Em 2013, a Dra. Lucy Anthenill, coordenadora de execução de manuseio humanitário do Serviço de Inspeção e Segurança Alimentar dos EUA (FSIS, na sigla em inglês) apresentou, no Instituto Norte-americano da Carne, uma conferência sobre Cuidado e Manuseio Animal na cidade estadunidense de Kansas City, no estado do Missouri. Ela forneceu informações sobre os resultados da pesquisa do FSIS de determinação do número de plantas cárneas inspecionadas por órgãos federais dos Estados Unidos que tinham concebido e implementado uma abordagem sistemática e sólida, uma abordagem sistemática não sólida, ou uma abordagem não sistemática para o manuseio humanitário de gado. No decorrer de setembro de 2013, todas as 61 (100%) plantas de grande porte, 46% das plantas de pequeno porte (71/156) e 13% (72/554) das plantas de porte muito pequeno tinham concebido uma abordagem sistemática sólida. (Conferência de Cuidado e Manuseio Animal de 2013 do Instituto Norte-americano da Carne – “Ações Eventuais Graves de Aplicação”, Dra. Lucy Anthenill). A importância de se operar de acordo com uma abordagem sistemática robusta foi claramente demonstrada com base nos resultados de aplicação apresentados pela Dra. Anthenill. Quando ações regulatórias foram garantidas com base na Diretiva nº 6900,2 do FSIS, Alteração 2 – “Manuseio Humanitário e Abate de Gado” (site informativo sobre abate humanitário do FSIS [disponível apenas em inglês]), 13/23 (56,5%) das plantas com um programa sólido receberam um Aviso Prévio de Cumprimento (NOIE – sigla, em inglês, para Notice of Intended Enforcement), ao invés de uma suspensão da planta. Isso, comparado com suspensões de 18 das 20 (90%) plantas que operavam com uma abordagem sistemática não robusta e 29/29 (100%) de plantas suspensas sem qualquer abordagem sistemática. Se uma planta é suspensa devido a uma ação regulatória de manuseio humano, a produtividade do setor de abate para até que ações corretivas possam demonstrar que a situação grave foi resolvida e que estão sendo implementadas etapas para evitar uma recorrência.
Análise da Abordagem Sistemática do FSIS
A antiga Associação Nacional da Carne tinha uma tabela de recursos que destacava detalhes completos das regulamentações e recomendações associadas à concepção de uma Abordagem Sistemática Sólida. (Documento de Recurso da Associação Nacional da Carne – Manuseio Animal: uma Abordagem Sistemática).
Com uma abordagem sistemática, as instalações processadoras de carne focaram no tratamento do gado de forma expressiva, para minimizar a agitação, desconforto e lesões acidentais nos animais durante todo o tempo em que manusearam o gado, em associação com a etapa de pendura e abate.
Abatedouros podem:
1) realizar uma análise prévia para determinar quando os animais podem sofrer agitações, desconforto ou lesões;
2) projetar instalações e implementar técnicas para minimizar a possibilidade de agitações, desconforto ou lesões durante o descarregamento, pendura e abate;
3) avaliar periodicamente métodos de manuseio, incluindo insensibilização;
4) melhorar práticas e modificar instalações quando necessário.
Dado que a maioria das plantas de grande e pequeno porte já concebeu sua abordagem sistemática, os recursos no final deste artigo são um documento de PDF (disponível apenas em inglês) que pode ajudar processadores de pequeno porte a criar um documento por escrito para delinear procedimentos que descrevam suas instalações e técnicas de manuseio de gado. (Voogd Consulting, Inc., “Manuseio Humanitário: uma Abordagem Sistemática – Perguntas, 2016).
A incorporação de uma “abordagem sistemática sólida” não é exigida pelo FSIS; entretanto, se uma planta dispuser de uma “abordagem sistemática sólida para manuseio humanitário”, o FSIS levará isso em consideração se será necessário determinar como proceder nas circunstâncias envolvendo um incidente grave de tratamento desumano.
Benefícios de uma planta que utiliza uma “Abordagem Sistemática Sólida”
• com o gerenciamento do seu sistema, as chances de os encarregados de inspeção do programa notarem um descumprimento são bastante reduzidas!
• caso seja observado um descumprimento, a presença de uma abordagem sistemática sólida, por escrito, pode evitar a suspensão da planta;
• ao levar em conta possíveis descumprimentos e delinear ações corretivas, e equipe da planta ficará mais bem preparada para uma “anomalia” ou situação não grave de manuseio humanitário.
