente alto. Entretanto, atualmente eu acompanho projetos e sei de projetos acompanhados por colegas, de intensificação da produção animal em pasto em estados das regiões Norte e na parte norte da região Centro-Oeste. Este último aparente paradoxo pode ser explicado pela subestimação por falta de informação mais precisa quanto ao destino do fertilizante comercializado.
Confinar – Qual investimento inicial é preciso para a recuperação do pasto por intermédio da adubação e em quanto tempo esse montante é recuperado?
Adilson de Paula – O primeiro e o mais importante investimento a ser feito pelo pecuarista é contratar uma consultoria especializada em projetos de intensificação da produção em pasto. É esta consultoria que vai orientar todas as etapas do programa e vai ajudar o pecuarista a estabelecer as metas de produtividade possíveis para cada situação especifica, e por fim, irá elaborar um projeto de viabilidade técnica e econômica para que auxiliará o pecuarista a tomar as decisões finais. Já o investimento inicial vai depender dos seguintes fatores: a fertilidade do solo em questão, o potencial de produção de forragem naquele ambiente especifico dado pelas condições climáticas, as metas de produtividade possíveis naquele ambiente (capacidade de suporte, taxa de lotação, desempenho por animal, produtividade por hectare), dos preços de corretivos e adubos, dos preços de compra e de venda dos animais, da categoria de animal explorada (fêmea ou macho, macho inteiro ou castrado, suas idades e seus pesos) e do nível de suplementação que os animais receberão.
Um aspecto importante para ser destacado nestes projetos de intensificação é que os custos com a compra de animais pode representar entre R$ 5 (nos ciclos de baixa) a R$ 8 (nos ciclos de alta) para cada R$ 1 investido no programa de correção e adubação do solo da pastagem. Por isso se diz: o caro não é corrigir e adubar, mas sim comprar o excedente de animais para ajustar a taxa de lotação à capacidade de suporte da pastagem que é aumentada significativamente por meio da correção e adubação do seu solo.
Confinar – Qual orientação ao pecuarista que precisa otimizar o desempenho de sua propriedade no ganho de peso, em relação ao pasto?
Adilson de Paula – Ele precisa de um diagnóstico de um consultoria especializada que irá fazer um levantamento de todos os fatores que determinam o sucesso da produção animal em pasto, na seguinte sequencia: as espécies forrageiras implantadas, a implantação destas forrageiras, a infraestrutura da propriedade (formato, número e área dos piquetes, fontes de água e suas dimensões, cochos para suplementos e suas dimensões, sombreamento e suas dimensões, corredores de acesso para o rebanho, etc), manejo do pastejo (método de pastoreio e modalidade de taxa de lotação, alturas alvos de manejo para as diferentes forrageiras cultivadas na propriedade), controle de plantas invasoras e de insetos pragas, manejo dos animais (potencial genético dos animais, suplementação básica com minerais e suplementos múltiplos de baixo a médio consumo, sanidade, manejo em currais etc), e gestão do negocio em si (controle dos custos, das receitas e dos resultados; planejamentos de curto, médio e longo prazo etc). Até aqui eu classifico como “o programa básico”. Uma vez esta etapa estando em andamento ai chega o momento de se avaliar a viabilidade técnica e econômica da intensificação da produção através das tecnologias de correção, adubação e até mesmo irrigação do solo e da suplementação dos animais com maiores níveis de suplementos.
Com base nos preços e nos custos de 2015 a relação de beneficio:custo da intensificação da pastagem por meio da correção e adubação do seu solo variou entre R$ 1,81 a R$ 4,56 de lucro para cada R$ 1 gasto, para aumentos de produtividade de 6,4 (sem correção e sem adubação) para 11, 25 e 43 arrobas/ha/ano, respectivamente, ou seja, quanto maior foi o nível de intensificação maiores foram as relações.
Ana Brito