Vice-presidente da SNA, Hélio Sirmarco afirma que a armazenagem “é um fator primordial para o sucesso e a garantia da competitividade dos produtores”.
Diante da carência do número de armazéns, principalmente nas propriedades rurais, para estocar a crescente produção brasileira de grãos, uma iniciativa prática começa a contornar o problema: os chamados “condomínios de armazéns”. Tratam-se de espaços coletivos gerenciados por grupos formados pelos próprios agricultores.
O sistema surge como alternativa às cooperativas que recebem grãos para estocagem, mas que acabam por pressionar os produtores rurais, ao negociar e fixar preços à sua maneira, com retenção de pequena parcela da produção agrícola na entrega.
De acordo com a iniciativa, os produtores somam esforços para investir em uma infraestrutura de recepção e armazenagem de grãos, com a preocupação de manter os padrões de mercado. Geralmente, grande parte das obras é financiada por programas de créditos e bancos privados.
Para o vice-presidente da Sociedade Nacional de Agricultura Hélio Sirimarco, os condomínios são vantajosos “porque proporcionam aos produtores que individualmente não teriam condições de arcar com os custos de armazenagem do produto a oportunidade de fazê-lo, criando as condições para o gerenciamento da comercialização da produção”.
SOCIEDADE
Mas como funciona essa associação? Sirimarco explica que “os sócios tem um percentual de participação que é definido a partir da cota que cada um compra”. “Ela varia de acordo com o nível de produção e o tamanho da propriedade.”
Em relação às despesas, Sirimarco afirma que “a manutenção da infraestrutura é paga em cima de uma porcentagem mínima de cada condômino, por ocasião da entrada do produto”.
INICIATIVAS
Exemplos recentes de condomínios bem-sucedidos surgiram no Estado do Paraná.
O primeiro, criado há quase dez anos no município de Palotina, foi o Agro 5000, reunindo 14 agricultores. Atualmente, em mais uma fase de ampliação, sua capacidade de armazenamento deverá passar de 16 mil para 25 mil toneladas de grãos.
Também em Palotina, oito agricultores resolveram investir cerca de R$ 8 milhões (valor quase cem por cento financiado) na construção do Agroparaíso, que foi concluído em 2013 e tem a capacidade para armazenar mais de 20 mil toneladas de grãos.
O Paraná, o segundo maior produtor de soja do País, já desponta como um foco na criação de condomínios de armazéns.
DÉFICIT
Dados da Confederação Nacional da Agricultura apontam para a existência de um déficit de 30% entre a produção e a estocagem segundo as normas corretas. A falta de cuidado com a armazenagem pode acarretar sérias perdas à produção, tanto em relação a fatores físicos (ataque de insetos, fungos, etc.) como a fatores de qualidade (impurezas, microtoxinas, alteração da cor, entre outros).
De acordo com uma pesquisa realizada pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), as perdas e desperdícios de alimentos, de maneira geral, são de 54% na fase inicial da produção, manipulação, pós-colheita e armazenagem, e de 46% no processamento, distribuição e consumo.
DESCOMPASSO
Para o vice-presidente da SNA, atualmente, a armazenagem “é um fator primordial para o sucesso e a garantia da competitividade dos produtores”.
Apesar de reconhecer o crescimento dos investimentos no setor, Sirimarco sinaliza que “há um descompasso entre esse crescimento e a força de produção do agro, que acaba por afetar a logística do transporte de grãos, provocando, com isso, obstruções nas vias de escoamento, até mesmo nas áreas destinadas ao recebimento de mercadorias para estocagem”.
O Instituto de Economia Agrícola de São Paulo aponta como atuais entraves à infraestrutura de armazenagem o desnível entre oferta e demanda de grãos em anos de grandes safras; a inedequação do sistema de escoamento das safras; o aumento do número de mercadorias diferenciadas, como orgânicos e transgênicos, por exemplo, que demandam separação por células específicas; e a baixa capacidade de armazenamento nas propriedades rurais, que, segundo o IEA, não chega a 20%.
Por Equipe SNA/RJ