Análise da definição de situações graves pelo FSIS
As seguintes situações de manuseio humanitário seriam consideradas, pelo FSIS, como “graves”, resultando em ações regulatórias:
• fazer cortes em um animal consciente ou tirar sua pele;
• pancadas em excesso ou estímulo de animais por meio de bastão;
• arrastamento de um animal consciente;
• conduzir animais para fora de um caminhão ou sobre uma das rampas de descarga sem o fornecimento de instalações adequadas de descarregamento;
• operar equipamentos em animais conscientes;
• insensibilização de animais seguida de retomada de sua consciência;
• múltiplas tentativas, especialmente na ausência de medidas corretivas imediatas, de insensibilizar um animal versus o emprego de um único tiro ou golpe;
• desmembramento de um animal consciente;
• abandono de gado incapacitado exposto a condições climáticas adversas durante o aguardo de destinação;
• outros tipos de dor e sofrimento ocasionados intencionalmente a animais, incluindo situações nos caminhões.
Itens de uma abordagem sistemática
O emprego das Diretrizes de Manuseio Animal Recomendadas pelo Instituto Norte-americano da Carne e da Diretriz Fiscalizadora (site do Manuseio de Animais do Instituto Norte-americano da Carne – Diretrizes do Instituto Norte-americano da Carne e auditorias – disponível apenas em inglês: www.animalhandling.org) é útil para conceber sua abordagem sistemática; mas, as Diretrizes de Manuseio Humanitário do Instituto Norte-americano da Carne não são consideradas pelo FSIS um programa, por escrito, específico para plantas. A planta precisa produzir informações adicionais concernentes à especificidade de seu programa.
Cada planta deveria conceber um Programa Escrito singular e específico, que descreva:
• uma análise inicial da planta, identificando áreas nas quais o gado possa sofrer agitações, desconforto ou lesões acidentais enquanto é manuseado, com ligação com as etapas de insensibilização e abate;
• procedimentos implementados que estejam em conformidade;
• manutenção de registros para demonstrar que o programa foi implementado como descrito;
• registros para mostrar que o programa evitará possíveis descumprimentos;
• ações a serem postas em prática pelo estabelecimento quando este falhar na implementação de seu programa como descrito, ou no caso de falha de prevenção de descumprimento do programa.
O programa pode incluir diagramas ou plantas dos sistemas de manuseio animal(Apresentação de 2008 feita em parceria pelo Instituto Norte-americano da Carne, Jerry Karcsewski e Cargill na Conferência sobre Cuidado Animal e Manuseio, do Instituto Norte-americano da Carne, intitulada “Uma história de duas plantas”).
• área de recepção;
• currais de espera e passagens;
• curral de contenção e rampa de montagem;
• área de insensibilização;
• contentores;
• linha de sangria.
Também é bastante válido incluir:
• fluxogramas (análise de risco);
• avaliações escritas;
• imagens (antes e depois);
• minutas das reuniões de equipe;
• Procedimentos Operacionais Padrão Escritos.
Fatores que afetam o manuseio humanitário: problemas
A planta pode criar uma tabela para destacas as áreas nas quais os seguintes problemas de manuseio humanitário podem ocorrer:
• escorregamentos e quedas;
• hematomas e cortes;
• desconforto durante o transporte;
• facilidade de movimento.
A planta também pode detalhar as causas dos problemas de manuseio humanitário:
• iluminação;
• reflexos;
• luz solar/sombras;
• ruídos de maquinário;
• outros tipos de ruído;
• fluxo de ar/mal cheiro;
• problemas de insensibilidade.
O projeto das instalações e as práticas de manuseio devem abordar os Procedimentos Operacionais Padrão para manuseio de animais vivos:
• com o fornecimento de água e ração;
• por meio do oferecimento de amplo espaço nos currais (densidade de armazenamento);
• com procedimentos especiais para animais incapacitados ou jovens;
• por meio de procedimentos de insensibilização;
• com fiscalização constante e procedimentos.
O treinamento dos funcionários deve incluir os seguintes itens:
• treinamento inicial para manuseadores de animais e motoristas de caminhão antes de lidar com os animais;
• técnicas de treinamento;
• material de treinamento (vídeos, slides etc.);
• um teste para avaliar a compreensão por parte dos funcionários;
• análise visual (verificação) das práticas para garantir sua eficácia;
• reciclagem trimestral ou anual.
Implementação e avaliação em curso – o monitoramento e a documentação podem incluir:
• registros de treinamento, incluindo datas, testes e assinaturas;
• ordens de serviço e registros para ações corretivas caso sejam observadas deficiências no manuseio humanitário;
• registros de manutenção para insensibilizadores e outros equipamentos utilizados para manusear animais;
• auditorias internas de práticas de manuseio humanitário (seguir os formatos do Instituto Norte-americano de Ciência da Carne e da indústria, frequência de registros e pontos analisados);
• fiscalizações realizadas por terceiros ou auditorias corporativas de práticas de manuseio humanitário;
• sistema de vigilância por câmeras, incluindo análise de material transmitido ao vivo ou gravações;
• Controle Estatístico de Processos, ou trending (direcionamento) para analisar medidas e deficiências;
• nota: quando houver uma falha no sistema sólido, será mais provável devido à não tomada de iniciativas por parte da planta quando medidas ou direcionamentos indicarem deficiências;
• reavaliação do programa realizada pelo menos anualmente;
• um livro de registros funciona bem em plantas pequenas, detalhando resultados diários de insensibilização, ações tomadas para corrigir situações ou deficiências e resumo das análises, tais como insensibilizações corretas e observância de manuseio adequado.
Ações documentadas a serem tomadas e, na verdade, realizadas quando ocorrerem problemas:
• plano de gerenciamento de emergência para gado: levando-se em conta enchentes, tornados, falta de luz, incêndios ou quedas mecânicas etc.;
• documentação de ações corretivas para deficiências identificadas ao longo de atividades diárias e monitoramento;
• um Relatório de Ação Corretiva e de Bem-estar pode ser preenchido, seguindo-se o formato para uma anomalia de Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle ou Procedimentos Operacionais Padrão para fornecer orientação aos funcionários quando registrarem incidentes inesperados.
O relatório mais recente do FSIS de Informações de Orientações de Abate Humanitário revela que a maioria dos Avisos Prévios de Cumprimento e Suspensões ocorrem devido a insensibilizações fracassadas de gado bovino e suínos. (slides de cumprimento de Abate Humanitário do FSIS – 15/12/2015). Em decorrência disso, é benéfico para todas as plantas registrar a quantidade de insensibilizações corretas e o número de insensibilizações impróprias.
Detalhe as ações tomadas quando ocorrerem insensibilizações impróprias. Exemplos:
• animal estressado, ruído intermitente de serragem diminuído durante o carregamento dobox de insensibilização;
• box de insensibilização escorregadio, piso lavado com muita frequência;
• necessidade de uso de bastão de estímulo devido a debatedura dos animais, instalação de cortina na lateral do box para evitar que o animal veja o chão;
• animal maior e com cabeça mais pedada, uso de rifle de maior calibre;
• suíno mais pesado, aumento da voltagem do insensibilizador elétrico e período de insensibilização.
Resumindo, é benéfico para uma planta gerenciar seu programa de manuseio humanitário para o gado por meio de:
• utilização de uma abordagem sistemática sólida;
• diminuição da agitação dos animais, lesões;
• análise do design das instalações e manutenção para incorporar mudanças a fim de melhorar o manuseio;
• fornecimento e registro de treinamento de funcionários.
Referências
- Conferência de Cuidado e Manuseio Animal de 2013 do Instituto Norte-americano da Carne – “Ações Eventuais Notórias de Aplicação”, Dra. Lucy Anthenill.
- Site informativo sobre abate humanitário do FSIS http://www.fsis.usda.gov/wps/portal/fsis/topics/regulatory-compliance/humane-handling (disponível apenas em inglês).
- Relatório de Ação Corretiva e de Bem-estar
- Slides de cumprimento de Abate Humanitário do FSIS – 15/12/2015
- Documento de Recurso da Associação Nacional da Carne – Manuseio Animal: uma Abordagem Sistemática.
- Voogd Consulting, Inc., “Manuseio Humanitário: uma Abordagem Sistemática – Perguntas, 2016.
- Site do Manuseio de Animais do Instituto Norte-americano da Carne – Diretrizes do Instituto Norte-americano da Carne e auditorias – www.animalhandling.org (disponível apenas em inglês).
- Apresentação de 2008 feita em parceria pelo Instituto Norte-americano da Carne, Jerry Karcsewski e Cargill na Conferência sobre Cuidado Animal e Manuseio, do Instituto Norte-americano da Carne, intitulada “Uma história de duas plantas”
Outros recursos podem ser encontrados nestes sites:
Site da Dra. Temple Grandin
www.grandin.com – disponível apenas em inglês
Documento em PDF da empresa Voogd Consulting, Inc. (disponível apenas em inglês) para a criação de uma abordagem sistemática de manuseio humanitário de gado
http://www.voogdconsulting.com/images/NMA_Humane_Handling_Webinar_Handout.pdf – disponível apenas em inglês
Sobre a autora
Erika L. Voogd é presidente da Voogd Consulting, Inc., empresa localizada na cidade de West Chicago, estado de Illinois, EUA. Atualmente trabalha como consultora independente especializada em assessoria global para a Indústria Cárnea. Seu expertiseinclui “Bem-estar Animal”, “Segurança Alimentar”, “Análise de Riscos e Pontos Críticos de Controle”, “Garantia da Qualidade”, “Higiene Alimentar” e “Cumprimento das Regulamentações do Departamento de Agricultura dos EUA”. evoogd@voogdconsulting.com